Fechou-se uma página. Ainda não se sabe se todo o livro, que Pizzi continua com contrato com o Benfica, mas é ponto assente de que os principais capítulos estão escritos. É difícil alguém ser unânime quando a avaliação é feita por milhões. Pizzi nem sempre foi consensual, como o próprio Jonas não foi em algumas alturas, embora as conquistas e os golos sejam impossíveis de apagar. E, dessa forma, um e outro fazem parte do leque de maiores figuras do clube no século XXI.
Pizzi 12 títulos oficiais |
Um a marcar muito, outro a marcar e a assistir. Foi quase sempre assim que se apresentaram em campo, o que fazia com que as fotografias que juntavam os dois em festejos fossem muitas, muitas mesmo. Durante cinco épocas, estiveram lado a lado, até o brasileiro terminar o seu trajeto. Coincidência ou não, foi nesse período que Pizzi ganhou praticamente todos os troféus que tem no palmarés, pelo que, nos últimos tempos, bem deve ter suspirado pelas combinações e pelos golos de Jonas.
Do outro lado do Atlântico, acedeu ao nosso pedido para conversar um pouco sobre Pizzi. Começou por ficar bastante surpreendido, pois não sabia sequer da possibilidade de saída. O primeiro contacto deu-se na segunda-feira, ainda não havia oficialização, portanto a conversa ficou agendada para o dia seguinte, já com o Basaksehir a anunciar a contratação do internacional português.
Jonas atendeu, ainda sem encaixar bem a saída do camisola 21.
zerozero: O Pizzi, tal como o Jonas, foi uma das figuras do Benfica este século. De jogador carismático para jogador carismático, qual é a mensagem?
Jonas: Acabei por ficar muito surpreendido por saber dessa notícia, não sabia, mas também não estou no dia a dia, não sei como se passaram as coisas. Falando do Pizzi, cara... [pausa] Um grande amigo que fiz no futebol. Um doce. Tem vários aí. O Pizzi é um doce e, para mim, que estive no Benfica cinco anos, foi com quem mais me identifiquei. Dava-me muito bem com ele, as tabelas, a forma de jogar, no olhar nós entendíamo-nos. Foi um prazer jogar ao lado do Pizzi. Jogámos contra na Espanha e ele brincava comigo: «lá eu ganhava-te sempre» [risos]. Brincava muito comigo. É um ser humano que eu admiro muito, por quem tenho muito carinho e, sem dúvida nenhuma, foi dos que mais gostei de jogar.
ZZ: Vocês estiveram em campo 170 jogos juntos. Chegaram ao Benfica ao mesmo tempo, no mesmo verão. Com que impressão o Jonas ficou na altura?
J: No início é sempre um pouco complicado perceber se ele ia chegar onde chegou, mas lembro-me muito bem dele naquele início, identifiquei-me logo com ele. Eu cheguei só em setembro, a época já tinha começado, ele já estava na equipa e foi logo dos que mais moral me deram: «Pô, você vai rebentar aqui... lembro-me de como era na Espanha, aqui vais partir tudo». Essa conexão que tive com ele foi logo no início e aquelas palavras eram verdadeiras. Gostei de ouvir porque me davam confiança. Lembro-me que, depois da minha estreia, que ate teve aquele golo contra o Arouca, houve aquele jogo na Covilhã, em que o Jesus mudou a equipa e colocou os que não estavam a jogar tanto. No golo da vitória, o Pizzi fez a assistência e na comemoração nós fizemos, assim do nada, ali um festejo em que subíamos e batíamos o peito. Foi logo desde o início essa conexão, de verdade. Até não falo com ele há algum tempo, mas está no lote de jogadores com quem joguei que mais me ajudou em campo.
ZZ: Esse festejo, que vocês faziam sempre, então saiu natural?
J: Sim, sim, foi tudo assim improvisado, mas isso também demonstra isso que eu digo: tivemos uma conexão muito forte logo desde o início. E eu vejo o Pizzi como um jogador muito parecido comigo, muito técnico e muito inteligente. Quer dizer, quem sou eu para falar? Mas ele tabelava, metia a bola no chão, fazia triangulações.
ZZ: Convidamos o Jonas a, com histórias, demonstrar o perfil do Pizzi, quer em momentos de alegria, quer nas tristezas.
J: Basta eu lembrar, nas lesões que tive, que não foram muitas mas que foram graves, o Pizzi era sempre um dos jogadores que ia ter comigo quando eu estava em tratamento, falava comigo, dizia: «Fod****, pá, vamos lá tratar isso que sentimos a tua falta, vem para dentro». Outras vezes brincava: «Pára de gozar, não tens nada, anda lá para dentro» [risos] Puxava muito por mim, perguntava-me muito pelas previsões. Aquilo era bom, eram momentos difíceis para mim e era bom ouvir aquilo. Também me lembro do final, em que eu já não tinha tantos minutos, o Pizzi dizia-me: «Esse papel que estás a fazer, Jonas... parabéns! É muito importante para nós vermos isso, vermos-te a puxar por nós. Não falo por mim, mas pelos miúdos, o Rúben Dias, o João Félix». Era gratificante a forma como ele usava essas palavras e eu tirava força delas. Era um doce.