... Há ir e voltar. Otávio foi, não se sabe se volta. Moutinho tinha ido e, provavelmente, vai agora voltar. O futebol é cada vez mais fértil nas movimentações, impossíveis de contrariar pelos clubes que resistem aos investimentos externos. Por um bem comum: o dos adeptos. Esses não vão, não saem e também não se esquecem de quem tanto deu, como mostrou o mar azul que lotou o Dragão. A crónica é sobre o jogo, a gratidão é sobre o Baixinho, que deixa o FC Porto mais endinheirado na banca, mas mais pobre em campo.
Sobre ir e voltar, há um Farense que prefere ficar. Na Primeira, neste caso. E agarrar-se-á a tudo, como se viu neste jogo, em que deu imenso trabalho ao FC Porto, chegou a ter o empate na mão e até podia ter tido a vitória nas duas. Sobretudo na segunda parte, com igualdade no marcador, levou ao limite a paciência dos adeptos portistas, que também não tiveram nos seus jogadores o melhor jogo. Seria pelo inicial réu Marcano, mal no golo sofrido, a vitória, com uma aparição na área a elevar o belo trabalho de Gonçalo Borges, desequilibrador cada vez mais importante para Sérgio Conceição.
A época não se prevê fácil para ninguém. Para o FC Porto, sem Otávio, garantidamente vai ser mais difícil. Mas, na história do ir e voltar, nada abranda a vontade global de ser outra vez campeão.
O primeiro desenho de Conceição, a ver desde a bancada, no pós-Otávio apresentou Nico González para adepto ver. Sem o 25, Pepê subiu no terreno, já com João Mário à direita, mas foi pela esquerda que surgiram os primeiros momentos, através da velocidade de Zaidu e Galeno, com a qual os algarvios não souberam lidar. Houve o golo de Toni Martínez e mais uma série de lances de desequilíbrio, que perspetivavam uma superioridade inequívoca.
O golo cedo e a instalação portista no meio-campo contrário fizeram prever uma tarde tranquila, só que não foi bem assim.
Uma reação enérgica para o segundo tempo era o esperado, mas demorou a acontecer. Por mérito do Farense, sereno e confiante a ter bola, e por demérito de um FC Porto que procurou a dinâmica de Pepê, estranhamente apagado e errático.
Pelo meio, paragens e mais paragens. Uns dirão que é anti-jogo puro, outros dirão que tal é uma forma de esbater diferenças entre equipas, mas todos dirão que foi perfeito para o Farense e de enorme irritação para o FC Porto. O público desesperou, como também o fez com as más ações de vários jogadores.
Não puderam, pois, assistir à decisiva criatividade de Gonçalo Borges pela direita, a servir Marcano para o golo que rebentou o estádio de alegria e alívio.
Custou, custou bastante e vai custar algumas vezes, mas a vitória chegou.
Aqui, José Mota foi superior. O seu tridente de meio-campo, experiente, mas muito disponível, soube interpretar muito bem o jogo e criou bastantes dificuldades aos azuis e brancos. Não só a anulá-los, como também em constantes subidas ao último terço, com vários homens.
Pepê esteve uma nulidade e Galeno foi quebrando aos poucos. Faltou muita qualidade ao FC Porto para criar desequilíbrios pelo corredor central, algo a que o mau momento de Taremi também não é alheio. Muito trabalho para Sérgio Conceição, agora que já não há Otávio.