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Campo Pelado
Pedro Jorge da Cunha
2024/04/10
E3
«Campo Pelado» é o espaço de opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Uma homenagem ao futebol mais puro, mais natural, onde o prazer da camaradagem é a única voz de comando. «Campo Pelado».

* Chefe de Redação 

Si yo fuera Maradona viviría como él
Si yo fuera Maradona frente a cualquier portería
Si yo fuera Maradona nunca me equivocaría
Si yo fuera Maradona, perdido en cualquier lugar

A quadra de Mano Chao, cantada para Diego, pôs-me a pensar: e se eu fosse Rúben Amorim, o que faria no final da época?

A esta distância de segurança, e sem a responsabilidade de sentir no corpo as consequências, afirmo categoricamente: Liverpool, here we go.

Vou ser claro. Se eu fosse presidente de um clube (mais um se) e pudesse escolher o meu treinador livremente, Rúben Amorim seria a minha primeira, segunda e terceira opções.

Vejo nele a genuinidade dos grandes, a facilidade de passar a mensagem pretendida, a certeza de para onde querer ir e levar a equipa atrás.

Rúben tem a rara capacidade de ficar sempre bem na fotografia, mesmo quando não sorri. Há uma expressão tranquilizadora, um encolher de ombros perante o precipício, a sensação de possuir o elixir mágico para exterminar a disforia vigente no mundo.

A perfeição é uma noção irreal, não encaixa em ninguém, e Rúben terá os defeitos e limitações naturalmente atribuíveis a um treinador. Mas até nisso Amorim é diferente, ao possuir a invulgar arte de camuflar os maus humores e os dias de tempestade.

O que o separa de Sérgio Conceição (?), perguntam-me. Conceição é hábil no jogo de xadrez, na montagem de estruturas para jogos teoricamente mais exigentes e em que o FC Porto passará menos tempo com bola.

Lê bem o oponente, identifica os pontos de perigo e é capaz de moldar as suas ideias a esse contexto pontual. Nisso, acredito, o treinador dos dragões é fortíssimo, um dos melhores do mundo.

Falta-lhe o equilíbrio comportamental, o saber acalmar a tal tormenta, em si e nos seus futebolistas. Tem, em linguagem mais convencional, um feitio muito difícil e isso afasta-o dos maiores bancos do planeta-futebol.

Como o de Anfield Road, aliás.

Em personagens de tamanha exposição pública, não nego a existência de um nível mínimo de fingimento. Não é simples lidar e gerir um grupo de 30 homens, fazer escolhas, estar em quatro conferências de imprensa semanais e ser sempre certeiro.

Ora, Rúben pega no revólver da palavra e é certeiro. Qual Guilherme Tell, não treme diante da pressão mediática e atira à maçã na cabeça do confrontante. Seja ele um jornalista ou um adversário profissional.

É hábil a comunicar, inteligente a gerir o grupo e lúcido a ler um jogo. Se tiver de recorrer ao kit de sobrevivência e abdicar do controlo magistral da bola, recorre; gosta do jogo de toque, mas não faz disso um sacerdócio e, muito menos, recusa morrer agarrado a essa ortodoxia.

A vida tem muitos caminhos. Rúben iniciou o seu atrás do futebol, deitado na parte de trás da Ford Transit do pai. Ao compor essa reportagem em 2021 e ao escutar o orgulho do senhor Virgílio, passei a conhecer e a perceber a origem de toda esta competência. O puzzle completo. 

De Alverca a Corroios, da Fundação Cebi onde frequentou a primária até aos treinos do hóquei em patins, das conversas com o irmão Mauro aos mimos da mãe Anabela. Anos e anos a perseguir o futebol e o sucesso sonhado.

Condecorado em Alvalade, respeitado por todos no mundo leonino, Rúben Amorim está mais do que preparado para subir ao palco da Premier League. Se esse for o seu destino, e em particular o mítico Anfield, far-se-á por uma vez justiça à competência e à honestidade.

Sim, entre todos os treinadores do planeta, seria sempre Rúben o meu escolhido. Isto dá voltas e voltas, mas é bem possível que o futuro lhe seja red.

La vida es una tómbola, de noche y de día
La vida es una tómbola, y arriba y arriba
La vida es una tómbola, de noche y de día
La vida es una tómbola, tómbola, tómbola, tómbola 
 

PS: antes de pensar no céu de Liverpool, na cidade dos Beatles ou noutro destino mais ou menos paradisíaco nas big5 europeias, Rúben Amorim tem um campeonato para ganhar em Alvalade. Este, mais do que o de 2021, tem as impressões digitais do treinador por todo o lado. Não há como escapar.



Comentários

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motivo:
Ainda não. . .
2024-04-16 20h02m por verney2805
Na minha perspectiva Ruben Amorim ainda tem muito a provar, talvez porque ainda tem de crescer como treinador. Tem bons princípios, mas ainda lhe falta a tarimba dos grandes treinadores.
PI
Rúben Amorim
2024-04-16 14h04m por Pinho352
Bem meu caro, Pedro. Viu-se a nível europeu onde ainda não provou nada. Foram 4 jogos contra a Atalanta, todos com superioridade da equipa italiana e que se traduziu em 2 empates e 2 derrotas. E agora? Foi só azar?
Bem
2024-04-15 13h54m por Mikhal18
Anda toda a gente a tentar enfiar o rapaz no Liverpool. Para que tanta pressa?

Deixem o rapaz trabalhar e mais importante deixem-no decidir se quer sair do Sporting ou não.

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