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Rudi Voller: O Homem dos Títulos Dourados

Texto por Duarte Monteiro
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Um homem de contrastes. Uma espécie de “Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, como o descreveu o jornal alemão Die Welt. Rudi Völler, e a sua famosa cabeleira encaracolada, qual tesouro de estado alemão, é tido como um gentleman de coração generoso, mas de feitio temperamental. Adorado no seu país, é ídolo em Roma e em Marselha, onde viveu os dois momentos mais altos da carreira (ainda que na «Cidade Eterna» com a camisola da seleção). «Rudi» é uma figura de culto com direito a um hino próprio.

Pé quente e língua afiada

Natural de Hanau, cidade a Leste de Frankfurt, Rudi Völler rapidamente ganhou nome em todo o país, quando, depois de paragens em Offenbach e em Munique (1860), entre 1977 e 1982, se mudou para o Werder Bremen. Nas cinco temporadas que passou no emblema do norte da Alemanha, o ponta de lança assinou por 103 vezes o seu nome na lista de marcadores, isto em 149 jogos.

Atravessado na garganta está o facto de nunca ter sido campeão alemão. Esteve perto, em 1986, mas uma grande penalidade falhada pelo colega de equipa Michael Kutzop, na penúltima jornada, em Munique, frente ao Bayern, impediu esse sonho. Três anos antes, em 1983, Völler tinha sido o melhor marcador da Bundesliga, com 23 golos.

A primeira metade dos anos 80 foi a da inequívoca afirmação do jogador e do homem. Aos golos que ia somando, Völler acrescentava um caráter forte, não recuando sempre que o momento pedia palavras claras. O episódio mais marcante aconteceu em 2000, já como treinador da seleção alemã. Depois de um empate (0x0) na Islândia, e perante as críticas que ouviu em estúdio por parte dos comentadores, Völler «explodiu.»

«Tu [jornalista] já bebeste três cervejas e estás aí sentado de forma descontraída», começou por dizer, virando-se depois para Günter Netzer, outra figura maioria do futebol alemão. «É uma porcaria, uma merda… ele quando jogava era de cadeirinha.»

Itália, Roma… e uma «queda» para a glória

Puxando a fita atrás, chegamos a Roma. Em 1987, Völler decidiu emigrar e escolheu a capital italiana para prosseguir a carreira, rapidamente conquistando o seu espaço na equipa e no coração dos tiffosi da AS Roma. Venceu uma Taça de Itália e fez do estádio Olímpico a sua nova «sala de estar», onde no verão de 1990 acabaria por viver o momento mais marcante da carreira.

Com Brehme, os heróis da final @Getty / David Cannon
Já depois da célebre cuspidela de Rijkaard, nos oitavos de final, Völler jogava a final do Campeonato do Mundo em pleno Olímpico de Roma, diante da Argentina. O jogo arrastava-se em cima do 0x0; prolongamento à vista. E é então que o avançado de cabelo loiro e encaracolado cai na área; um apito entoa nos ouvidos de mais de 80 mil adeptos: Penálti. Andreas Brehme assume a responsabilidade e faz da Alemanha campeã do mundo. Mas é a queda de Völler que está na génese. Até hoje, há quem diga que foi um «mergulho.» E Maradona ficou de mãos vazias.

Mudança para França «dá-lhe» a Champions

168 jogos e 59 golos depois, o alemão fez as malas e segue para Marselha, onde, no ano em que a Taça dos Campeões Europeus passou a ser a Liga dos Campeões, alcançou o segundo momento marcante da carreira. Em 1993, os franceses bateram o AC Milan na final da prova, em Munique, por 1x0, e sagraram-se campeões da Europa; e Völler também, naturalmente.

Dois anos na Côte D’Azur, onde chegou a ser colega de equipa de Paulo Futre (5 jogos). Depois, o Marselha afundou-se no escândalo de corrupção e Völler, tal como Futre e tantos outros, abandonaram o Vélodrome. Então com 34 anos, o avançado deu o último passo na carreira como jogador, ao assinar pelo Bayer Leverkusen, no verão de 1994.

Apesar de viver os últimos metros do seu percurso como atleta, ainda apontou 26 golos em 66 jogos, antes de anunciar a sua retirada no final da época 1995/96.

«Bombeiro» da Mannschafft deu-lhe direito a hino

O adeus aos relvados não significou o «esquecimento» de Völler. Pelo contrário. Ainda que tenha tido mais sucesso como jogador, o alemão viveu momentos relevantes como treinador. Em 2000, depois da eliminação desastrosa da Alemanha no Campeonato da Europa, Rudi foi chamado para substituir de forma interina Erich Ribeck até que Christoph Daum pudesse assumir a seleção. Mas este último acabou por ser suspenso depois de ter acusado consumo de cocaína e Völler… ficou.

Foi sobretudo selecionador @Getty / Paolo Bruno
Ao leme de uma seleção alemã desfeita e ultrapassada (na idade e no estilo), Rudi operou um autêntico «milagre». No Mundial de 2002, chegou à final, que acabaria por perder para o Brasil. Mas, atendendo às circunstâncias, o trabalho do ex-goleador foi excecional; de tal forma que nesse mesmo ano a banda La Rocca lhe dedicou a música “[Es gibt nur] Ein Rudi Völler” - «Rudi Völler há só um», que rapidamente se tornou um hino de culto entre os adeptos alemães.

O percurso como selecionador terminaria no Euro 2004, em Portugal. A Alemanha, em pleno processo de reestruturação, ficaria pela fase de grupos e Völler, já lenda intocável, dizia adeus por decisão própria. Ainda assinou pela sua «paixão italiana», a AS Roma, mas diferenças com a direção levaram-no a sair ao fim de… um mês.

Rudi Völler acabaria por permanecer algum tempo sem um papel de destaque no futebol, até que, em 2011, passou a integrar a estrutura diretiva do Bayer Leverkusen. Primeiro como Diretor Desportivo e desde 2019 como Diretor Geral para o futebol, Rudi Völler é hoje um homem respeitado pelo seu trabalho de gabinete, ainda que na memória daqueles que o viram jogar o seu faro para o golo persista como imagem de marca.

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Rudi Völler (GER)

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