Apesar de já ter jogado cinco finais da Taça dos Campeões Europeus, a verdade é que, até 1982/83, o Benfica nunca tinha tido muito sucesso na então terceira competição mais importante da UEFA. Após um empate conseguido a ferros em Craiova, na Roménia, os encarnados garantiram não só a sua primeira final na competição, como a estreia de um clube português no jogo decisivo.
Há 15 anos que o clube não chegava a uma final europeia. A última tinha sido uma derrota em
Wembley (1x4), aos pés do
Manchester United. Tinha sido, também, o último grande momento da geração dourada benfiquista e a última final europeia onde um clube português tinha chegado. Era a sétima final portuguesa -
Benfica seis,
Sporting uma -, e os encarnados, com seis jogos decisivos, mostravam ser de longe o mais bem sucedido clube português.
Em 1983m uma nova geração de grandes jogadores como Humberto Coelho, Nené, Chalana, Diamantino, Carlos Manuel ou Bento, tentava mostrar à Europa que o
Benfica continuava grande, mesmo sem Eusébio e companhia.
No caminho até à final, o
Benfica foi irrepreensível, eliminando Bétis, Lokeren, Zurich, Roma e Univesitatea de Craiova sem conceder uma única derrota. Pela frente, na final, as águias encontravam o Anderlecht, crónico campeão belga. Vencedor recente de duas Taças dos Vencedores das Taças e de duas Supertaças europeias e que pelo caminho tinha deixado os finlandeses do Kuopio, o
FC Porto, o Sarajevo, o Valencia e o Bohemians de Praga. Na longa caminhada só tinham sofrido duas derrotas: nas
Antas e na Jugoslávia, contra o FK Sarajevo.
A primeira-mão da final estava marcada para o Estádio do Heysel, em Bruxelas. Se era verdade que o
Benfica não tinha perdido nenhum jogo até aí, não era menos verdade que o Anderlecht tinha vencido todos os jogos em casa. Jogadores como o dinamarquês Morten Olsen e os internacionais belgas Franky Vercauteren e Erwin Vandenbergh impunham muito respeito aos comandados de Sven-Göran Eriksson.
O sueco, acreditavam os benfiquistas, tinha a chave para o sucesso na Taça UEFA, pois na época transacta havia conquistado o troféu com o IFK Göteborg. Em Bruxelas, contudo, foram os pupilos do belga Paul Van Himst que levaram a melhor com um golo do dinamarquês Brylle.
Em Lisboa, duas semanas depois, num Estádio da
Luz cheio como nunca, a esperança benfiquista era enorme, tendo em conta a curta desvantagem que tinham trazido da Bélgica. Os encarnados entraram a todo o gás e encostaram os belgas às cordas. Aos 36 minutos, Shéu empatou a eliminatória após uma insistência do capitão Humberto Coelho.
Apenas dois minutos depois, o balde de água fria caiu sobre a festa benfiquista quando Lozano empatou com uma cabeçada que deu o melhor seguimento ao centro teleguiado de Vercauteren.
Os benfiquistas demoraram a reagir e só na segunda parte, após as entradas de Filipovic e João Alves para os lugares de Veloso e Shéu, é que o
Benfica voltou a deixar o Anderlecht em maus lençóis.
Durante longos períodos, os belgas foram sufocados pelo futebol ofensivo dos encarnados e Munaron evitou um golo feito ao travar, com uma magistral defesa, uma cabeçada de Nené que deixou o Estádio da
Luz a gritar "golo!".
No fim, a festa era belga para desalento dos portugueses e o
Benfica perdia mais uma final europeia, dando continuidade à maldição de Béla
Guttmann...