«A resposta de Portugal, Carlos Manuel. Fernando Gomes vai do lado direito, Mário Jorge também um pouco atrás, o remate ao la... golo! gooolo de Portugal. Golo fabuloso de Carlos Manuel! Um verdadeiro espetáculo!». Em pleno Neckarstadion (Estugarda), a voz telefónica de Manuel da Costa tremelicava entre a emoção e a surpresa de um lance que registava uma viagem com que quase ninguém contava. O que não seria propriamente benéfico, como se poderá perceber pelo atribulado trajeto que Diamantino nos ajudou a descobrir até à afamada Saltillo.
«Deixem-me sonhar»
José Torres era o selecionador e, aos jornalistas, proferia a famosa frase: «Deixem-me sonhar...». A generalidade dos portugueses, habituados à traição da calculadora, não acreditavam. Porém, ao saírem do autocarro na chegada ao estádio, os jogadores ficaram a saber que a Checoslováquia tinha ganho por 2x1.
«Era mais natural, nessa altura, termos mais dificuldades em chegar às fases finais porque não havia Azerbeijões, Arménias, Lituânias... Os grupos eram muito fortes. Sabíamos que as outras seleções tinham muita qualidade. Quando o Carlos marcou o golo, penso que todos pensámos que seria possível, porque estar lá dentro é diferente, acredita-se mais», começou por nos dizer Diamantino sobre aquela inesquecível vitória por 0x1, ele que não teve dúvidas em atribuir adjetivos à qualidade daquela geração, quando questionado sobre o que lhe vinha inicialmente à memória assim que «México 86» era pronunciado.
«O que me vem à cabeça é que aquela era uma grande geração de jogadores, se calhar uma das melhores de sempre do futebol português. A haver publicidade e a organização que hoje o futebol tem, aquela podia ter sido considerada uma Geração de Ouro. Já tínhamos vindo de um Europeu em que, novamente com um pouco mais de organização, poderíamos ter sido mais felizes, não tivessem acontecido situações como os quatro selecionadores em simultâneo», relembrou.
A R.F.A. nunca perdera um jogo oficial em território alemão (exceção ao jogo com a vizinha R.D.A. na fase final do mundial de 1974, que os de leste venceram em Hamburgo por 0x1) e poucos eram os que acreditavam que tal sucedesse nessa fria noite de outubro de 1985.
Dias antes Portugal sofrera «as passas do Algarve» para bater a Malta na Luz por 3x2 e poucos imaginavam que aquela equipa que tanto sofrera para eliminar os amadores malteses pudesse vencer a toda-poderosa Alemanha.
O país passou a tarde colado à RTP que transmitia o jogo entre checoslovacos e suecos. O golo inicial de Corneliusson deixara Portugal em suspense, mas Ladislav Vízek bisou e a Checoslováquia fazia a primeira parte do plano. Agora restava Portugal vencer na Alemanha...
Um remate para o México
O jogo teve quase só um sentido. Portugal estava nervoso e com medo de errar. Do outro lado a Alemanha parecia não estar nos seus melhores dias, adiando a estocada final, mostrando uma rara ausência de killer instinct.
Portugal foi sobrevivendo até ao intervalo. Na segunda parte, aos 54 minutos, um rápido contra-ataque culminou no golo da vida de Carlos Manuel. Portugal estava na frente, mas com tanto ainda para jogar.
Até ao fim sofreu-se a bom sofrer, dentro e fora do campo. Hans Peter Briegel, que então jogava no Verona, ainda acertou duas bolas no ferro da baliza de Bento, mas a bola teimava a entrar. Rummenigge, Littbarski, Allofs, Meier, nenhum conseguiu desfeitar o guardião português e o sonho de José Torres realizava-se, Portugal estava no Mundial do México.
0-1 | ||
Carlos Manuel 54' |