Bom futebol, expulsão, raça, golos, erros, atitude, emoção, euforia e desespero. Junta-se tudo, mete-se num estádio, mexe-se durante 90 minutos e está pronto a servir. O Boavista x Vizela teve tudo isto e ainda teve como condimento extra o facto de se jogar na tradicional tarde de domingo, fria mas solarenga, com 4.332 adeptos na bancada (bela mancha azul que viajou de Vizela) e podia ter acabado com triunfo do Boavista, que jogou toda a segunda parte com 10 jogadores, que recuperou de duas desvantagens e que desperdiçou um penálti no último minuto dos descontos. Teria sido épico, assim foi apenas justo, que o Vizela também fez muito. Obrigado a ambos.
A vantagem que o Vizela registava ao intervalo era curta, mas justa. Provavelmente, um 1x2 traduziria melhor o que tinha sido esse período, em que os vizelenses foram globalmente superiores, mas no qual as duas equipas foram capazes de criar boas oportunidades.
O Boavista, que não entrou bem, pareceu lidar mal com duas coisas e bem com uma: mal com a ausência de Sauer e com um relvado reforçado com areia e que exigia um toque diferente, que as panteras muitas vezes não tiveram; bem com a defesa tremida do Vizela. A equipa de Álvaro Pacheco está num momento em que respira confiança, ainda que o setor defensivo esteja longe de ser sólido (mesmo que Anderson já signifique melhorias), só que a criação axadrezada só resultava em perigo quando desaguava em Musa, já que Gorré atrapalhou mais do que ajudou.
Ora, essas oportunidades interromperam um Vizela por cima, sobretudo até ao golo. Com uma belíssima energia vinda da bancada (um milhar de adeptos de azul), os minhotos começaram por controlar o jogo, bem longe de optarem por uma postura passiva. Quando tinham bola, seguiam para a baliza e criavam oportunidades, como a de Cassiano, que Tiago Ilori impediu - ele que seria o segundo a sair na primeira parte por problemas físicos, que pareceram resultar desse lance.
Antes já tinha saído Guzzo, também azarado, visto que estava a reconquistar a titularidade nos últimos jogos. Saiu antes de um livre lateral, entrou Samu, que apareceu ao segundo poste e cabeceou para a baliza. Que entrada!
Por falar em entrada, viu-se exatamente o oposto do outro lado. Luís Santos, quetinha substituído Ilori, só durou 15 minutos: logo no início da segunda parte, com uma entrada muito dura, viu vermelho depois de o árbitro ter ido ver as imagens. E parecia que tudo estava pior para o Boavista...
O que se viu foi, porém, um despertar da equipa de Petit, que fez da contrariedade uma enorme força. Também houve algum demérito da equipa vizelense, que não soube controlar o jogo à frente do seu último terço, mas percebe-se que tal tenha acontecido pela tal irregularidade defensiva que a equipa apresenta.
O Boavista empatou de penálti, o Vizela voltou a adiantar-se numa excelente jogada entre Rashid (entrou e a equipa melhorou), Cassiano e Samu, que bisou, mas novamente se viram os adeptos axadrezados a festejar, num excelente movimento de Musa, pleno de oportunidade e a demonstrar que é um jogador de nível superior.
Tudo muito rápido, tudo muito enérgico... tudo muito desgastante. Com 20 minutos para jogar, o Boavista recolheu mais atrás, ciente de que o esforço dispendido por cada jogador tinha de ser superior, atendendo à inferioridade numérica, e entregou a iniciativa ao Vizela novamente. Aí, sentiu-se que também a equipa de Álvaro Pacheco estava curta, sobretudo em frescura mental.
Foi tendo bola, mas sem a mesma qualidade, pois Kiko Bondoso já quebrara e Samu passou a ser mais marcado (pudera...). Além disso, a saída de Cassiano, que começou por ser insultado e acabou aplaudido, tirou à equipa um elemento fundamental para segurar bola e dar capacidade de choque na frente.
Ou seja, a qualidade dos últimos minutos foi menor e o jogo acabou com um justo empate... mesmo que tenha surgido um penálti no fim dos descontos, fruto de um disparate de Pedro Silva a derrubar Porozo, mas resultante num disparate de Hamache, a rematar por cima e a desperdiçar soberana oportunidade.
Claro que nem sempre foi um jogo bem jogado, mas teve tudo o que já descrevemos no começo do texto. E, para quem pagou o bilhete, foi uma tarde bem passada. Ninguém sai satisfeito (o que é o normal num adepto de futebol), mas todos se envolveram no jogo. Bonito quando é assim.
Aconteceram bastantes, o que também deu algum sal ao jogo, mas há três que sobressaem: a entrada desnecessária de Luís Santos, o penálti de Pedro Silva e o desperdício de Hamache.
Arbitragem com muito trabalho, com critério apertado, mas que foi globalmente correto. Dúvidas apenas na cor do cartão a Cassiano na primeira parte: viu o amarelo, mas a entrada foi arriscada.