2022/23 prepara-se para ser uma das mais brilhantes páginas da história do Celtic. O livro já vai extenso, com cenários inaugurais montados em 1887, mas o capítulo mais recente é digno de um banho de ouro, uma vez que tudo aponta para um triplete nas competições domésticas.
A Taça da Liga já está garantida, graças a uma vitória sobre o Rangers (1-2) em fevereiro, e foi o mesmo rival que, há uma semana, voltou a sucumbir perante um golo de Jota (0-1) para dar ao Celtic um lugar na final da Taça. O troféu mais importante, a Premiership, tem faixas encomendadas, já que o Celtic pode sagrar-se campeão este domingo, com uma vitória sobre o Hearts em Edimburgo.
Há candidatos à posição de maior herói desta história... Talvez o idílico Ange Postecoglou, treinador australiano nascido em Atenas, ou um dos elementos do núcleo nipónico que tanto caracteriza esta equipa. Não, não... Se alguém tem personagem principal escrito na testa, é o português que joga e se apresenta como se vivesse noutros tempos: de bigode e mullet, com drible fácil e uma relação forte com o Celtic Park. Sim, tem de ser esse!
O nome tem quatro letras, mas (e isto o leitor já sabe) basta a primeira para pintar a imagem: Jota.
«O Jota apareceu sempre nos grandes momentos desta temporada, a nível nacional. Desde o golo sensacional que marcou no primeiro Dérbi de Glasgow da temporada, que o Celtic venceu por 4-0, até aos golos da vitória nos últimos dois jogos com o Rangers (0-1 e 3-2)», assim começou a análise de Craig Finn, jornalista freelancer ligado ao Celtic, à conversa com o zerozero.
Há mais estrelas, é certo. Kyogo Furuhashi é o grande goleador e tem o compatriota Reo Hatate a puxar todos os cordelinhos no miolo - são cinco japoneses no total, muito devido ao passado do treinador na J-League -, enquanto o capitão Callum McGregor e o centralão Carter-Vickers também são adorados pelas bancadas. «É um coletivo», explicou.
Ainda assim, Jota é a joia da coroa católica. Quando Portugal já duvidava do miúdo que tanto prometeu nos escalões jovens do Benfica e seleção, eis que este explodiu. Após 13 golos e 14 assistências no ano de estreia, leva agora 14 golos e 11 assistências. «Quando marca faz o Celtic cantar», como diz a canção de apoio ao extremo luso.
A transferência para a Escócia, inicialmente por empréstimo, foi a mudança de ares de que João Filipe precisava para chegar a um nível superior. Mostrou-o de imediato, isso ninguém nega, mas a boa notícia é que continua a melhorar com a ajuda de Postecoglou.
«O talento ficou evidente desde a estreia. No entanto, já vimos jogadores que começaram assim, mas não conseguiram manter o desempenho e acabam por desaparecer. Com o Jota, há uma sensação de que ele está a ficar ainda melhor», reconheceu Craig.
«Ele aperfeiçoou-se. O Ange tornou-o mais direto e agora ele defende mais e melhor quando a equipa precisa. Também ganhou a força de que precisa para lidar com os defesas robustos do futebol escocês».
«Os adeptos adoram vencer, mas querem fazê-lo a jogar um futebol empolgante. A maneira como esta equipa bate blocos baixos teimosos, semana após semana, mantém as coisas muito interessantes. O Ange tem um lema, "We never stop" [Nós nunca paramos], que não é só uma expressão cativante, é todo um ethos que permeou o plantel inteiro».
Falar do Celtic é falar de um ex-campeão da Europa. Os míticos Lisbon Lions, que em 1967 bateram o Inter de Milão em pleno Estádio do Jamor para levantar a orelhuda. Na era Champions League, iniciada em 1992/93, as presenças na fase de grupos são raras e o recorde escocês são os oitavos de final.
O fosso é cada vez maior, e isso ficou evidente na forma como o Celtic esta temporada terminou em último no Grupo F com apenas dois pontos conquistados. Ainda assim, é no plano continental que a equipa quer deixar a sua marca e, mesmo nas derrotas, foi elogiada pela qualidade apresentada:
«O Ange manteve a filosofia de ataque e assustou algumas equipas, mas não foi sustentável ao longo de 90 minutos como acontece na Escócia. Desde que vencemos o Barcelona em 2012, as grandes noites têm sido raras. Resta saber se é possível obter resultados sem trocar este estilo por um mais pragmático», explicou Craig ao zerozero.
«Os adeptos do Celtic parecem certos de que vão manter o Jota durante mais uma temporada, antes de considerar propostas. Gostamos de pensar que ele quer mais uma oportunidade na Liga dos Campeões, já que a maior parte dos potenciais interessados não lhe conseguem oferecer isso».
Para garantir esses palcos, bem como uma guarda de honra dos rivais no Ibrox Stadium daqui a uma semana, o Celtic e Jota precisam de apenas uma coisa: vencer este domingo.
0-2 | ||
Kyogo Furuhashi 67' Oh Hyun-gyu 80' |