A imensidão de talento que o mundo do futebol congrega é extremamente difícil de acompanhar. A cada ano, a cada mês, a cada dia ou a cada jogo emergem nomes, desconhecidos até então, que passam a fazer parte do radar dos maiores clubes do planeta. Mas existem casos e casos e na Alemanha há um que, embora recorrente, não deixa ninguém indiferente. O de Youssoufa Moukoko, que está cada vez mais perto da estreia como sénior.
É em Dortmund e no Borussia onde mora um dos maiores fenómenos atuais que voltou a ser notícia... pelos golos. Aos 15 anos, o jovem avançado, de origem camaronesa, passou uma vez mais a ser tema de conversa, publicações e estatísticas devido ao facto de ter apontado três golos ao eterno rival Schalke 04 na Bundesliga de juniores (e também pelos condenáveis atos racistas), fazendo com que os aurinegros vencessem o sempre escaldante Revierderby.
A primeira impressão é a de um momento memorável e isolado que pode surgir na carreira de qualquer atleta em ascensão. O problema é que este foi o terceiro hat-trick consecutivo de Moukoko na competição, traduzindo-se, num simples cálculo, o seu arranque em nove golos em três partidas (mais três golos ao Wehen Wiesbaden na Taça e ao Preussen Müenster no campeonato).
O aparecimento estonteante de Moukoko não deixou de criar anticorpos. E é simples de perceber o porquê: aos 12 anos já era internacional sub-16 pela Alemanha e atuava pelos sub-17 do Dortmund e aos 14 estreou-se com seis golos num único jogo pelos sub-19 do clube.
Outro tema que motivou enorme debate foi a alteração de uma regra específica no futebol alemão, neste caso nos dois escalões de topo, influenciada precisamente pelo supersónico desenvolvimento de Moukoko. Até março de 2020, as duas principais ligas só permitiam que um jogador jogasse a nível profissional aos 18 anos ou então se atuasse com regularidade pela equipa de sub-19 do respetivo clube - esta última fez com que Nuri Sahin fizesse história em 2005, também pelo Dortmund, aos 16 anos e 334 dias -, mas tudo mudou com a reunião entre os participantes da Bundesliga e 2. Bundesliga, com o limite mínimo a baixar para os 16 anos.
A decisão trouxe sentimentos mistos. Por um lado, o Borussia Dortmund esfregou as mãos, porque Moukoko cumpre 16 anos já em novembro, e, por outro, levantaram-se os que já criticavam a eventual alteração da regra, como Julian Nagelsmann, treinador do RB Leipzig: «Não sou muito apologista desta proposta. Se subo os jogadores mais cedo, eles ficarão mais cedo sob pressão e sob o foco dos media. Não sou cientista e não estudei isso à exaustão, mas acho difícil de acreditar que seja bom para o desenvolvimento de um jovem poder jogar na Bundesliga com 16 anos», justificou.
Mesmo sujeito a pressões e críticas, o Dortmund continua, minuciosamente, a preparar a estreia do maior diamante em bruto da formação. Tanto que, como o diretor desportivo Michael Zorc já revelou, a ideia passa, também, por inscrever Moukoko na Lista B da Liga dos Campeões. E desta vez as regras não atrapalham: o atleta necessita de ter 16 anos e de ter estado pelo menos dois anos na instituição pela qual vai ser inscrito - Moukoko está há quatro.
A qualidade do jovem prodígio não deixa ninguém indiferente e não há qualquer margem para dúvida de que se trata, efetivamente, de um fenómeno de alta escala que até deixou uma das principais figuras da equipa principal perplexa.
«Moukoko é muito melhor do que eu quando tinha 15 anos. Com esta idade ele já está a treinar com o Dortmund. Eu estava em Bryne, na minha cidade natal», salientou Erling Håland à Kicker, ele que «nunca viu um jovem de 15 anos tão bom na vida».
Nada melhor, pois, do que rematar com números. O trajeto de Youssoufa Moukoko começou no St. Pauli, com 33 golos em 21 jogos, e continua em Dortmund, onde já leva 137 golos em 90 jogos. Tique-taque, o relógio está a contar...