O ano civil da Liga bwin acabou com a primeira derrota da temporada do líder Benfica. Depois do Campeonato do Mundo, os encarnados saíram de Braga vergados ao peso de um desaire por 3-0, com Ricardo Horta a assinar um «bis».
O momento. Aquele vórtice que não se explica mas se vê. O momento. O Benfica, líder intocável até novembro, tinha-o dominado e subjugado, tantas vezes fator acima das questões táticas e técnicas. O futebol é, tantas vezes explicado de forma simples, o momento. E depois do Mundial, o momento trouxe outro Benfica... sem escudo no momento que vivia.
Há jogos em que o óbvio não se belisca. Foi óbvio como Uros Racic e Al Musrati dominaram a sala de máquinas do encontro; tão óbvio como o contrário do outro lado. Florentino Luís e Enzo Fernández, dois «pesos» ausentes do futebol encarnado. Ao segundo, porventura, muitas causas se poderão apontar. As notícias dos últimos dias não passam incólumes a ninguém.
Foi uma avalanche aquela que atropelou o líder. Uma avalanche de bom futebol arsenalista. E tudo começou com o «tiro» de Abel Ruíz pouco depois do primeiro minuto. Entrada de sonho, um sonho que perdurou tempo fora. Sempre por cima, a equipa de Artur Jorge fez tudo bem no «buraco negro» daquilo que o Benfica fez tudo mal.
Ainda antes do segundo golo, Abel Ruiz podia ter sido novamente feliz - erro grosseiro de Florentino à entra da área -, mas Odysseas Vlachodimos evitou o inevitável com uma grande defesa. Inevitável, pois claro. Na viragem da meia hora, Niakaté iluminou o jogo no meio e o resto foi talento à solta nos homens da frente; Ruiz acabou por assistir Ricardo Horta para o 2-0.
O Braga, depois de 45 minutos perfeitos, até deu a sensação de querer aguardar com menos fulgor aquilo que as águias traziam para a segunda parte. E foi nesse breve interregno do óbvio que o Benfica teve as raras aproximações perigosas à baliza de Matheus: primeiro com um cabeceamento de Gonçalo Ramos ao lado, depois no remate de Aursnes que o guarda-redes brasileiro sacudiu em voo, para canto.
Foram breves fogachos, nada mais. Porque na expetativa, o Braga soube aproveitar o espaço. Foi assim que chegou ao 3-0, num lançamento longo de Matheus, no duelo ganho de Iuri Medeiros com Bah e na finalização de Ricardo Horta; «bis» do capitão, que no verão chegou a ter viagem marcada para Lisboa.
E foi na simplicidade do óbvio e do momento que, à 14ª jornada do campeonato, o Benfica sofreu a primeira derrota da época. Depois da eliminação precoce na Taça da Liga, a equipa de Roger Schmidt vai ter de saber viver com o primeiro grande período de perturbação. O Braga, por sua vez, voltou a mostrar que, não fosse alguma inconstância, e sonhos maiores não seriam meras miragens.
Para lá do fracasso coletivo do Benfica, há a enaltecer a primeira parte perfeita do Braga. Com o golo praticamente no primeiro minuto, a equipa de Artur Jorge partiu para 45 minutos exímios em todos os momentos. O lance do 2-0 foi o momento alto dessa exibição sublime.
Há para todos o direito a um jogo mau, mas quando as últimas semanas foram contadas em números de muitos milhões e com um prémio de melhor jogador jovem do Mundial, a exigência é outra. O argentino pode estar com a cabeça no Benfica, mas não esteve, em momento algum, com bom futebol em Braga.