Teatro amador, pouco futebol e um finalista mais do que justo. Um Clássico feio, e dos feios, decidido por um protagonista improvável: Toni Martinez.
Dúvidas desfeitas – para quem as tinha -, apesar da pobreza cénica dos primeiros 45 minutos. Em abril de 2022, o FC Porto é superior ao Sporting em todos os itens de jogo.
Mais determinado, mais confiante, mais sabedor das próprias limitações. Provavelmente por isso, Sérgio Conceição quis a equipa expectante e a defender num bloco médio até ao intervalo, para soltar a cavalaria e tudo o que a equipa tem de bom no segundo tempo.
Em resumo, o FC Porto foi de baixo (primeira parte desconsolada) para cima no Clássico, enquanto o Sporting passou de uma exibição assim-assim para uma francamente má. Principalmente para quem tinha de ameaçar o rival e fazer dois golos.
Empatados no desastre do primeiro tempo – o FC Porto mais por estratégia, o Sporting por incapacidade -, dragões e leões tiveram, além disso, o condão de entrar no mundo das fitas e da camuflagem.
Complicaram a vida ao árbitro Nuno Almeida (nota positiva) e perderam demasiado tempo naquelas patranhas que fazem mais falta num mercado de Banguecoque do que num relvado de futebol.
No bloco de notas há a oportunidade desperdiçada por Zaidu, isoladíssimo na cara de Adán, e nada mais de relevo. Pobre, pobre, paupérrima a primeira parte do jogo.
Até aí, o Clássico era feio e dos feios, como dizíamos. Nada contra a estética dos intervenientes, tudo contra alguns comportamentos pouco colegiais.
Infelizmente, os grandes duelos em Portugal estão cada vez mais marcados por este lado negro do jogo. Culpa dos responsáveis, dos adeptos, certamente da comunicação social. Mea culpa, mea culpa.
Matheus Nunes teve a única oportunidade do Sporting ao abrir o segundo tempo. Enganou-nos a todos. Quem adivinhou um leão atrevido, feroz, ferido no orgulho a partir daí, só viu um atropelo e fuga. Culpado: o dragão.
A partir dos 50 minutos, o ADN injetado por Conceição agarrou o Clássico. Pelos colarinhos. Não mais o largou.
A pressão alta passou a obrigar o Sporting a cometer erros atrás de erros – quantas bolas perdeu Ugarte? -, a baixar os níveis de conforto e a tremer. Não dizemos tremer literalmente, mas claramente a temer as recuperações em zonas altas do FC Porto.
Fábio Vieira e Vitinha, desaparecidos no primeiro tempo, passaram a ter muita bola e os disparos passaram a ser prática corrente na baliza de Adán.
Do Sporting, note-se, nem sinais de vida.
Aos 82 minutos, com o Jamor em ponto de vista, o golo solitário. Pepe (grande exibição), amnistiado por uma providência cautelar, fez um passe perfeito e Toni Martinez completou o desenho. Receção e remate de pé esquerdo.
Que tal, muchacho?, terá perguntado ao compatriota Adán, já com a bola a beijar a rede.
O árbitro assistente levantou a bandeira, o VAR repôs a justiça e validou a jogada.
Lembram-se do Clássico dos feios? A partir daqui foi mais do mesmo. Comportamentos reprováveis e evitáveis de parte a parte, uma expulsão mais do que justa e duas certezas: o FC Porto é a melhor equipa portuguesa e o ambiente no futebol lusitano está irrespirável.
Tem jogado poucos minutos, mas o trabalho no golo é notável. Decidiu o Clássico e figura neste espaço por direito próprio. Justifica mais qualquer coisa nas opções de Sérgio Conceição.
Não foi tão grave como no jogo de fevereiro, e dificilmente poderia ser. Mas voltou a ser feio, principalmente depois do golo do FC Porto. Os jogadores têm perceber que há câmaras por todo o lado e um estádio cheio a ver tudo. Não pode ser assim.