O madeirense Pinga, interior esquerdo do FC Porto de 1930/31 a julho de 1946, tinha reunidas em si todas as características dos maiores jogadores de futebol: atacava e defendia com igual eficácia, era senhor de um fantástico domínio de bola, exímio na finta e era portador de um remate fortíssimo.
Quando, em julho de 1946, teve a sua festa de despedida, o Estádio do Lima foi um mar de lágrimas com um delirante estrugido de palmas num jogo do
FC Porto com uma seleção dos melhores de
Portugal: Azevedo, Cardoso e Feliciano; Amaro,
Francisco Ferreira, Serafim; Espírito Santo, Alberto Gomes,
Peyroteo, José Pedro e João Cruz.
Sporting,
Benfica,
Belenenses e Académica disponibilizaram os melhores jogadores para a justa homenagem a
Pinga.
Internacional aos 21 anos, num jogo contra o selecionado de
Espanha, logo aí a imprensa espanhola fez eco da promessa portuguesa, desfazendo-se em elogios pela sua brilhante atuação.
Em 31/32, o Porto foi campeão de
Portugal. Nas meias-finais, num vibrante
FC Porto 3x0
Benfica, o cronista da então revista de referência «Stadium» escreveu: «Agrada registar, como exemplo e motivo de louvor, a forma de
Pinga actuar. É o homem que nunca pára. Que está na defesa e sempre no ataque. Que dribla, intercepta e passa... Nunca cometendo violências.
Pinga representa o jogador completo: à mestria da técnica, alia a maneira mais elegante de jogar.»
As crónicas da época fazem referência ao árbitro espanhol, Ramon Melcon, que após dirigir a finalíssima Porto 2x1
Belenenses, confessou estar maravilhado com a atuação de
Pinga.
Apontou nove golos nas suas 23 internacionalizações. Foi o melhor marcador da Primeira Divisão em 1935/36, com 26 golos.
Após abandonar a carreira devido a uma lesão no menisco, tornou-se treinador do Tirsense da 3ª Divisão e espantou
Portugal ao eliminar o
Sporting dos
cinco violinos com um 2x1 na 1ª eliminatória da Taça de
Portugal. Continuou a carreira sem grande sucesso na Sanjoanense e no Gouveia, para depois regressar ao seu Porto como adjunto e treinador das equipas jovens.
Faleceu em 1963, deixando um legado tanto no seu
FC Porto como na Madeira, os seus dois amores.
Pedroto nunca escondeu a admiração pelo avançado portista, e a Pérola do Atlântico nunca esqueceu o seu filho, dando-lhe o nome a uma rua do Funchal.
Pode dizer-se que Artur Soares
Pinga foi o maior futebolista madeirense de todos os tempos, até que surgiu um menino chamado
Cristiano Ronaldo...