Domingo, 21 de agosto. As portas do Metropolitano abrem pela primeira vez na temporada 2022/23, mas a primeira imagem do Atlético Madrid fica aquém das expectativas dos adeptos, que testemunham uma derrota por 0-2 frente ao Villarreal de Emery.
Terça-feira, 1 de novembro. Na ressaca de uma derrota em Cádiz (3-2), os colchoneros foram ao Estádio do Dragão sofrer mais um duro golpe. O Atlético perdeu com o FC Porto (2-1) e assim caiu para o quarto posto do grupo, encerrando a participação europeia na temporada.
«Os dias mais negros do cholismo», escreveu a Marca na capa da manhã seguinte. Seguir-se-ia mais um empate e derrota antes da pausa para o Mundial.
Quarta-feira, 3 de maio. Vingança sobre o Cádiz com uma goleada (5-1) que permitiu ao Atleti fazer o que há uns tempos era impensável: ultrapassar o Real Madrid e subir ao segundo posto da La Liga.
Depois de um início conturbado, com contestação justificada ao treinador, a equipa vive agora, a cinco jornadas do final, uma série que inclui 12 vitórias nos últimos 15 jogos e duas goleadas no espaço de uma semana. Desde o Mundial, só o Barça e o Real conseguiram bater o Atlético, que, de resto, vive em cor de rosa. Impressionante.
Para o público português, há um nome que surge imediatamente: João Félix. Até era um dos elementos em melhor forma antes da equipa subir o nível, mas a verdade é que o reforço mais caro da história do Atlético Madrid desempenhou um papel fugaz nesta nova era.
Continua a ser tema em Madrid, fruto da sua dimensão no clube e o impacto de uma eventual saída. Antes disso também era, em parte devido à instabilidade da relação com Simeone, não raras farpas entre os dois. Quando saiu, agradeceu ao novo clube pela liberdade futebolística que lhe concedeu, mas entretanto perdeu espaço - nem saiu do banco no último jogo - e Lampard, ainda sem vencer nesta nova passagem pelo Chelsea, também lhe começa a apontar os mesmos defeitos que El Cholo.
O ambiente dentro do balneário tem sido muito elogiado pelo treinador do Atlético: «Depois do Mundial, o plantel mudou e isso nota-se. Quem quiser perceber, perceberá», disse Simeone em fevereiro. Ainda assim, dizer que a saída de Félix (e Matheus Cunha) foi o principal fator para a subida de rendimento é, muito provavelmente, uma simplificação de algo mais complexo.
Também é válido o que disse Griezmann, maior figura do clube, mais recentemente: «Não é o João, é o grupo. Depois do Mundial fizemos uma mudança a nível mental e voltámos com muita energia e vontade de trabalhar. O João foi campeão da La Liga no primeiro ano e eu, em nove anos, e ainda não ganhei uma».
Griezmann é, inevitavelmente, quem colhe uma boa porção dos louros pelos resultados do Atleti. O cabelo pintado já é um símbolo da vie en rose do clube.
Mas se o primeiro passo em direção a melhores dias foi essa mudança do estado psicológico da equipa, segundo o internacional francês, é certo que não foi o único. O bom momento iniciado em dezembro foi complementado por Simeone no primeiro jogo de março, goleada (6-1) sobre o Sevilla, com a implementação de um 3-5-2 em detrimento do 4-4-2 utilizado até aí.
Desde essa mudança, Giménez voltou ao onze e não demorou a apresentar o nível de outros tempos, ao lado de Hermoso que, com a lesão de Savic, passou de raramente utilizado a uma das figuras. Ainda assim, o nome do momento no setor defensivo é Molina, que se fez dono de toda a faixa direita, traz aquilo que nunca foi particularmente comum nos laterais de Simeone: golos e assistências.
No meio campo, Rodrigo De Paul começa a atingir aquilo que dele era esperado quando assinou, assumindo-se como uma das figuras da equipa enquanto Kondogbia, tão utilizado na primeira metade da temporada, definha no banco. Pablo Barrios, menino de 19 anos que tinha apenas dois jogos com a equipa principal, soltou-se das amarras e agora mostra toda a sua personalidade dentro de campo.
«Aprendo todos os anos. A vida é aprender todos os dias, até que morra. O crescimento é visível depois do Mundial, e houve muita gente que não confiou em nós, mas para mim é muito bom poder continuar a acreditar nesta equipa».
«Sei o que procuro, acredito no que faço e nunca me importei com o que os outros dizem. Apenas com o que vejo e sinto».Assim reagiu Simeone, depois do apito final no jogo frente ao Cádiz. Estava cumprida um objetivo que até há umas semanas seria considerado utópico, com a ultrapassagem ao rival Real Madrid no segundo posto da La Liga.
A equipa defende melhor do que no início da temporada e o nível ofensivo é um dos melhores que o cholismo alguma vez apresentou. Tudo funciona, e só assim foi possível chegar aqui, independentemente de quem foi ultrapassado. «Seja o Real ou outro, terminar em segundo é importante», atirou Witsel.
2022/23 será dificilmente recordado como um sucesso, devido à trágica participação europeia, mas o que começou mal tem agora tudo para terminar bem. Contam-se cinco jornadas até ao final, e agora a missão real é guardar o posto já conquistado.