Espaço de análise da actualidade desportiva, onde o comportamento, a emoção e a razão têm lugar privilegiado.
Uma visão diferente sobre o jogo, para que o jogo seja diferente.
A Liga Portuguesa entra agora numa fase importante e plena de momentos de interesse. A luta pelo título ganhou contornos diferentes dos que tinha no dobrar do ano: o Benfica perdeu pontos e permitiu a aproximação do FC Porto (que temporariamente já liderou), após vencer um Sporting CP que se atrasou ainda mais e dificilmente lutará pelo título: não que seja impossível recuperar nove ou dez pontos, porque apesar de difícil é possível, mas porque são em relação a dois adversários. Este ciclo de jogos com que 2017 se iniciou foi muito importante, não porque decida o campeão - ninguém é campeão em fevereiro - mas porque decide quem fica fora da corrida. Assim, se a conquista do título é uma "maratona", o FC Porto persegue o Benfica pisando-lhe os calcanhares, enquanto que o Sporting bateu no "muro".
Por agora, e com confronto direto apenas em abril, há atualmente dois focos de interesse na luta pelo título:
- o primeiro é a oscilante liderança provisória (FCP) ou reforçada (SLB) e o fator de pressão que isso representa para o adversário. Quem joga primeiro, vencendo, passa a pressão para o outro? Que impacto tem essa pressão no adversário direto? A pressão é diferente se o adversário direto joga primeiro e não vence?... e se vence?
- o segundo é o regresso da Liga dos Campeões para ambos, que desdobra questões esquecidas desde a Fase de Grupos, como a gestão das opções disponíveis no plantel, o desgaste dos jogadores mais utilizados e o impacto do resultado anterior na confiança para o jogo seguinte.
A pressão, ou melhor, como lidar com ela, torna-se nesta fase a questão central: porque ela estará sempre presente, jogando primeiro ou depois, tendo ganho ou tendo perdido, para o Campeonato ou para a Liga dos Campeões.
Gilbert Enoka, o treinador de competências mentais dos All Blacks, a Seleção de Rugby da Nova Zelândia, diz que "a pressão equivale a expectativa, escrutínio e consequência. Sob pressão, a nossa atenção ou é desviada ou está no bom caminho. Se for desviada, temos uma resposta emocional negativa e um comportamento que não ajuda em nada." Ou seja, manter o foco no que é controlável, não se dispersar com o que os outros vão fazer, se ganham ou perdem, se jogam antes ou depois. Isso vem a seguir, pós-vitória. Nunca antes! São vários os exemplos de quem dá como adquirida a sua vitória e espera uma escorregadela do adversário direto. Porém, tão preocupados com o resultado do adversário, esquecem-se do essencial e com a "atenção desviada", escorregam.
Há então dois fatores nucleares na resposta ao fator pressão:
- o primeiro é ganhar, confirmar expectativas, dar passos em frente; o segundo é como se ganha ou se perde, o impacto emocional do resultado na equipa, no treinador, nos media.
É possível ganhar e aumentar dúvidas, ou perder e, mesmo assim, gerar expectativa. Ganhar é a melhor forma que conheço de lidar com a pressão. A segunda é treinar com pressão.
Mas, a pressão treina-se? Não, treinam-se comportamentos, individuais e coletivos, para responder a momentos de pressão. Treinam-se comportamentos, respostas cognitivas e emocionais para evitar situações de desvio da atenção, de perda de foco no que é interno e controlável, no que é externo e requer adaptação, de deslumbramento e facilitismo ou de stress e trauma.
O treino nunca será jogo, mas quanto mais aproximado for, mais emoções acarreta. Melhores comportamentos estimula e comportamento gera comportamento. Comportamento gera resultado. Resultado gera comportamento. Individual e coletivo.