O fim da pequenez lusitana
Em 1960/61, o Benfica escrevia a sua primeira página gloriosa na Europa. Onze anos depois de vencer a Taça Latina, os encarnados tornavam-se o primeiro clube português a conquistar a Europa.
Até então, as presenças portuguesas na competição tinham ficado muito aquém do desejado. O
Sporting tinha conseguido apenas um empate em 1955-56, o
FC Porto tinha perdido ambos os jogos em 1956-57, em 1957-58 o
Benfica repetiu o pecúlio do
Sporting, em 1958-59 o
Sporting, com duas vitórias frente ao ADO da Holanda, fez história, mas na ronda seguinte perdeu os dois jogos com o Standard de Liége. Em 1959-60, o
FC Porto voltou à velha sina lusitana e perdeu os dois jogos... Os portugueses viviam resignados e felizes com as suas vitórias morais.
Nas cinco edições só tinha havido um vencedor: o Real de
Madrid de Puskás, Di Stéfano,
Kopa, Santamaria, Gento... Na Europa dizia-se que não haviam contendedores capazes de desafiar domínio do Real e muito menos no início da edição de 1960-61 havia qualquer expectativa relativamente à carreira dos encarnados.
Tudo começou na Escócia
Quando no dia 20 de Setembro o
Benfica venceu, em Edimburgo, os escoceses do Hearts por 1x2, abrindo, assim, caminho para a segunda eliminatória, poucos podiam imaginar o que viria pela frente. A verdade é que poucos teriam noção do significado de tal vitória. Olhando a imprensa nacional da época destaca-se o genuíno regozijo com que a primeira vitória de uma equipa portuguesa em solo britânico foi saudada. Talvez porque muitos não acreditassem que a carreira do
Benfica durasse muito mais...
Quinze dias depois, em Lisboa, uma nova vitória, agora por 3x0 que garantia a passagem à eliminatória seguinte e confirmava a boa imagem deixada na Escócia.
Na segunda eliminatória, uma vitória clara por 6x2 sobre o Újpesti Dózsa, no Estádio da
Luz, deixou o
Benfica perto de fazer história e chegar aos quartos-de-final da competição. Quinze dias depois, na Hungria, um golo de Santana logo aos 5 minutos descansou os lisboetas que mesmo permitindo a reviravolta dos magiares na segunda parte nunca perderam o controlo da eliminatória.
Nos
quartos, o
Benfica foi bafejado pela sorte. Um sorteio amigo colocou os dinamarqueses do AGF no seu caminho, quando havia em competição os campeões de
Espanha, Alemanha, Inglaterra, Checoslováquia e Áustria...
Na primeira mão, a jogar em casa, as águias venceram apenas por 3x1 quando tinham feito tudo para ir à Dinamarca com um resultado muito mais agradável e seguro.
Mas, na partida de volta, em Aarhus, nem a neve atemorizou os portugueses. Com uma exibição segura e cheia de classe, o
Benfica saiu da Dinamarca com um triunfo inequívoco (1x4) e o passaporte para as
meias onde calhou em sorte defrontar os austríacos do
Rapid de Viena.
A 26 de Abril
Coluna, Águas e Cavém marcaram os três golos que deixavam o
Benfica tão perto do sonho. Mas, antes da grande final de Berna, ainda havia a segunda mão em Viena duas semanas depois.
Foi um jogo duríssimo, com muita luta no relvado do Estádio do Pratter. Ambiente difícil e o
Benfica a aguentar a enorme pressão da equipa e dos adeptos austríacos. Quando Águas marcou o 0x1 aos 66 minutos, um silêncio sepulcral atravessou o mítico estádio vienense, mas quatro minutos depois o empate despertou a turba e a ameaça subiu de tom.
«Mosquitos por cordas» na bancada e a polícia, incapaz de segurar, os adeptos resolveu recuar. Os jogadores e dirigentes austríacos incitaram a multidão e temia-se o pior.
A dois minutos do fim, a invasão de campo torna impossível a continuação do jogo. O árbitro apita para o final e a fúria solta-se nas bancadas. Os desacatos alastram e a equipa do
Benfica e o árbitro veem-se obrigados a procurar refúgio nos balneários, cercados por uma multidão furiosa que tenta forçar a entrada. Após momentos de pânico, a polícia consegue retirar a custo a comitiva benfiquista do estádio.
No fim, alguns pequenos ferimentos e um grande susto, mas nada calava a alegria imensa de um empate que valia primeira final europeia.
A grande final de Berna
Chegado o grande dia, o favoritismo pendia para os catalães que tinham sido a primeira equipa a eliminar o
Real Madrid da Taça dos Campeões. Em Berna, na Suíça,
Barcelona e
Benfica, mais do que uma final europeia, jogavam o começo de um novo ciclo.
Os espanhóis entraram decididos a fazer valer o peso das suas estrelas: Czibor, Suárez, Kocsis, Kubala e companhia.
Quando Kocsis, após um cruzamento de Luis Suárez cabeceou para o fundo das redes de Costa Pereira, temeu-se o pior.
Mas o
Benfica não se desuniu e chegou ao empate aos 30 minutos, para dois minutos depois um autogolo de Ramallets dar a vantagem aos encarnados.
Na segunda parte, um fantástico remate com o pé direito de
Coluna bem do meio da rua valeu o 3-1 aos lisboetas.
Em
Barcelona ainda hoje não se esquecem da trajectória da bola no autogolo estranhíssimo ou as três caprichosas bolas que bateram nos postes e teimaram em não entrar na baliza de Costa Pereira.
Mas o
Benfica não tem culpa que nessa tarde em Berna os deuses da fortuna tenham tomado o seu lado. Mais tarde pagaria, dirão alguns, que pagou com juros altíssimos a sorte de principiante, acumulando azares que fazem lembrar aos adeptos benfiquistas uma famosa maldição...
Os espanhóis entraram decididos a fazer valer o peso das suas estrelas: Czibor, Suárez, Kocsis, Kubala e companhia. Quando Kocsis, após um cruzamento de Luis Suárez, cabeceou para o fundo das redes de Costa Pereira, temeu-se o pior.
Mas o clube lisboeta não se desuniu e chegou ao empate aos 30 minutos, sendo que, dois minutos depois, um autogolo de Ramallets deu a vantagem aos encarnados.
Na segunda parte, um fantástico remate com o pé direito de
Coluna, bem do meio da rua, valeu o 3x1 aos lisboetas. Até ao fim, o
Barcelona empurrou os encarnados para trás.
Em
Barcelona, ainda hoje ninguém esqueceu a estranha trajectória que a bola desenhou no autogolo de Ramallets ou as três caprichosas bolas que bateram nos postes e teimaram em não entrar na baliza de Costa Pereira. Uma maldição, um azar sem paralelo, segundo rezam as crónicas catalãs...
Mas as águias não têm culpa que nessa tarde em Berna os deuses da fortuna tenham tomado o seu lado e protegido a baliza de Costa Pereira. Há quem diga que depois da sorte, o
Benfica pagaria com juros altíssimos a sua sorte de principiante. Acumulando azar atrás de azar nas finais europeias, desde o jogo com o
Milan em 1963 até ao golo de Ivanovic nos descontos em 2013...