O Benfica foi a tempo de emendar um plano de jogo condenado ao fracasso. Depois de 45 minutos sem bola e subjugados pelo Borussia Dortmund, as águias mudaram a «identidade» estratégica ao intervalo para resgatar um triunfo pela margem mínima (1x0), mas sem golos sofridos em casa. Ederson foi gigante e Mitroglou «sobreviveu» à ausência de Jonas para fazer o golo que marcou a noite.
Uma parte, várias ilações. Desde logo, a bola. Sem ela, o Benfica não existe e bola foi coisa que os encarnados tiveram pouco nos primeiros 45 minutos. Estruturado num 3x4x3 esticado a toda a largura do terreno, o Borussia Dortmund tirou a equipa de Rui Vitória do jogo. Thomas Tuchel percebeu que se as águias mantivessem a identidade seria precisamente por aí que o Dortmund poderia fazer estragos.
E a tal identidade consiste num meio-campo de apenas duas unidades: Fejsa e Pizzi, os rostos da dificuldade benfiquista no primeiro tempo. Sobrecarregados no miolo, os dois não chegaram para o «carrossel» alemão. Com Julian Weigl mais posicional, foi Raphael Guerreiro a deambular na construção ofensiva do Dortmund; Durm à direita e Schmelzer à esquerda esticavam a equipa.
Inferiorizado no meio, o Benfica cedeu atrás como consequência lógica. Aubameyang não se deu à marcação e soltou-se vezes sem conta de Lindelöf, permitindo a Dembéle encontrar espaços enquanto Reus, mais colado à esquerda, ocupava Nélson Semedo. E assim deu a sensação que havia quase sempre mais amarelos do que vermelhos em campo.
A tudo isto é preciso somar outra evidência: Rafa Silva não é Jonas. O brasileiro falhou o jogo e o português procurou sê-lo, sem sucesso. Ainda que o problema encarnado à frente tivesse origens mais atrás, Rafa nunca conseguiu ser aquele pêndulo que Jonas oferece ao jogo. Ainda assim, Mitroglou, sem o parceiro preferido, deu-se ao jogo, lutou e foi compensado com o golo.
E se ao intervalo o nulo ainda persistia, isso deveu-se apenas à falta de pontaria de Aubameyang. O internacional gabonês teve um golo cantado no pé direito aos 10 minutos, mas apenas com Ederson pela frente atirou por cima. Não foi a noite da estrela da companhia do Dortmund.
Sem capacidade para estancar o Dortmund no meio-campo, Rui Vitória só tinha de mexer aí; e mexeu. Carrillo foi o sacrificado e Felipe Augusto a solução encontrada para se juntar a Fejsa e Pizzi. O Dortmund passou a ter mais dificuldades para fazer o jogo confortável da primeira parte e o Benfica ainda lhe juntou o golo na aurora do segundo tempo, com Mitroglou a finalizar à boca da baliza depois de um cabeceamento de Luisão.
Um momento que atirou o jogo para uma fase de maior esquizofrenia. O Dortmund procurou reagir mas encontrou pela frente um «monstro» intransponível na baliza do Benfica. Ederson ergueu uma autêntica parede vermelha e depois de duas intervenções sublimes (51' e 53') teve nervos de aço para travar a grande penalidade de Aubameyang (58')... ao ficar no meio da baliza. Mas foi aos 84 minutos que o internacional brasileiro fechou a ouro uma noite de sonho com um voo soberbo a evitar o empate.
Vários momentos, a par da alteração ao intervalo, que marcou a história do jogo. O Benfica saiu incólume e inviolado da Luz e com uma vantagem que, apesar de mínima, permite encarar a «parede amarela» de Dortmund com a ameaça de a derrubar.