Raúl Jiménez. Outra vez ele. O herói de Coimbra voltou a vestir a capa em Vila do Conde e oportuno, felino como se pede a um matador, puxou o tri um pouco mais para perto da Luz. O Benfica venceu por 1x0. Não jogou bem, mas provou, outra vez, que há alma e chama imensa para chegar ao destino.
Quando ainda dentro do primeiro minuto de jogo Jardel ficou a centímetros do golo – valeu o corte soberbo de Pedrinho sobre a linha -, a promessa era de um Benfica afirmativo e dominador à procura de recuperar o trono da Liga. Mas foi uma falsa promessa, porque depois do susto o Rio Ave soube pôr em prática o plano delineado e foi um autêntico para-vento do futebol encarnado.
Ora baixando as linhas, cercando as armas mais perigosas do Benfica, ora em pressão média/alta, a formação da casa soube quase sempre anular os esboços ofensivos do bicampeão. Héldon, Kuca, Guedes e Pedro Moreira formavam a primeira barreira ao voo da águia, espreitando depois no momento atacante qualquer vulnerabilidade na defensiva do Benfica.
Assim, o jogo na primeira parte foi, antes de mais, marcado por um Renato Sanches pouco assertivo no passe e por um Jonas perdido entre linhas. O brasileiro procurou quase sempre fugir aos centrais – onde Mitroglou foi presa fácil -, mas depois faltava o génio para encontrar o espaço. Tarantino e Wakaso eram guardas de honra do meio-campo e raras vezes perderam o sentido.
Para quem tinha perdido a liderança na véspera, o Benfica era exageradamente errático. Pizzi está estranhamente instável, longe do equilibrador e motor de outras noites. Só Gaitán procurou sempre, do primeiro ao último minuto, quebrar a mediana. Esteve perto do golo aos 32 minutos, num bom remate de meia distância que Cássio desviou com os olhos. E seria ele a carregar o melhor Benfica no regresso para a segunda parte.
De cara lavada e alma renascida, ainda que nem sempre com o melhor futebol. O Benfica da segunda parte já foi mais líder, mais campeão. Entrou disposto a agitar as águas e a mudar a maré; quatro ocasiões flagrantes, entre o minuto 50 e o 57, repartidas por Gaitán, Jonas e Mitroglou. A promessa de golo voltou nas asas da águia e o Rio Ave encolheu-se, forçado, à sua toca. Rui Vitória percebeu o momento e lançou Salvio para o lugar de Pizzi, dotando o Ferrari de alguns cavalos extra.
Mas apesar de tudo, a felicidade encarnada tardava em chegar. A alma era grande, o futebol nem por isso. Mas Rui Vitória ainda tinha nova cartada em mãos; a mesma de Coimbra, a mesma de São Petersburgo. Raúl Jiménez. Rendeu o apagadíssimo Mitroglou aos 67 minutos e aos 73' trouxe a felicidade à maré vermelha nos Arcos. Vilas Boas desviou um cruzamento para a trave e o mexicano, com faro de golo, apareceu ao segundo poste para desfazer o nulo.
O resto foi pura loucura, sobretudo nas bancadas. Até ao apito final de Artur Soares Dias nenhuma benfiquista se voltou a sentar. Foi emoção em estado puro, como pede o futebol. E assim o Benfica é novamente líder. E para a semana há clássico à distância, entre FC Porto e Sporting. O veredito final está cada vez mais próximo.