Mundialmente conhecida, a La Masia - termo comummente utilizado para a formação do Barcelona - é já uma das melhores a nível futebolístico há largos anos e, atualmente, a terceira mais valiosa do Mundo, segundo o último estudo do CIES (Observatório do Futebol), tendo trazido para o mundo do futebol diversos nomes, como Sergio Busquets, Xavi, Iniesta, Puyol, Piqué ou Messi, ou alguns mais recentes, como Pedri ou Gavi.
Enquanto passamos no distrito de Les Corts, perto do Camp Nou, respira-se talento e ambição de chegar à equipa principal do Barcelona. Afinal, estes jovens aprendem desde cedo uma filosofia que está intrinsecamente ligada ao clube há várias décadas, que tem vindo a ser desenvolvida por vários, com maior ou menor sucesso. Afinal, quem não se lembra do famoso tiki-taka e daquela equipa do Barcelona que dominou o mundo do futebol?
Aproveitamos a viagem a Barcelona, onde o FC Porto jogará esta terça-feira, para a Liga dos Campeões, e investigamos sobre a La Masia, para tentar perceber o que a torna tão especial e como é, afinal, a vida das centenas de rapazes e raparigas - até porque nomes como Aitana Bonmatí, atual Bola de Ouro, também fizeram este caminho - que crescem neste mundo encantado do futebol de posse e sucesso.
Pegamos no telemóvel, vasculhamos pela formação do Barcelona e acabamos por contactar Luís Gustavo Ledes, luso-brasileiro que esteve na formação do Barcelona entre 2007 e 2013, antes de representar o Rio Ave, entre 2013 e 2015, e jogou ao lado de nomes como Grimaldo, Rafinha, Sergi Roberto, Luis Alberto, Deulofeu, Adama Traoré, Cuenca, Cristian Tello ou até Mauro Icardi.«Cheguei muito novo, com apenas 12 anos, e fiz toda a formação, até chegar à equipa B do Barcelona. No início foi muito impactante, porque cheguei na era mágica do Barcelona, onde tinham grande jogadores e ganhavam tudo. Era muito bom, porque se via como eles cuidavam de todos os detalhes, da educação dos jovens, dentro e fora de campo. Preocupam-se em integrar na cultura da cidade e da academia. No futebol, aprendemos uma forma de jogar que vais encontrar na equipa principal. Acho que é muito importante, porque se tens formação com o intuito deles chegarem aos seniores, então tens de dar-lhes esses automatismos. Isso é que torna o Barcelona especial. Desde pequeno implementam essa forma de pensar o futebol e isso facilita muito. Contudo, quando o jogador sai, é complicado adaptar-se a uma nova forma de jogar, porque cresceste a jogar e pensar de uma forma específica. Aprendes desde novo uma forma de jogar mundialmente conhecida, que muita gente tenta replicar», descreve o agora jogador dos cipriotas do AEK Larnaca, ao zerozero.
«Senti bastante essa dificuldade quando saí. Um jogador do Barcelona, que está muito tempo no Barcelona, tem na sua cabeça que só aquela forma de jogar é correta. Só aquela forma de ganhar é correta. Vês várias entrevistas do Xavi descontente por não terem jogado da forma que queriam e um jogador quando sai do Barcelona tem isso na cabeça. No primeiro ano sofri muito, porque é um choque. É um mundo, uma bolha, com os melhores médicos e infraestruturas. Depois sais para o mundo real e eu senti muito a diferença», acrescenta.
«O meu primeiro dia vai ficar sempre na memória. Um ano antes de ir para Barcelona estava a ver na televisão a final da Liga dos Campeões entre o Barcelona e o Arsenal (2-1), em Paris, e pouco depois apresentei-me no clube. Aí já os vi a treinar. Vi jogadores como o Ronaldinho, Eto’o, Deco a dez metros de mim e não acreditava naquilo. Achava que estava a sonhar. Nunca pensei, aos 12 anos, estar a ver aquelas super estrelas à frente, depois de os ver na televisão e nos videojogos. Impactou-me bastante. Aquela imagem de um menino de 12 anos que vinha do Brasil, chega à La Masia e vê aquelas estrelas foi um momento muito marcante», conta-nos.
Nem tudo era, no entanto, um mar de rosas, até porque no futebol atual muitos destes jovens são obrigados a deixar as famílias a centenas de milhares de quilómetros para apostar cada vez mais cedo no seu sonho: «Seria ingrato falar de pontos negativos, mas tenho de falar da saudade da família e a adaptação. Nos primeiros meses foi difícil ficar no centro de estágios, ver toda a gente a ir ter com as famílias e eu a ficar ali sozinho com os trabalhadores. Era duro, mas ao mesmo tempo agradeço, porque me fez crescer mais rápido. Eram tristes, mas boas. Não sabia que iam ser boas, mas agora olho e vejo que ajudou muito.»
«Há um jogador que fiquei surpreendido de não virar craque, que era o Gai Assulin, um israelita que era chamado de «Novo Messi». Na formação era incrível e nunca tinha visto algo assim. Depois, não sei porquê, não deu. Às vezes tem a ver com decisões que se fazem na carreira, outras com a vida privada. Falaria também do Bojan Krkic, mas esse teve uma carreira muito boa, foi apenas curta demais [retirou-se aos 32 anos e falou já diversas vezes da pressão psicológica] para o que prometia. Contudo, qualquer jogador gostaria de ter a carreira que ele teve, embora pudesse jogar até aos dias de hoje», conclui.
2-1 | ||
João Cancelo 32' João Félix 57' | Pepê 30' |