27 de agosto de 2021. Já com alguma expectativa de que pudesse acontecer, embora longe de certezas, os adeptos do Manchester United viram o seu clube anunciar a contratação de Cristiano Ronaldo. 12 anos após a saída, o menino de ouro estava de regresso ao gigante inglês!
Apesar de já ser um jogador bem diferente do que chegara a Old Trafford quase duas décadas antes - aquele rapaz franzino conhecido pela velocidade e drible fácil -, as expectativas eram altas. CR7 chegava com o estatuto de lenda do futebol e aos 36 anos ainda mantinha uma forte relação com a baliza.
Os 36 golos ao serviço da Juventus na temporada anterior entusiasmavam os red devils, que reconheciam a falta de um ponta de lança goleador na equipa, mas a história não correu tão bem como era suposto. Começou bem (muito bem, até), mas a lua de mel não durou e o craque português acabou por sair pela porta pequena.
Old Trafford é um dos estádios que carrega maior dose daquilo a que em Portugal nos referimos como mística. A alcunha do palco é reconhecida por tudo o mundo, desde cunhada pelo lendário Sir Bobby Charlton, e não ficou fora do pensamento de Cristiano Ronaldo na hora do regresso.
Tinha sido anunciado como reforço enquanto estava ao serviço da seleção. Esse serviço foi despachado bem ao seu estilo, com um bis tardio que serviu três propósitos: firmar uma reviravolta épica frente à Irlanda (2-1), atingir o estatuto de jogador com mais golos na história do futebol internacional e, com o amarelo consequente da emoção dos festejos (a camisola saiu, pois claro...) uma suspensão que valeu a dispensa da seleção, de forma a ir ter com os colegas do novo (velho) clube um pouco mais cedo.
18 anos depois da primeira estreia pelo clube, o puto maravilha voltou a fazer história. Contribuiu com dois golos na vitória sobre os magpies (4-1), escrevendo um início perfeito (ou de sonho) para o novo capítulo da carreira.
«O meu regresso a Old Trafford é apenas uma pequena amostra do porquê de se chamar Teatro dos Sonhos. Para mim, sempre foi um lugar mágico onde podes atingir tudo aquilo em que definires na tua mente», escreveu, após o apito final, nas redes sociais. Estava dado o mote.
Voltou a marcar no segundo jogo e repetiu a façanha no terceiro. Apesar da idade, os golos fluíam e a decisão de regressar parecia mais acertada do que nunca. Solskjaer até deixou elogios à atitude e comprometimento defensivo, que era uma das críticas que vinha a receber nessa fase mais tardia da carreira, mas o estado de graça não foi permanente.
Apenas três meses depois da chegada, começaram os problemas. Num balanço do ano de 2021, Ronaldo partilhou uma mensagem em que lamentou os resultados recentes da equipa e as críticas que caíam para o seu lado. «Não estou feliz com o que temos feito no Manchester United. Nenhum de nós está», disse, revelando otimismo para 2022, mas esse era apenas o início de uma curva descendente.
Surgiram polémicas, primeiro em torno de uma alegada discussão com Harry Maguire pela braçadeira de capitão, depois com um lamentável momento em que o português atirou ao chão o telemóvel de um rapaz autista de apenas 14 anos. Não muito depois, surgiu a trágica notícia de que Ronaldo e a sua companheira, Georgina Rodríguez, se encontravam de luto pelo falecimento à nascença de um dos seus filhos.
O Manchester United terminou a campanha em sexto lugar, bem longe dos objetivos. Esperava-se que a segunda temporada fosse aquilo a que CR7 nos habituara, algo como uma história de um super-herói com sede de redenção, mas o que aconteceu foi bem diferente: apenas 10 meses depois da chegada, Ronaldo pediu para sair.
Surgiam nomes de potenciais destinos, mas eram riscados à mesma velocidade com que surgiam novos (Bayern, Atlético Madrid e até o Sporting rejeitaram o jogador publicamente). Erik ten Hag, o novo treinador, foi obrigado a planear sem o jogador que nem sequer compareceu na pré-temporada...
Foi integrado com o plantel a tempo do início dos jogos oficiais e a confirmação de que ficaria foi dada por Ten Hag só no último dia de mercado, embora isso não tenha significado paz.
Ronaldo foi utilizado a partir do banco em cinco dos primeiros seis jogos da temporada e essa frustração explodiu à nona jornada, quando ficou no banco durante todo o jogo no dérbi de Manchester, que terminou em derrota por 6-3. O técnico explicou que não o utilizou por respeito, mas a ferida já estava aberta e começava a ficar à vista de todos.
Enquanto os resultados do clube melhoravam, a importância da maior figura (na teoria) diminuía. A 11ª jornada trouxe mais polémica, com uma reação infeliz na saída aos 70 minutos frente ao Newcastle, e foi três dias depois que o verniz finalmente estalou. Ronaldo estava no banco para o jogo frente ao Tottenham, mas optou por sair do mesmo e abandonar o estádio quando o encontro ainda decorria. Ten Hag confirmou que o português se recusou a entrar.
A falta de profissionalismo foi a antítese do que demonstrara nas duas décadas anteriores e gerou uma suspensão interna para o duelo seguinte. Voltou a tempo de jogar quatro jogos antes da pausa para o Campeonato do Mundo (disputado entre novembro e dezembro na edição de 2022), mas esses seriam os últimos com a camisola do clube que o viu subir ao Olimpo do futebol pela primeira vez.
A 13 de novembro de 2022, uma semana depois do que viria a ser o último jogo pelos red devils e à mesma distância do pontapé de saída no Mundial, chegou a maior polémica, com a disseminação das primeiras frases de uma das entrevistas mais célebres na história do desporto.
Ronaldo sentou-se com o mediático (e polémico) britânico Piers Morgan e expressou-se sem filtros acerca da vida em Old Trafford. Frases como «Não respeito Ten Hag» ou «O Manchester United traiu-me» serviram de teaser, antes da transmissão da entrevista completa no dia seguinte, em plena preparação da seleção portuguesa para a maior competição internacional.
Dia 22, pouco antes da estreia de Portugal nessa competição, o Manchester United anunciou a rescisão do contrato que ligava as duas partes. Ronaldo jogou o seu quinto Mundial com o estatuto de jogador livre e não muito depois, ainda em dezembro, foi anunciado como reforço do Al Nassr na Arábia Saudita.