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Maurício Vieira de Brito: o pai do Benfica europeu

Texto por João Pedro Silveira
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«Nome exato, para evitar erros de endereço: M de mecenas, A de ativo, U de útil, R de realizador, I de inteligente, C de carola, I de insuprível, O de objetivo. Oito letras, oito adjetivos, um retrato.» Assim o descrevia António Ribeiro dos Reis, num dos seus apaixonantes - e apaixonados - «Perfis à Pena» que assinava no Jornal A Bola. 

Nessa sua crónica, Ribeiro dos Reis elogiava o homem brilhante, que era rico mas que se destacava pela bondade - «era a bondade em pessoa» - e pelo espírito empreendedor. 

Na gloriosa história do Benfica, nenhum outro nome se pode comparar aos de Joaquim Ferreira Bogalho e Maurício Vieira de Brito. Foram estes os presidentes que transformaram o Benfica que hoje reconhecemos. 

Clube popular, com uma história onde se destacavam diversas conquistas e vitórias, no começo da década de 50, o Benfica vivia à sombra dos sucessos do rival Sporting

Joaquim Ferreira Bogalho iniciara o caminho que conduziria o Benfica até ao topo do futebol português. Campeão em 1955 e 1957, vencedor da Taça de Portugal em quatro ocasiões, Ferreira Bogalho pôs as mãos à obra e lançou a obra que orgulhou os benfiquistas, o magnífico Estádio da Luz. Maurício foi o homem que lhe sucedeu no leme e guiou o Benfica à glória europeia.

Raízes africanas

Maurício Vieira de Brito nasceu  a 6 de março de 1919, em Novo Redondo, hoje Sumbe, uma localidade costeira do Cuanza Sul, em Angola. Cresceu na então colónia portuguesa, entre as roças, os estudos, a bola e os passeios a cavalo.

Filho de uma família que arrecadara fortuna com o café em Angola, Vieira de Brito mudara-se para Lisboa, onde o seu principal negócio era o café, de que quase era detentor de um monopólio na colónia.

No leme da Luz

Suceder a Ferreira Bogalho era uma missão difícil. Poucos seriam capazes de arcar com o peso de um consulado tão marcante. Vieira de Brito não só este à altura do legado, como o superou.

Uma das chaves do sucesso foi manter na direção diversos nomes de confiança de Ferreira Bogalho. Os benfiquistas percebiam que a "continuidade" não era um conceito vago.

Contratou Béla Guttmann ao FC Porto e deu-lhe os meios para conseguir o sucesso. Voltou a abrir os cordões à bolsa para segurar Eusébio, em acérrima disputa com o Sporting. Ainda do seu fundo pessoal, investiu na construção do terceiro anel que elevou a lotação do estádio para 75 mil lugares.

Seguiu-se a vitória na Taça dos Campeões Europeus em 1960/61, batendo o Barcelona de Kubala na final (3x2). Um ano depois, nova conquista, já com Eusébio vestido de vermelho, a águia voou bem alto e bateu o todo-poderoso Real Madrid (5x3).

Homem com os pés bem assentes na terra, conta-se que na final de 1961 tinha escrito dois discursos para ler no banquete do pós-jogo, num elogiava o feito e a vitória, noutro levantava o moral das tropas depois de uma derrota.

Em Berna, com os nervos à flor da pele, desmaiou já depois de ter bebido o champanhe da vitória. Um anos depois, em Amesterdão, mais calmo, podia dizer-se que já estava mais habituado àquelas andanças, recebeu um ursinho bebé do Jardim Zoológico de Rhenen. Levou-o consigo para a tribuna e levou-o para Lisboa, no avião ao lado do troféu conquistado.

Se a orelhuda tinha como destino o Museu do Estádio da Luz, o pequeno urso encontrou casa no Jardim Zoológico de Lisboa. Até ao fim dos seus dias, Vieira de Brito suportou todos os gastos com o animal, dando um salto a Sete Rios sempre que podia.

Abandonou a presidência a 31 de Março de 1962, mas nunca abandonou o Benfica, ajudando sempre que podia, financiando aquisições e estando muito próximo do clube, aquando da presidência do seu irmão, Adolfo Vieira de Brito, entre 1964/65 e 1967/69.

Viria a falecer a 9 de Agosto de 1975.

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Fotografias(2)

Maurício Vieira de Brito (POR)

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Portugal
São Domingos de Benfica - Lisboa
Lotação120000
Medidas105x74
Inauguração1954