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    Helmuth Duckadam: O Herói de Sevilha

    Texto por João Pedro Silveira
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    A equipa do Steaua que venceu a Taça dos Campeões Europeus em 1986 era composta por alguns dos maiores nomes que o futebol romeno já produziu como são o caso de Victor Piturca, Marius Lacatus, Stefan Ivanov, Gabi Balint, Anghel Iordanescu, Lazlo Boloni ou Miodrag Belodedici.
     
    Este conjunto de jogadores que soma 380 internacionalizações pela seleção nacional romena, contudo, o nome que se destaca dessa histórica vitória é um jogador que só por duas vezes representou a seleção do seu país.
     
    O seu nome é Helmuth Duckadam, guarda-redes do Steaua em Sevilha, um dos heróis esquecidos do futebol romeno e europeu...
     
    Suábios 
     
    Helmuth Robert Duckadam natural de Semlac, na região de Arad, Roménia, nasceu numa família de língua e cultura alemã, há muito estabelecida no país. Há séculos que populações alemãs se tinham radicado na Hungria, na Croácia, Sérvia, Bulgária e também na Roménia, onde formaram comunidades que prosperaram e que no começo do século XX eram parte integrante das comunidades locais.
     
    No atual  território romeno existiam dois grandes grupos de língua e cultura alemã: os saxões da Transilvânia e os suábios de Banat. 
     
    Duckadam era um suábio de Banat assim como a prémio nobel da literatura Hertha Müller ou o campeão olímpico de natação Johnny Weissmuller (nome de nascimento Johann Weißmüller), mundialmente conhecido pelo seu papel de Tarzan nos filmes de Hollywood nos anos 30. O poeta Paul Celan (nome de nascimento Paul Antschel), um dos grandes autores da língua alemã também nasceu na Roménia, mas filho de uma família judaica, numa localidade que hoje em dia faz parte da Ucrânia.
     
    O papel do grupo étnico alemão na Roménia não foi fácil depois do fim da Segunda Guerra Mundial, pois a Roménia fora aliada da Alemanha Nazi e muitos dos alemães da Roménia tinham colaborado com o regime ditatorial de Antonescu. 

    Com a chegada dos soviéticos e a ascensão dos comunistas, as populações germânicas da Roménia passaram a viver debaixo da suspeita do seu passado alemão e de eventuais simpatias nazis. Foi nesse ambiente difícil do pós-guerra que Duckadam cresceu.
     
    Primeiros passos
     
    Apaixonado pela bola começou a jogar Semlecana Semlac, Scoala Sportiva Gloria e UTA Arad. O seu primeiro contrato como sénior seria no Constructorul Arad, mas só em 1978 assinou o seu primeiro contrato como profissional no UTA Arad.
     
    Internacional esperança em 1981, seria chamado no ano seguinte à seleção romena, jogando duas partidas pelos tricolorii.
     
    O sucesso no UTA e na seleção despertou o interesse do poderoso Steaua e Helmuth mudou-se de armas e bagagens para a capital. Ao serviço do clube do exército o jovem brilhou, mas curiosamente não voltou a ter nenhuma oportunidade de vestir a camisola número um da seleção.
     
    Seria ao serviço dos militarii que Duckadam ganharia um lugar na história da modalidade. Bicampeão, guardou as redes do clube na final da Taça dos Campeões Europeus em 1986. 
     
    Herói de Sevilha
     
    O jogo contra o Barcelona ficou na história do futebol romeno ao tornar possível que pela primeira vez um clube do país conquistasse uma competição europeia. Nunca antes um clube romeno ou a seleção chegara tão alto. Inclusive nenhum clube de leste conquistara tal competição e o Steaua tornou-se o primeiro de um clube que até aí só contava representantes ocidentais: Espanha, Portugal, Itália, Inglaterra, Alemanha, Holanda e Escócia. 
     
    Se o 7 de maio de 1986 ficou marcado a letras de ouro na história do futebol romeno muito se deve a Helmut Duckadam. Além de uma imaculada exibição em que ajudou o Steaua a segurar o zero a zero durante 120 minutos, seria fundamental no desempate por grandes penalidades, defendendo quatro remates seguidos (todos!) de José Ramón Alexanko, Ángel Pedraza, Pichi Alonso e Marcos, tornando-se o primeiro guarda-redes a fazê-lo num jogo das competições europeias. O Steaua venceu 2x0 e o Barça nem nos penáltis conseguiu bater Duckadam. 
     
    Duckadam tornou-se de um momento para o outro na estrela da equipa, com direito a grande destaque na imprensa internacional e foi recebido em Bucareste como um grande exemplo do herói socialista, recebido juntamente com os colegas por Ceausescu e demais autoridades romenas. Duckadam tornara-se para todos os romenos o Eroul de la Sevilia (Herói de Sevilha) e a alcunha ficou para sempre...
     
    Doença e rumores
     
    Poucas semanas depois da final, a 12 de julho, Duckadam deu entrada num hospital com uma trombose no braço direito. A situação era tão grave que se ponderou uma amputação. Felizmente não seria preciso e Duckadam pode manter o braço, mas a carreira de futebolista ficava irremediavelmente adiada. 
     
    Durante três anos Duckadam não jogou mais, voltando para Arad onde passou a trabalhar. Seria no Vagonul Arad que voltaria a tentar a sorte no futebol em 1989, mas a carreira nunca mais recuperou da interrupção e acabou por abandonar em 1991.
     
    Durante anos correu uma versão alternativa do abandono de Duckadam. Anos mais tarde a imprensa francesa fez eco de um rumor que corria desde 1986 que explicava o abandono da carreira não por razões de saúde, mas por questões políticas. 
     
    Segundo esta versão da história, Duckadam recebera um Mercedes Benz de Rámon Mendoza, que era então o presidente do Real Madrid, o que faria supor um acordo para se mudar de Bucareste para o Santiago Bernabéu. 
     
    O carro não chegou logo às mãos de Duckadam que entretanto recebeu a visita da Securitate, a polícia do regime, que o tentou convencer em vão a ceder o automóvel a Nicu Ceausescu, filho do ditador Niculae Ceausescu e irmão do Presidente do Steaua, Valentin Ceausescu. 
     
    Tal recusa custou caro a Duckadam que teria tido os braços e mãos fracturadas pelos "gorilas" da Securitate.
     
    Vida complicada
     
    Quando o terrível regime de Ceausescu caiu a 25 de dezembro de 1989, Duckadam trabalhava na Politia de Frontiera, uma polícia fronteiriça na sua terra natal, Semlac.
     
    A Roménia vivia momentos complicados e a crise pós-revolucionária levou muitos romenos a procurar novos caminhos. Duckadam abriu uma escola de futebol com o seu nome em Semlac, mas acabaria por ter de fechá-la por dificuldades financeiras. O sua mão para os negócios não parecia ser tão boa como era para os penáltis. 
     
    Anos depois tentaria a sua sorte em Phoenix, Arizona, mas regressaria ao país um ano mais tarde, desiludido com a experiência como emigrante. Regressado dos Estados Unidos da América tentou a carreira como político filiando-se no PNG- CD(Partido da Nova Geração - Cristão Democrata), onde se tornou vice-presidente e pelo qual concorreria às eleições regionais em Arad. 

    Em 2008 seria condecorado pelo Presidente da Roménia Traian Basescu com a Ordem de Mérito Desportivo e dois anos mais tarde o proprietário do Steaua, George Becali, nomeou-o Presidente do clube. 
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    Fotografias(1)

    Helmuth Duckadam

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