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    Liga Portuguesa 1986/87
    Grandes jogos

    Sporting x Benfica: E foram sete!

    Texto por João Pedro Silveira
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    «A vitória e o fracasso são dois impossíveis e é necessário recebê-los com idêntica serenidade e com uma saudável dose de desdém»

    - Rudyard Kipling

    Na história do «dérbi dos dérbis» há um antes e um depois da tarde de 14 de dezembro de 1986. Nesse dia chuvoso, o Benfica caiu com tal estrondo em Alvalade que os ecos de tal derrota ainda ressoam passado algumas décadas. Nunca o Benfica tinha perdido por tanto e somente por mais uma vez, numa noite de má memória em Vigo, voltaria a sofrer tal número inusitado de golos.

    A derrota de Alvalade, o célebre 7x1, será a mais dolorosa de todas as derrotas do Benfica e a mais saborosa e lembrada vitória leonina até mais que a famosa vitória do «cantinho do Morais» que valeu a conquista da Taça das Taças para os homens de verde e branco. Estranho mundo este do dérbi que faz com que uma vitória, que se revelou de Pirro, seja mais lembrada que uma vitória que valeu um troféu europeu.

    Uma vitória que valeu pouco

    Segundo a tradição, Pirro, o General e Rei de Épiro, território que hoje se encontra na Albânia, foi um líder militar que comandou uma invasão da Itália, em 281 a.C, durante um conflito que opôs o Reino de Épiro à República Romana.

    Durante a sua campanha no sul de Itália foi derrotando, uma a uma, as legiões romanas que eram enviadas para enfrentá-lo. Batalha atrás de batalha, venceu os romanos, mas sem nunca conseguir a vitória decisiva que garantia a vitória na guerra. 

    Momentos antes da partida, o onze leonino que fez história: (em cima) Venâncio, Oceano, Manuel Marques (Massagista), Virgílio, Meade, Damas; em baixo: Gabriel, Zinho, Fernando Mendes, Manuel Fernandes, Litos e Mário Jorge.
    Algumas das vitórias tiveram grandes custos, com o seu exército a perder muitos homens, chegando ao ponto de, após a batalha de Ásculo, ao ser felicitado pelos seus generais pela brilhante vitória conseguida, ter respondido: «Mais uma vitória como esta, e estou perdido!»

    Daí associar-se o nome de Pirro a uma vitória conseguida a alto preço e com elevados custos, ou também considerar-se que é uma vitória que não serve de nada e que não garante nenhuma conquista. Uma vitória que não vale mais do que isso mesmo e que não chega para ganhar uma guerra.

    Os benfiquistas gostam de lembrar aos sportinguistas que o 7x1 aconteceu num ano em que o Benfica se sagrou campeão. Que a vitória foi em vão e que só ajudou o Benfica a unir-se e a conquistar o título. Os leões, por seu lado, não ligam muito aos argumentos benfiquistas e deixam que a força dos números fale mais alto. Com Pirro ou sem Pirro, para eles o «sete-a-um» foi bem mais que uma vitória.

    A verdade é que os dois têm razão. O Sporting teve uma vitória de Pirro e viu o Benfica sagrar-se campeão no final da época; mas, por outro lado, o Benfica sofreu às mãos do eterno rival uma derrota até então sem par, batendo o recorde do 7x2 a seu favor que já datava de 28 de abril de 1946.

    Uma «serenata à chuva»

    Os jogos entre o Sporting e Benfica, especialmente quando se jogam em Alvalade, têm uma tendência natural para o inesperado. Do banho de multidão que Marcello Caetano recebeu nos 3x5, em 1974, pouco tempo antes da queda do regime, aos 5x3 em que o Sporting de Paulo Bento virou o jogo ao contrário e voltando à sempre lembrada noite de magia de João Vieira Pinto, a verdade é que o dérbi tem uma magia ímpar que em Portugal não tem par.

    Lances Capitais
    11734;11735,11950,15138,15359;15365,15362,15390,11736;11923,11737#69#15361,15393,15394;15388,15392

    Chuvas de golos, muitos deles à chuva, que, durante anos, leões e águias foram escrevendo algumas das mais brilhantes da história do futebol nacional. Mimetizando o clássico de Gene Kelly, os velhos rivais marcaram golo atrás de golo em verdadeiras «serenatas à chuva», mas nenhuma terá sido tão histórica como a daquele dia .

    Para os leões, Manuel Fernandes não será Gene Kelly, mas muitos deles terão por certo dançado e cantado à chuva nesse frio fim de tarde de 14 de dezembro de 1986.

    Saltillo, CEE, FC Porto: Portugal em 1986/87

    Olhando para trás, o país parecia ser outro. Mário Soares era o Presidente, Cavaco Silva era o Primeiro Ministro e voltaria a ser eleito em outubro do ano seguinte com a primeira maioria absoluta da democracia portuguesa. O país aderira há pouco tempo à então Comunidade Económica Europeia, começando a receber a primeira grande vaga de fundos de Bruxelas que deixava no ar a impressão que o período de crise e da intervenção do FMI já fazia parte de um passado distante e irrepetível... 

    Mário Jorge, o herói improvável, que apontou dois dos sete golos do Sporting.
    No desporto, a seleção continuava a viver na ressaca de Saltillo, com todos os "revoltosos" afastados, arrastando-se na fase de qualificação para o Euro 88. O FC Porto, campeão em título, estava a meses de se sagrar campeão europeu em Viena, mas por certo ainda não sonhava com o calcanhar de Madjer...

    Chuva e um golo

    Na véspera do dérbi, nas Antas, em noite de algum nevoeiro, o FC Porto esmagara o Sp. Farense por 8x3, podendo depois assistir descansado ao clássico, seguro que estava na liderança.

    Nessa manhã, ao lerem os jornais, os portugueses estavam fascinados com os cinco remates certeiros de Fernando Gomes num jogo com onze golos e poucos podiam sonhar que o Sporting x Benfica dessa tarde pudesse tornar o FC Porto x Farense, da véspera, numa quase nota de rodapé num futuro texto sobre o clássico...

    Alheios a tudo isso, os protagonistas do jogo preparavam-se para o embate, sendo a grande novidade a estreia de um equipamento azul por parte do benfiquista Silvino. Chovia copiosamente e nas bancadas «não cabia mais um ovo».

    Mais de setenta mil almas lotavam o antigo anfiteatro leonino. Vitor Correia apitou para o começo do jogo e a primeira parte foi bastante equilibrada, com oportunidades repartidas e pouca emoção. Ao intervalo ganhava o Sporting por 1x0 fruto do golo madrugador de Mário Jorge.

    A glória do Manel

    Quando, aos cinquenta minutos, Manuel Fernandes, com a cabeça, deu o melhor seguimento ao canto apontado por Zinho na esquerda, poucos na bancada podiam imaginar que nos próximos 36 minutos iriam assistir a mais seis golos.

    Nem o mais confiante e otimista sportinguista imaginaria o que iria acontecer quando, aos 59 minutos, Vando reduziu o resultado para 2x1. E na bancada os benfiquistas voltavam a acreditar que o empate era possível...

    No dia seguinte, o jornal A Bola fazia capa do feito leonino e lembrava o resultado histórico. Nunca antes, nem nunca depois, voltou a haver uma diferença tão grande num jogo entre os velhos rivais.
    Mas foi então que o jogou entrou em modo «Sporting x Benfica» e já não houve mais forma de controlar-lhe o destino... Ralph Meade fez o 3x1 aos 65´ e matou a esperança encarnada. Passaram três minutos e Mário Jorge bisou, abrindo as portas da goleada. 

    Manuel Fernandes não quis ficar atrás e marcou um três minutos depois, outro aos 82´ e fechou a contagem aos 86´. 7x1 com um poker do capitão de Sarilhos Pequenos que correu para guardar a bola que Gabriel queria para si.

    «Gabi, essa para mim!», gritou o Manel. E o defesa acedeu. Não por o pedido vir do capitão, mas porque não é todos os dias que se marca quatro golos ao Benfica...

    Nas bancadas havia quem rasgasse o cartão de sócio do Sport Lisboa e Benfica. Um pouco por toda a superior ardiam os restos de bandeiras encarnadas que os próprios adeptos benfiquistas tinham queimado, cegos com a vergonha e a frustração da goleada sofrida... Os leões cantavam, em júbilo festejavam uma vitória sem par e Alvalade era uma festa imensa.

    Manuel Fernandes levou para casa a bola que ofereceu como presente à filha, Silvino nunca mais voltou a vestir de azul, os leões nunca mais deixaram de falar do «sete-a-um» e os benfiquistas acabaram campeões... Quase que era caso para dizer que no final todos foram felizes... Mas alguém consegue ser realmente feliz depois de sofrer sete golos? 

    Comentários

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    motivo:
    GE
    hahhahah
    2012-12-15 10h41m por genf
    e pro ano farà 14. lool e vao festejar a subida à liga orangina. Se isso vos deixa felizes ainda bem, guardem bem na mémoria que é um feito nunca mais repetido. hhhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
    Ainda estou para perceber. . .
    2012-12-14 20h32m por KradFire
    Porque não ganharam 7-1 na final da Taça?
    nemXnemK
    2012-12-14 20h31m por KradFire
    Ya, um ano epico. Porto é campeão Europeu, Benfica faz a dobradinha e os lagartos. . . no já famoso 4º lugar.
    lampiões
    2012-12-14 17h05m por alexroxo
    Aziados, podem ter sido campeoes mas levaram na pá!
    NE
    .
    2012-12-14 12h18m por nemXnemK
    Ya adorei, fomos campeões só com 2 derrotas nessa época. Não me importava de levar 7 dos viscondes todas as épocas assim.
    LOL
    2012-12-14 12h10m por Marinho7
    Ha de ser 7-1 outra vez na vida
    LOL
    2012-12-10 17h48m por crackjunior1
    Conta com isso rapazinho
    Absolutamente lindo
    2012-12-10 17h38m por sportingg4le
    E hoje a história vai-se repetir.
    jogos históricos
    U Domingo, 14 Dezembro 1986 - 15:00
    Estádio José Alvalade (1956)
    Vítor Correia
    7-1
    Mário Jorge 15' 68'
    Manuel Fernandes 50' 71' 82' 86'
    Ralph Meade 65'
    Wando 59'
    Estádio
    Estádio José Alvalade (1956)
    Lotação75200
    Medidas105x68
    Inauguração1956