Historicamente designada como a Prova Rainha, a Taça de Portugal teve este fim-de-semana mais uma fulgurante eliminatória, agora já com as equipas da Primeira Liga a entrarem em campo.
Comentadas durante vários dias por diversos motivos, as deslocações das três equipas grandes e os respetivos resultados permitiram confirmar os respetivos momentos e o estado da arte: Sporting e Porto passearam; o Benfica passou mas, mais uma vez, deixou a desejar.
A Taça de Portugal é muito mais do que os três grandes. É o futebol português a 360º, dos distritais à Primeira Liga, dos amadores e dos profissionais, dos estreantes e dos internacionais, dos sintéticos e dos relvados, de Vila Real ao Algarve, dos Açores ao Alentejo, passando por todo um país que respira futebol e onde, pelo menos para já, não se paga para sonhar.
O que encanta nestes jogos de Taça é o abismo por baixo de uma luta em constante diferença de recursos, de forças, de expectativas: de um lado, nada a perder; do outro, pouco a ganhar. Para uns, a possibilidade de um dia histórico; para outros, o simples cumprir de serviços mínimos. Para uns, a oportunidade de provarem o seu valor, numa rara chance de carreira; para outros, um teste de competência para tentar ser alternativa num plantel numeroso.
Entre históricos e novatos, havia vários pontos de interesse e estádios históricos que, pelo menos por uma tarde, ganhavam vida própria e uma nova alma. Por exemplo, o Estádio S. Luís, casa do Farense, palco que já viveu alegrias de outras épocas e que ajudou a equipa da casa a eliminar o Estoril; o Estádio Conde Dias Garcia, da Sanjoanense, um clube histórico que recebeu um Rio Ave dominador e apesar da saudade, teve de estender passadeira ao primodivisionário; o Estádio do Canelas 2010, agora na ribalta pelos melhores motivos, como são a receção ao atual detentor da Taça da Liga; o Estádio Municipal da Vidigueira onde o Vitória de Guimarães mostrou a lei do mais forte e tudo terminou com harmonia e fotografia de grupo; o Estádio Monte da Forca, em Vila Real, onde a base e o topo do futebol se confundiram durante os 86 minutos em que os da casa ainda sonharam; o Estádio do Mar, onde um Leixões de pergaminhos na competição, puxou dos galões e virou o jogo com um rival do escalão acima.
Porém, foi no humilde Campo da Cruz do Reguengo que vivi o meu domingo de Taça de Portugal. Talvez o nome pouco ou nada diga mas foi onde assisti ao Vilaverdense – Boavista que foi uma das surpresas do dia. O motivo? Uma feliz coincidência do sorteio poder juntar no mesmo jogo dois treinadores que conheço e admiro. Em fases distintas das suas carreiras, António Barbosa e Jorge Simão, homens convictos e determinados, competentes e ambiciosos, que têm o mundo do futebol para afirmar tudo o que de têm bom.
Foi um típico jogo de Taça, em que uma equipa do Campeonato de Portugal recebia um histórico como os axadrezados. O mote era suficiente para as gentes de Vila Verde se deslocarem em massa: não é todos os dias que um detentor de títulos nos entra pela casa. Do outro lado, mas na mesma bancada, as panteras eram mais que muitas. Bom ambiente, atmosfera animada, tudo preparado para um bom jogo. Os da casa vinham de uma derrota no campeonato e os forasteiros vinham na sua melhor série na Primeira Liga. Mas na Taça, só a Taça conta.
Seria impossível, hoje ainda mais, que o jogo terminasse com os dois treinadores felizes: é esta vertigem de tudo ou nada que se acentua nas eliminatórias, que as torna mais emocionantes. No final, a euforia apoderou-se dos vilaverdenses, que celebraram efusivamente o seu feito, e a tristeza tomou conta dos boavisteiros, incapazes de transformar em golos a sua superioridade. «Houve Taça», dizia-se.
Para os minhotos, há festa na Taça. Para as panteras, há que lamber as feridas e seguir em frente, porque já só há campeonato.
Para mim, há a certeza de que ambos os treinadores saberão digerir os momentos, doce e amargo, e dirigir os seus homens para o que aí vem, em dois mundos diferentes e cada um com os seus desafios.
Para mim, há a certeza de que ambos os treinadores saberão digerir os momentos, doce e amargo, e dirigir os seus homens para o que aí vem, em dois mundos diferentes e cada um com os seus desafios.
Não perca a próxima eliminatória, porque eu também não!