Num jogo, na sua maioria, desinspirado, a Luz de salvação do campeão Benfica veio do banco de suplentes, de onde tantas vezes pareceu, no passado, haver soluções aos olhos de Roger Schmidt. Neres mudou o jogo, Tengstedt finalmente se mostrou e o Benfica venceu o Estrela da Amadora, que esteve muito bem defensivamente, por 2-0, para somar a 1º vitória do campeonato.
14 anos depois, Benfica e Estrela voltavam a encontrar-se para o campeonato, chegando a este jogo provenientes de derrotas, pelo que queriam somar a 1ª vitória na prova, embora com obrigações diferentes para este jogo. Do lado encarnado, Roger Schmidt surpreendeu e deu a titularidade a Samuel Soares, deixando Vlachodimos fora da ficha de jogo, além de colocar Aursnes a lateral esquerdo e estrear Arthur Cabral. Já do lado do Estrela, Sérgio Vieira promoveu quatro alterações no onze inicial, dando a titularidade a Léo Cordeiro, Omurwa, Hevertton Santos e Léo Jabá.
Perante estas mexidas, havia curiosidade para perceber como se ia apresentar o Benfica contra um Estrela da Amadora que, embora se mostrasse confortável e paciente com bola no pouco que a tinha, apostava claramente em defender-se em bloco baixo, com todos atrás da linha da bola e a jogar na transição. Ora, o pós Grimaldo, sem o lesionado Jurasek e Ristic relegado para o banco, mostra um Benfica com maiores dificuldades em penetrar essas defesas, pelo menos para já, até porque Aursnes, embora muito dado ao jogo, não tem essas rotinas.
Outro dos focos era a estreia de Arthur Cabral, que mostrou alguns bons pormenores técnicos na condução, mas mostrou cedo que é muito diferente de Gonçalo Ramos ao nível da pressão e da disponibilidade física em jogo, algo que, a juntar à menor pressão de Di María no seu corredor, poderá ser explorado no futuro, por equipas de outros argumentos. O avançado brasileiro até teve uma boa oportunidade, aos 33', numa das primeiras vezes que conseguiu ganhar espaço entre centrais e ser desmarcado na área, mas atirou à figura. Faltou-lhe mais isso e ao Benfica faltou mais mobilidade e deambulações na 1ª parte.
Tengstedt não marcava há 9 meses: o seu último golo foi em novembro de 2022, ainda ao serviço do Rosenborg - bisou nesse jogo
⚠ Tengstedt é o 3.º 🇩🇰 a marcar pelo Benfica, depois de Manniche e Bah pic.twitter.com/Gfu0NcQJMc
— Playmaker (@playmaker_PT) August 19, 2023
Pedia-se mais dos campeões, se queriam retirar algo do jogo, e Roger Schmidt retirou o amarelado João Neves para dar lugar a Florentino, o que libertou mais Kokçu, mas tirou algum dinamismo ao miolo, até porque o ataque encarnado se mostrou algo previsível no arranque da 2ª parte, incapaz de furar o bloco baixo organizado do Estrela. Já no ataque, os da Amadora mostravam-se capazes de assustar pela velocidade de Ronald e Léo Jabá e este último até ganhou uma grande penalidade aos 57', por alegada mão de Florentino (estava junto ao corpo), mas o VAR reverteu a decisão.
Com tamanha falta de originalidade e dinamismo coletivo, algo raro no Benfica de Roger Schmidt, ia valendo pelos rasgos individuais e, aí, Di María era a principal arma. Os encarnados melhoraram quando o técnico alemão percebeu que Aursnes e João Mário na esquerda não estava a render nada para a equipa e fez entrar David Neres, que trouxe outra vida e outras opções ofensivas.
O jogo ia entrando na fase do desespero e saltou do banco, aos 78', Tengstedt, para o lugar de Arthur Cabral, que teve uma estreia para deixar a desejar. O dinamarquês, que mal tinha sido opção em 22/23, acabou por ter uma entrada gloriosa, marcando apenas alguns segundo após a sua entrada. David Neres foi à profundidade na esquerda, ganhou a linha e cruzou para o primeiro poste, onde Casper encostou para o 1-0 do alívio das bancadas da Luz.
Depois do jogo do Bessa, muito se falou das mexidas de Roger Schmidt terem corrido mal, mas a verdade é que foram elas quem, desta vez, salvou o jogo. David Neres foi todo um upgrade em relação a João Mário na esquerda e Tengstedt teve um efeito imediato, bem mais eficaz que Arthur Cabral. A vida de treinador é assim.
Há mérito tático e organizacional do Estrela na forma como se defendeu, quer se goste do bloco baixo, ou não, mas muito demérito ofensivo do Benfica, que até à entrada de David Neres foi super previsível e facilitou a vida tricolor. O campeão tem que se espevitar.