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    Manchester City

    Texto por Francisco Paulo Carvalho
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    Para os adeptos mais novos ou mais recentes de futebol, pensar no Manchester City é pensar nos muitos milhões gastos nos últimos anos e nos grandes nomes que por lá passam e têm passado, mas os cityzens têm muita história que se lhe diga por trás e uma origem até curiosa.

    Uma origem religiosa e humanitária

    Os calendários marcavam o ano de 1880 quando alguns membros da igreja de St Mark’s, em West Gorton, Manchester, fundavam o Ardwick Association Football Club. Conhece? É normal que não, mas depois de 14 anos de existência sob esse nome, este passar-se-ia a chamar Manchester City Football Club, um nome que nos chegou até aos dias de hoje.  

    Primeiro equipamento, em 1884 @Manchester City

    O clube nasceu com fins meramente humanitários. Nessa altura, dois dos guardas da igreja pretendiam arranjar uma forma de conter a violência entre os gangues locais e o alcoolismo ao arranjar novas atividades para os homens e nada melhor do que a criação de um clube de futebol, modalidade que estava a começar a explodir nessa altura em Inglaterra – apesar de terem primeiro criado um clube de críquete.

    O primeiro jogo de sempre registado pelo antigo Manchester City disputou-se a 13 de novembro de 1880, naquela que foi uma derrota por 2x1 frente à equipa da igreja de Macclesfield. A primeira temporada foi bastante negativa para o Ardwick Association Football Club, visto que apenas venceram um jogo nessa sua temporada inaugural de 1880/81 – frente ao Stalybridge Clarence.

    Primeiros anos de glória e de tragédia

    Depois de vários anos no escalão mais baixo do futebol inglês, o clube, já designado Manchester City na altura, venceu a Segunda Divisão em 1899, garantindo, assim, a promoção automática à primeira divisão. 

    Desde a sua chegada ao principal escalão do futebol inglês, não tardou até que o Manchester City conquistasse o seu primeiro grande troféu, com a vitória por 1x0 sobre os históricos Bolton Wanderers na final da FA Cup em 1904. Nesse ano, o clube ficou ainda perto de conquistar a dobradinha, ao ficar em segundo lugar no campeonato, mas para a história ficou como o primeiro clube de Manchester a conquistar um troféu.

    Depois dessa conquista, o clube foi acusado de irregularidades financeiras durante duas temporadas, o que culminou na suspensão de 17 jogadores em 1906, o que levou a que alguns desses trocassem o City pelo Manchester United. Depois deste episódio, em 1920, um incêndio na sua localização original, Hyde Road, destruiu a arquibancada principal do seu estádio, o que levou o clube a mudar-se para Maine Road, aquela que foi a sua casa durante várias décadas.

    Foi já na sua nova casa que o Manchester City voltou a conhecer o sabor da glória. Na década de 1930, alcançou duas finais da FC Cup, a competição mais antiga de futebol do mundo, perdendo a primeira para o Everton, em 1933, e vencendo no ano seguinte por 2x1 frente ao Portsmouth. Nesse mesmo ano, o clube registou ainda um recorde de assistência em Maine Road, quando 84569 pessoas assistiram à partida com o Stoke City. A fama do Ctiy estava em ascensão.

    A conquista da tão desejada Premier League chegaria em 1937 – curiosamente no ano em que o Manchester United descia de divisão -, a sua primeira da história, mas a sua glória não durou muito tempo, uma vez que o City desceria à segunda divisão no ano seguinte, apesar de ter sido a equipa com mais golos marcados nessa temporada.

    Segunda Guerra Mundial e a montanha-russa dos anos 50 e 60

    A descida do Manchester City ao segundo escalão do futebol inglês coincidiu praticamente com o início da Segunda Guerra Mundial (1939). Nessa altura, os torneios oficiais de futebol foram suspensos, levando mesmo vários atletas a participarem na guerra.

    Com o final da Grande Guerra em 1945, e a reconstrução das cidades, regressou também o futebol, e o Manchester City regressou também ele aos grandes do futebol inglês, ao conquistar a segunda divisão em 1946/47.

    O clube passaria, no entanto, apenas três anos no principal escalão, acabando por descer em 1950, algo que não durou muito tempo, uma vez que voltou a subir na temporada seguinte.

    Nessa década, o City voltaria a vencer a sua competição de eleição e novamente com duas aparições seguidas. À imagem do que havia acontecido duas décadas antes, perderam a primeira final da FC Cup, em 1955, frente ao Newcastle e venceram no ano seguinte contra o Birmingham City. Esta vitória ficou marcada pela curiosa história do guarda-redes alemão Bert Trautmann, que partiu o pescoço sem saber e continuou a jogar.

    Seguiram-se uma série de épocas na luta pela permanência, o que culminou mesmo com a descida à segunda divisão em 1963, curiosamente com uma derrota às mãos do United na última jornada do campeonato.

    Uma nova era dos cityzens

    Com o clube a atravessar uma fase muito negra, no verão de 1965 o clube viu a Joe Mercer e Malcom Allison assumirem a equipa técnica do City, o que acabou por ser revolucionário no clube. Nessa mesma época voltaram a ser campeões da Segunda divisão, trouxeram vários nomes de peso – como Colin Bell e Mike Summerbee – e alcançaram o título da Premier League em 1967/68, superando os rivais do Manchester United, que ficaram em segundo lugar.

    Viviam-se tempos de glória nos cityzens, com a conquista da sua primeira Taça de Inglaterra em 198/69 e de uma nova FA Cup em 1969/70. Se a conquista de títulos internos não fosse por si só já grandiosa, em 1970 o Manchester City conquistou o seu primeiro título internacional, ao vencer a Taça dos Vencedores das Taças frente aos polacos do Górnik Zabrze (2x1), em Viena, Áustria. A esse troféu internacional juntou a Taça e a Liga inglesa dessa temporada, tornando-se a primeira equipa de Inglaterra a vencer um troféu internacional e nacional na mesma história.

    Os primeiros de muitos troféus @Manchester City

    Durante o resto da década de 70, o Manchester City não conseguiu manter o ritmo alucinante da segunda metade da década anterior e durante vários anos estiveram afastados das grandes decisões, até que, em 1976, voltaram a conquistar a FA Cup, com uma vitória por 2x1 frente ao Newcastle.

    A tempestade antes da bonança

    Nos anos 80, o City viveu um autêntico calvário e andou a saltar entre a primeira e a segunda divisão várias vezes. Depois de chegar à final da FA Cup em 1981, desceu ao segundo escalão em 1983, subiu e voltou a descer em 1987. Foram anos de várias decisões administrativas bastante contestada pela massa adepta e por contratações milionárias falhadas, mas os cityzens conseguiram regressar aos grandes do futebol inglês em 1989.

    De volta à primeira divisão, tardou até aos azuis de Manchester voltarem à luta pelos grandes títulos e nos primeiros anos da década de 90 andou sempre próximo dos lugares de descida, até que em 1992/93 fez parte das equipas que estiveram na reformulação da primeira divisão para a famosa Premier League, como é conhecida até hoje.

    Esta fase menos conseguida do Manchester City coincidiu com a ascensão do Manchester United enquanto uma das maiores (senão a maior) potência do futebol inglês. Enquanto os red devils iam conquistando títulos e estavam nas maiores decisões internacionais, o City desceu novamente à segunda divisão em 1996, cenário esse que ficou ainda mais nego em 1997/98, quando desceram ao terceiro escalão.

    Com esta descida ao terceiro escalão do futebol inglês, o Manchester City tornou-se apenas no segundo campeão europeu da história a descer a tal divisão do seu respetivo campeonato. O primeiro haviam sido os alemães do FC Magdeburg.

    Já sob a tutela do novo presidente David Bernstein, que implementou uma maior disciplina fiscal no clube, o clube regressou à Premier League rapidamente, com duas subidas em dois anos consecutivos, mas, mais uma vez, foi uma estadia muita curta, com os cityzens a voltarem ao segundo escalão em 2001.

    A tão esperada bonança e os milhões árabes 

    De regresso à Premier League apenas um ano depois de descer, os primeiros anos do século XXI do Manchester City foram anos de transição administrativa e técnica – vários treinadores passaram pelo clube, entre os quais o mítico Sven-Goran Eriksson – e a formação inglesa esteve vários anos fixada nos lugares a meio da tabela.

    Cityzens viveriam os seus melhores momentos no século XXI @Manchester City

    O ano de 2008 marcou o ano de mudança definitiva dos cityzens, com o clube a ser adquirido pelo Abu Dhabi United Group, uma empresa dos Emirados Árabes Unidos que é propriedade do milionário sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan, membro da família real de Abu Dhabi.

    Com a chegada do dinheiro árabe a Manchester, chegaram também várias contratações milionárias ao longo dos anos. Robinho, Kolo Touré, Emmanuel Adebayor e Carlos Tévez foram alguns dos nomes que marcaram a primeira geração de reforços estratosféricos do Manchester City, que, apesar do dinheiro investido, tardava em alcançar resultados desportivos que correspondessem aos seus reforços. No entanto, tornou-se presença assídua nas competições europeias.

    A afirmação definitiva do Manchester City enquanto uma das maiores potências do futebol inglês chegou em 2011/12. Nessa altura, os cityzens, comandados pelo italiano Roberto Mancini, já tinham aumentado, e bem, o seu leque de estrelas na equipa, contando com nomes como Yaya Touré, Mario Balotelli, David Silva, Kun Aguero e Samir Nasri e conseguiram mesmo conquistar o título de campeões ingleses na última jornada. Para tornar este feito ainda mais grandioso, superaram o Manchester United, num título que, devido à igualdade pontual, ficou apenas decidido com a diferença de golos.  

    Uma força dominante em Inglaterra @Getty / Alex Livesey

    Seguiram-se anos de luta pela revalidação do título, recordes – desportivos e de investimento em jogadores – e da incessante busca pela glória na tão desejada Liga dos Campeões. Embora na Liga Milionária o melhor que já conseguiu foi chegar aos quartos-de-final nos últimos anos, a nível interno a história tem sido outra.

    Além de ter conquistado por mais que uma ocasião a FA Cup, a Community Shield – a supertaça inglesa – e a Taça de Inglaterra, voltou a sagrar-se campeão nacional em 2013/14, em 2017/18 e em 2018/19 – estas duas últimas já sob o comando de Pep Guardiola.

    Num ano marcado pela pandemia, o engenhoso Liverpool de Jurgen Klopp superou os cityzens  para regressar aos títulos na Premier League, mas em 2020/21 a turma de Pep voltou a apresentar-se ao melhor nível. Mais uma vez campeões na Premier League, com conforto e naturalidade, mas o Manchester City aproximou-se da conquista da Liga dos Campeões de uma maneira que nunca tinha feito. Chegaram à final da maior prova europeia em estilo mas, na final, caíram perante o Chelsea de Thomas Tuchel.

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