Em Lisboa, o Sporting perdeu tudo. Em Marselha, os leões ganharam qualquer coisa. A equipa de Rúben Amorim só precisava de um empate para seguir em frente na Liga dos Campeões e o cenário até começou por ser perfeito. Arthur Gomes adiantou a formação leonina, que ao intervalo era primeira classificada do grupo, mas uma segunda parte mal conseguida por parte da equipa de Rúben Amorim deitou tudo a perder.
O Eintracht virou o resultado (com um erro crasso da equipa de arbitragem) e o Sporting não teve capacidade para inverter o cenário de terror, que minutos antes era de festa. Foi já quase sem adeptos nas bancadas que, em Marselha, o Tottenham marcou e mandou os leões, que antes estavam fora das competições europeias, para a Liga Europa. Um mal menor numa noite que podia ter sido de festa rija.
«No ano em que fomos campeões sentia-se qualquer coisa no ar.» As palavras pertencem a Rúben Amorim e foram ditas antes da conferência de imprensa da partida com o Eintracht. Agora, a sensação é totalmente diferente. Sente-se no ar que tudo o que puder correr mal aos leões, vai correr mal. Esta noite quase comprovou essa teoria, até que...
O melhor dos cenários apurava o Sporting em primeiro e esse foi um cenário que se verificou em parte da noite. A vantagem construída pelos leões na primeira parte e o resultado da partida em Marselha colocaram o Sporting virtualmente nos oitavos e logo como primeiro classificado do grupo. Havia, no entanto, outros cenários. Todos possíveis, mas um com menos probabilidade do que todos os outros. Ainda que a matemática nos dissesse que as hipóteses de o Sporting terminar em quarto lugar fossem menores, o momento dos leões dava a sensação que o contrário poderia acontecer. Foi dando cada vez mais, até que...
Já lá vamos. Comecemos pela parte boa da história. O momento em que Portugal teve três equipas nos oitavos de final da Liga dos Campeões. O momento em que Ugarte, limitado, dominou o meio-campo. O momento em que Arthur Gomes, a surpresa lançada por Amorim, fazia tudo bem, até um remate com a canela.
O Sporting adiantou-se dessa forma no marcador, depois de um cruzamento de Porro, mas antes disso já tinha mostrado personalidade para ir atrás da vitória e deixar para trás o sentimento de que um empate era suficiente. A mensagem passada por Amorim foi essa e em campo isso ficou evidente, mesmo com limitações físicas - além de Ugarte, Coates estava em dificuldades e Nuno Santos saiu lesionado - e técnicas - Paulinho esforçou-se muito, mas teve uma noite desinspirada neste capítulo.
Enquanto houve pernas e não houve um Eintracht sólido a meio-campo (uma alteração mudou o jogo), o Sporting aproveitou. Além do golo de Arthur, um contra-ataque conduzido pelo brasileiro podia ter terminado em golo de Ugarte. O uruguaio atrapalhou-se. Nem tudo podia sair bem. Só que, com o passar dos minutos, tudo começou a correr cada vez pior. Até que...
Já estava a ver o cenário que se foi traçando em Alvalade, não já? Ao intervalo, tudo eram rosas. Nas bancadas de Alvalade, os adeptos aproveitaram para cantar e saltar. O problema veio depois.
O apito do árbitro Slavko Vincic, que acabou por ficar de forma direta ligado ao resultado, iniciou uma segunda parte que acabou por ser, em grande parte, penosa para os leões e de festa para os alemães. Oliver Glasner teve tirada certeira quando juntou Rode à luta do meio campo e soltou Kamada, retirando de jogo o desinspirado Lindestrom. O jogo mudou por completo.
Ugarte foi o rosto do Sporting. O uruguaio aguentou as limitações até onde deu, mas teve um limite. Tal como a formação leonina.
Os leões foram encostados ao último terço com o passar da segunda parte e a luta cada vez mais desequilibrada no meio-campo acabou por castigar a equipa de Rúben Amorim. O lance do penálti marcado a Coates foi, na nossa opinião, mal marcado, mas não explica tudo.
Kamada adiantou um Eintracht que já estava a ser melhor há largos minutos e Amorim tentou tapar o buraco. Só que este Sporting, o «deste ano», não tem mantimentos para tapar buracos. A entrada de Essugo, um médio de 17 anos ainda com poucos minutos na equipa principal, numa altura decisiva da época, mostra isso mesmo.
Um leão sem argumentos, que tombou logo a seguir, com a força de Muani a expôr a limitação de Gonçalo Inácio. Mais um exemplo do que estava a ser aquela segunda parte. No final houve coração, a entrada de Jovane (ao contrário de Trincão, que foi acumulando erros) agitou, mas faltou força e capacidade para mais. Tudo correu mal. Até que...
O Tottenham marcou nos descontos e o Sporting concretizou o terceiro pior cenário. Os leões estão fora da Liga dos Campeões, mas seguem agora para a Liga Europa. Um mal menor para um leão que, pelo começo da fase de grupos, merecia acabar com alguma nota positiva. Agora saberá a pouco, mas em fevereiro...
Não está diretamente relacionado com este jogo, mas foi mesmo o melhor que o Sporting conseguiu retirar da partida. Um golo do Tottenham nos descontos, em Marselha, fez com que os leões continuassem a disputar competições europeias em 2023. Sabe a pouco, mas é melhor do que nada.
Há claramente um Sporting diferente na segunda parte. Isso deve-se ao mérito da equipa alemã, que passou a dominar o encontro com duplo pivot, mas também à falta de capacidade física da equipa de Rúben Amorim. Nota-se que os leões precisam de respirar, mas quando houver tempo... será tarde demais.