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    Pepi Bican: O Artilheiro Incomparável

    Texto por João Pedro Silveira
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    A biografia de Josef «Pepi» Bican parece atravessar um compêndio de história europeia do século XX. Nasceu em Viena, filho de um checo que tinha emigrado da Boémia Morávia natal para a capital onde conheceu uma filha de uma família checa, há muito radicada na cidade dos Habsburgos.
     
    Não tinha completado ainda um ano de idade quando o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia, iniciando a Primeira Guerra Mundial. A guerra saldar-se-ia numa derrota para os Habsburgos, que viram o seu país desmembrar-se num conjunto de pequenas repúblicas e reinos, entre eles a Áustria e a Checoslováquia, terra dos seus antepassados.
     
    Eram tempos difíceis, o conflito deixou a economia austríaca destroçada, o que obrigou a severas restrições na distribuição de comida. Os racionamentos conduziram à inevitável fome e pobreza. 
     
    Pepi, como carinhosamente lhe chamavam, cresceu habituado às dificuldades. Sem dinheiro, jogava futebol com os amigos, todos descalços, chutando uma hadrak, nome por que eram conhecidas as bolas de trapos em Viena. Jogava desde manhã à noite, para desespero dos pais, que lutavam arduamente para tirar a família da pobreza.
     
    Chegar ao Wunderteam
     
    Bican continuou a viver em Viena e lá cresceu, dedicando-se ao futebol, jogando em pequenos clubes locais, como o Hertha Viena II ou o Shusteck. Em 1931 assinou pelo Rapid Viena, onde começou a sua extraordinária ascensão no futebol austríaco,  culminando na sua primeira internacionalização a 29 de novembro de 1933, num empate a duas bolas com a Escócia, contava apenas 20 anos.
     
    Um ano depois representou a Áustria no Campeonato do Mundo de Itália. Essa equipa austríaca, a Wunderteam, orientada por Hugo Meisl, era composta por diversos jogadores de origem checa, como ele e Sindelar, mas também Urbanek, Cisar, Janda, Kaburek, Smistik ou Zischek. 
     
    Bican apontou um golo na prova, na vitória sobre a França, mas a Áustria acabaria eliminada nas meias-finais, vencida pela Itália e por uma arbitragem polémica.
     
    Os caminhos da história
     
    A Áustria não teria uma segunda hipótese de vencer o mundial, pois em março de 1938, seria anexada pela Alemanha. Era o Anschluß, a Áustria era incorporada no III Reich como uma província alemã.

    A princípio Bican rejeitou jogar pela seleção, ao mesmo tempo que recusava inscrever-se no Partido Nazi. Temendo ser perseguido por recusar colaborar com os nazis, Bican, que sempre se considerara um checo, resolveu mudar-se para Praga, a capital da Checoslováquia, tentando fugir ao nazismo.
     
    Mas poucos meses depois, em setembro, após o Acordo de Munique, Hitler pôde anexar as Sudetas, uma parte de Boémia-Morávia, de maioria alemã. Muitos pensavam que a história ficava por aí, mas não. Em março, a Alemanha invadiu a Boémia-Morávia, que foi prontamente anexada ao III Reich, enquanto a Eslováquia se tornava numa república independente fantoche. Meses depois de ter trocado Viena por Praga, Bican voltava a viver debaixo do jugo nazi. 
     
    Em Praga
     
    Em Praga vestira a camisola do Slavia, mantendo o registo goleador que tinha apresentado em Viena, tanto no Rapid, como mais tarde no Admira. Ao serviço dos Červenobílí, os vermelho e brancos, apontou 395 golos em 217 jogos, números impressionantes que o transformaram no maior goleador da história do Slavia de Praga.
     
    Depois de ter trocado a Áustria pela Checoslováquia, jogou uma vez pela seleção da Boémia-Morávia, mas os restantes jogos fez pela seleção checoslovaca, apontando 12 golos em 14 jogos, uma média bem superior ao que tinha feito ao serviço da Áustria (30 jogos, 19 golos).
     
    No fim da Guerra voltou a jogar futebol, tendo recusado mudar-se para Itália, pois temia a subida dos comunistas ao poder em Itália. Curiosamente, seria na sua Checoslováquia que os comunistas subiriam ao poder.
     
    Bican recusou-se a inscrever no Partido Comunista e acabou afastado do Slavia, tendo jogado no Vítkovice e no Hradec Králové, donde sairia por pressões do secção local do partido comunista.
     
    Regressado a Praga, ainda vestiu a camisola do Slavia, então Dynamo de Praga, onde pendurou as botas em 1955, contava 42 anos. 
     
    Dedicou-se à carreira de treinador, começando no Slavia, mas sem o sucesso que tinha conquistado como jogador, acabou por abandonar a carreira em 1977, depois de ter passado anos em clubes de pequena dimensão.
     
    Josef Bican faleceu a 12 de setembro de 2001, sendo sepultado em Praga na República Checa, a cidade onde escolhera viver. Para a história ficam os seus feitos e os cerca de 800 golos apontados em jogos oficiais, que o tornam num dos grandes goleadores da história do futebol mundial. 
     
    Em seus últimos meses de vida, Bican começou a sofrer problemas cardíacos. Desejava passar o natal de 2001 com a família, mas acabou falecendo duas semanas antes da data.
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    Josef Bican (AUT)
    Josef Bican (AUT)

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