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    Rapid Viena

    Texto por João Pedro Silveira
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    Fundado em 1898, por um grupo de jovens operários de um fábrica vienense, o Rapid nasceu como Erster Wiener Arbeiter-Fußball-Club (1), e equipando com azul e vermelho, cores que com o correr dos anos, foram várias vezes recuperadas para o equipamento secundário.

    No ano seguinte à fundação, a 8 de janeiro de 1899, com objetivo de revitalizar a associação que tinha caído no marasmo, alguns trabalhadores alteram o nome do clube para Sportklub Rapid Wien, seguindo o exemplo do Rapide de Berlim, um clube alemão de renome à época, que tinha estado na génese da fundação da DBF, a Federação alemã de futebol.

    Uma das primeiras equipas do Rapid Viena.

    Os primeiros anos foram de forte crescimento, com o Rapid a assumir logo o papel de mais forte clube austríaco, superando o rival Austria de Viena, entre outros. Em 1904 passou a equipa de verde e branco, as cores que ainda hoje veste.

    Quinze minutos à Rapid

    Durante os primeiros anos, a centralidade de Viena no contexto europeu, geográfica e politicamente no Centro da Europa, capital de um Império que englobava mais de dez nacionalidades, a proximidade de outras grandes cidades como Praga, Bratislava, Budapeste, Munique, Zurique... permitia o encontro regular com equipas alemãs, suíças, checas, italianas, húngaras... Eram os anos do mágico Josef «Pepi» Uridil, Der Tank (2), o primeiro grande craque do Rapid, decano dos jogadores profissionais na Áustria, responsável maior pela primeira era dourada do clube, onde teve papel fundamental na conquista de seis ligas.

    Desde os primeiros anos que os adeptos do Rapid começaram a praticar uma das mais marcantes tradições do futebol europeu: sempre que o relógio marcava os 75 minutos de jogo, os adeptos do Rapid começavam a aplaudir no último quarto-de-hora, marcando a passagem do tempo com palmas e ajudando de sobremaneira os jogadores dentro do campo, que com o apoio, superavam os adversários e resultados mais adversos.

    Em 1930, o Rapid conquistou a Taça Mitropa, a mais importante competição de clubes até ao surgimento da Taça dos Campeões Europeus.

    A tradição, quase tão antiga como o clube, já é mencionada em 1913, e em 1919 um jornal vienense relatava os famosos quinze minutos à Rapid, os Rapidviertelstunde.

    O Rapid cresceu nesses intercâmbios, e no pós-guerra, durante a década de vinte, tornou-se uma força emergente do continente, chegando inclusive à final da Taça Mitropa em 1927, perdida para o AC Praga. Três anos depois, contudo, conquistaria a competição, declarando-se então a melhor equipa da Europa.

    Campeão da Alemanha

    Com o Anschluss, a anexação da Áustria pela Alemanha em 1938, a República Austríaca deixa de existir, tornando-se mais uma das províncias do III Reich: a Ostmark. Com a Áustria reduzida à condição de mera província do Império de Hitler, a liga austríaca tornou-se um campeonato regional, equivalente aos que já existiam na Baviera, Pomerânia, Vestefália, Brandeburgo... Assim o Rapid começou a disputar a Gauliga Ostmark, prova que venceu em 1938, 1940 e 1941. Além da liga local, o Rapid participava também na Taça da Alemanha, prova que venceu sensacionalmente em 1938, batendo o FSV Frankfurt na final por 3x2.

    Os diversos campeões regionais eram apurados para um torneio final do campeonato alemão, por eliminatórias, que culminava numa grande final. Em 1941, Die Grün-Weißen (3), chegaram ao grande jogo, defrontando o Schalke 04, no emblemático Estádio Olímpico de Berlim.

    Perante 95 mil pessoas, o bicampeão em título Schalke, vencedor de cinco Campeonatos da Alemanha desde a implantação do Reich, entrou com toda a força, pressionando e empurrando o Rapid para a sua defesa. Os golos foram surgindo naturalmente... Um, dois e finalmente um terceiro... 62 minutos e tudo parecia estar decidido, mas o Rapid  ainda não estava vencido e na jogada imediata Georg Schors reduzia. 1x3.

    1941: Jogadores do Rapid com a «Victória», a Taça alada que sagrava os campeões da Alemanha.

    Acordado pelas palmas da bancada, Franz «Bimbo» Binder, o fabuloso goleador que era o terror das balizas austríacas, pegou na bola e liderou a revolta vienense. No minuto seguinte, chutou de longe, fortíssimo e fez o 3x2. Mais um minuto passado, novo ataque do Rapid e o avançado é derrubado na área. Grande penalidade! Binder ganha lanço e remata sem hipótese para um incrédulo Hans Klodt. 3x3!

    Os jogadores do Schalkenem sabiam o que lhes tinha acontecido. Exatamente nove minutos depois dos azuis da Vestefália terem feito o 3x0 que pensavam sentenciar a partida, Binder rematou mais um dos seus «tiros de canhão» e colocou o Rapid na frente. Nove minutos para a história. O Rapid sagrava-se campeão alemão! A pequena vingança pelo Anschluss estava confirmada. Nascia o Rapidgeist, o espírito do Rapid, a força indomável e alma do gigante vienense, que juntamente com o Rapidviertelstund passou a fazer parte do património do clube.

    Pós-Guerra: os anos de Hanappi e Happel

    Durante décadas, o Rapid apresentou algumas das mais celebradas equipas do continente.

    Entre o fim da II Guerra Mundial (1945) e 1960, o Rapid viveu uma das suas eras mais vitoriosas, conquistando oito campeonatos em quinze épocas. Era uma equipa que contava com o génio de Gerhard Hanappi, o arquiteto, um portento de força - com técnica - um dos mais polivalentes jogadores da história, que após começar como médio-ala, acabou por deixar marca como avançado-centro, celebrando-se no fim como um dos melhores defesas centrais da Europa, fazendo 333 jogos pelo Rapid.

    Nessa equipa havia também Robert Dienst, um ariete ofensivo, que derrubava as mais cerradas muralhas defensivas, apontando 307 golos em 284 encontros. Mas por certo, não haverá referência maior no Rapid do que Ernst Happel, o esteio defensivo da equipa, que não hesitava em subir para marcar golos, como no inesquecível hattrick que apontou como naquele jogo com o campeoníssimo Real de Madrid, em que os austríacos estiveram tão perto de eliminar Di Stéfano e companhia.

    Os anos Krankl e a primeira final

    Antonin Panenka
    Entre os anos 70 e 80, dois nomes pairavam sobre os demais no futebol austríaco. Se no rival Austria de Viena, Herbert Prohaska era o ídolo da multidão, no Rapid, Hans Krankl era o herói goleador, na melhor tradição de goleadores como «Pepi» Uridil, «Bimbo» Binder ou Robert Dienst.

    Com os 267 golos apontados de verde-e-branco, Krankl conquistou uma Bota de Ouro que consagrava o melhor marcador europeu, além de quatro prémios de artilheiro da liga austríaca. Pelo meio, daria um salto em Barcelona, mas regressaria a Viena, e ao seu Rapid, para continuar a fazer história

    Seria com Krankl, mas também com Koncilia, Panenka, Kranjcar e Pacult, que o Rapid treinado por Baric chegaria à sua primeira final europeia, a Taça dos Vencedores das Taças, perdida para os ingleses do Everton por 1x3 em 1985.

    Segunda final

    Onze anos depois, em Paris, o Rapid de Viena chegava à sua segunda final europeia, e novamente na extinta Taça das Taças. Pelo caminho, eliminou o Sporting com um histórico 4x0 após prolongamento, anulando uma desvantagem de dois golos que trazia de Lisboa.

    1996, momentos antes de disputar a final da Taça das Taças contra o PSG em Bruxelas.

    Pode escrever-se, que terá sido a última grande valsa do Rapid, essa caminhada até Bruxelas, com uma equipa onde pontificava Andreas Herzog, médio criativo, de fino recorte, que mais tarde brilharia no Bayern. Herzog era secundado pelo lateral búlgaro Trifon Ivanov, imagem esculpida de um bárbaro às portas de Roma, irrascível, eficaz, e ainda o cerebral «Didi» Kühbauer, todos peças fulcrais de uma máquina que tinha no «não tão doce» gigante Karsten Jaancker, der turban, o letal avançado, que fazia tremer as defesas adversárias.

     

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    (1) - Erster Wiener Arbeiter-Fußball-Club - Primeiro Clube de Futebol dos Trabalhadores Vienenses.
    (2) - Der Tank  (al. O Tanque) - alcunha atribuída a Uridil durante a I Guerra Mundial, pela força e coragem demonstrada nas trincheiras, durante mais de quatro anos de combates.
    (3) - Die Grün-Weißen - Os verde-e-brancos.

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    Estádio
    Gerhard Hanappi
    Lotação18500
    Medidas105m x 68m
    Inauguração1977