«15 minutos, quatro golos e Espanha rendida». Numa altura em que o futebol espanhol (e mundial) centrava praticamente toda a atenção em dois astros - Messi e Ronaldo -, eis que surge um intruso: Alberto Bueno.
Com um poker em 15 minutos, Bueno roubou os holofotes a Messi e CR7 - pelo menos durante uns dias - e, poucos meses depois, deu o salto. Já com Lopetegui no comando técnico do FC Porto, o avançado espanhol foi visto como o potencial substituto de Jackson, mas as expectativas estiveram longe de serem cumpridas.
Lesões, poucas oportunidades e uma «queda» para a equipa B. Bueno esteve quatro épocas ligado aos dragões, mas acabou por ser emprestado para três clubes espanhóis em duas épocas. Depois, seguiu-se uma mudança para o vizinho da Invicta - Boavista.
No Bessa, o espanhol voltou a ser feliz e - em duas épocas - conquistou os adeptos e superou os números das três temporadas anteriores. Agora, Bueno está retirado do futebol profissional e segue na Kings League - competição criada por Piqué - a convite do «amigo» Casillas.
Na sequência do Real Madrid - SC Braga [pode ler aqui a entrevista], o zerozero marcou encontro com Alberto Bueno para uma entrevista mais pessoal: desde a Kings League até às decisões de carreira, o espanhol falou de tudo e assumiu:
«Sinto que a minha carreira profissional, enquanto jogador, está fechada.»
Zerozero: Em primeiro lugar, como surgiu a Kings League na sua vida?
Alberto Bueno: Surgiu quando o Iker Casillas - que foi meu colega no FC Porto e no Real Madrid - começou o seu projeto. Era algo que, na altura, ainda havia algumas arestas a limar, mas sempre vi com o potencial de ser um êxito. Optei pela Kings League também pela magnitude do projeto e pelos presidentes das várias equipas. São todos muito bons e competentes. Mas queria também continuar a fazer algo que me mantivesse distraído.
zz: E é da forma que mantém o ritmo competitivo...
AB: Sim, claro, queria continuar a competir, continuar a fazer algo que me mantivesse distraído e, acima de tudo, disfrutar. Até hoje, o projeto tem crescido imenso e estou muito feliz por fazer parte.
zz: A amizade com Casillas surgiu no FC Porto ou já foi no Real Madrid?
AB: Eu e o Iker éramos colegas no Real Madrid, mas eu era muito jovem e ele já estava assentado na equipa principal. No FC Porto, aí sim, a nossa amizade começou a crescer, mesmo a nível familiar. Posso dizer que temos uma amizade bonita e agora, com a Kings League, estamos a lutar pelo mesmo objetivo, mas temos uma rivalidade saudável [risos].
zz: E o que tem achado da Kings League e como tudo se formou?
AB: Tenho gostado muito porque no princípio estava com a ideia que poderia ser mais show do que futebol. Tinha algumas dúvidas em relação ao formato, mas de facto a Kings League consegue misturar bem o futebol com o espetáculo. Estou contente por me integrar bem na competição e pela possibilidade de, todos os domingos, deslocar-me a Barcelona e conhecer jogadores novos, sendo alguns já profissionais da Liga.
zz: E a Kings League tem captado nomes interessantes: Chicharito, Agüero, o próprio Casillas...
AB: Ronaldinho, Pirlo... e, importa destacar, são nomes que o público, no geral, vêm como craques de uma dimensão enorme. De facto, isto está a crescer muito. Agora, na América do Sul, Miguel Layun [n.d.r: ex-lateral do FC Porto] vai liderar a Kings League Americana e cada vez mais se nota que as pessoas nos veem e disfrutam do nosso espetáculo.
zz: E, agora, o futuro? Ainda pensa em voltar ao futebol profissional?
AB: Neste momento, estou envolvido numa série de coisas: estou num projeto muito grande [n.d.r: Kings League], estou interessado em tornar-me treinador e, ao mesmo tempo, também estou vinculado a vários meios de comunicação, sendo algo que também me deixa satisfeito. Posto isto, sinto que a minha carreira profissional, enquanto jogador, está fechada.
zz: Não consigo não falar da sua experiência em Portugal, obviamente. Foi complicado o começo no FC Porto?
AB: O FC Porto é um clube gigante e, na altura, fui com muita ambição. Até porque vinha de duas temporadas muito boas no Rayo Vallecano e a minha confiança estava no topo. Sempre pensei - e ainda penso - que tinha capacidade e qualidade para ter obtido mais minutos, mas as oportunidades foram poucas. A pior parte foi a tensão no momento em que saí do clube. E o timing de todas estas decisões. A nível pessoal vivi uma etapa muito difícil. Ainda assim, guardo muitas recordações boas do clube, da cidade e do país.
zz: O que faltou para a experiência ter corrido melhor?
AB: Ter minutos e jogar na posição onde me sentia melhor. Com confiança, sou um jogador ofensivo que, num contexto como o FC Porto - dominador na Liga -, eu poderia ter feito números bem melhores.
zz: Jogou um total de nove jogos ao serviço do FC Porto B. Sentiu-se, de alguma forma, desrespeitado pelo clube?
AB: Senti que o meu lugar não era ali. Quando cheguei ao FC Porto, assinei pela equipa principal e o meu comportamento e dedicação foi sempre positivo. Estive numa situação complicada, mas foi algo que acabou por me tornar numa pessoa mais forte. Para além disso, ao estar numa equipa B, tive a oportunidade de conhecer vários jogadores jovens que, hoje em dia, ainda tenho uma boa relação. Viram em mim uma pessoa que os podia ajudar.
zz: Foi ainda treinado pelo Lopetegui: o que pensa do seu trabalho e da sua personalidade?
AB: Primeiramente, eu fui para o FC Porto por causa do Lopetegui, até porque já me conhecia desde os tempos do Real Madrid Castilla. A primeira temporada de Lopetegui até foi bastante boa e lutámos por todos os títulos, no entanto, a segunda temporada teve muitos altos e baixos. É muito bom treinador, mas - na altura - não retribuiu a confiança que eu pensava que poderia ter.
zz: Depois do FC Porto seguiu-se o Boavista. Porquê?
AB: Decidi ir para o Boavista porque procurava estabilidade. Depois do FC Porto, andei por Granada, Leganés, Málaga e andava sempre a mudar de casa e de escolas... Para os meus filhos e para a minha família não era agradável. Assim sendo, o Boavista foi uma oportunidade para garantir estabilidade à minha família e, desde o primeiro dia, senti um grande carinho por parte de todos. No primeiro jogo, recordo-me que marquei um golo muito bonito de livre direto e, logo a partir daí, começou uma relação muito especial. Fui muito feliz no Boavista.