Em Nea Filadelfeia, nos arredores de Atenas, está um dos clubes mais importantes da Grécia: o Athlitikί Énosis Konstantinoupόleos (União Atlética de Constantinopla, em português), mais conhecido como AEK Atenas.
No seu palmarés tem 31 títulos e foi o único clube a conquistar todas as competições internas organizadas pela Federação Grega de Futebol: 12 Campeonatos, 15 Taças da Grécia, uma Taça da Liga e duas Supertaças (mais uma, não oficial). A nível internacional, não conquistou troféus, mas é o emblema helénico mais bem sucedido nas competições europeias. O conjunto da capital grega soma ainda cinco Campeonatos Regionais conquistados.
AEK: clube ‘constantinopolitano’ no coração da Grécia
A Guerra Greco-Turca (1919-1924), que opôs Grécia e Movimento Nacional Turco (fundadores da República da Turquia), originou uma grande diáspora, que tinha como destino preferencial as terras helénicas. Uma dessas ‘comunidades’ deslocadas do Império Otomano fixou-se em Atenas e nos subúrbios da cidade.
A 13 de abril de 1924, numa loja de desporto (Lux), um grupo de refugiados constantinopolitanos fundou o AEK, com o intuito unir, através do desporto, os seus semelhantes, que estavam espalhados pelos subúrbios da capital grega.
Para o símbolo do clube foi escolhida uma águia de duas cabeças, ligada à Igreja Ortodoxa Grega e à dinastia Paleóloga, a última do antigo Império Bizantino (capital era Constantinopla). As cores amarelo e preto também têm ligações às origens geográficas dos refugiados, assim como a clubes de Constantinopla.
Construção do estatuto e do palmarés
Nos primórdios da sua existência, o AEK disputava o Campeonato Regional de Atenas, com os rivais Panathinaikos e Olympiacos, clubes com quem formou uma aliança contra a Federação Grega de Futebol. Este desentendimento fez com que o trio abandonasse a competição regional de 1928, passando a disputar amigáveis entre si e frente emblemas internacionais.
Até ao início da década de 60, o AEK conquistou cinco Taças da Grécia e dois campeonatos. Não havendo estrelas, a grande valência da equipa era o coletivo forte e o núcleo duro constituído por jogadores como Kostas Negrepontis, Kleanthis Maroupoulos, Tryfon Tzanetis ou Giorgios Mageiras.
Nos finais da década de 50, os atenienses contrataram Kostas Nestoridis ao Panionios. Depois de um ano sem jogar (1956) devido a disputa entre os dois clubes, Nestoridis assumiu-se como referência do ataque e foi artilheiro da Liga Grega em cinco épocas consecutivas (de 1958/59 a 1962/63). Em 1960, vindo do Veria, chegou o avançado Mimis Papaioannou, o recordista de golos e jogos pelo AEK.
Inédito tri e cimentação de uma identidade própria
Na década de 70, Loukas Baros (1974 a 1981) chegou à presidência do clube. O industrial deu um grande suporte financeiro ao AEK, algo que propiciou a conquista de três Ligas (1970/71, 1977/78 e 1978/79), uma Taça da Grécia (1977/78), boas campanhas europeias (meias-finais da Taça UEFA 1976/77) e a contratação dos ‘goleadores’ Thomas Mavros (artilheiro máximo da Liga Grega) e Dusan Bajevic.
Em 1988/89, Bajevic regressou ao AEK, desta vez para assumir o comando técnico. Construiu uma das melhores equipas da história dos atenienses, foi campeão na época de estreia, sagrou-se tricampeão (1991/92, 1992/93 e 1993/94), venceu uma Taça da Liga (1989/90), uma Taça da Grécia (1995/96), duas Supertaças gregas (1989 e 1995) e tornou o AEK na primeira equipa grega a participar na Fase de Grupos da Liga dos Campeões (1994/95). A sua ‘constelação’ era capitaneada por Stelios Manolas (tio de Kostas Manolas) e nela figurava o jovem Vassilis Tsiartas.
Estas ideologias despontaram ‘laços de amizade’ com vários emblemas europeus, como Livorno (Itália), Fenerbahçe (Turquia), Marselha (França) e St. Pauli (Alemanha).
Novo milénio: estagnação e… declínio
No novo milénio, Dusan Basejic voltou a Atenas, para comandar uma equipa recheada de estrelas de gregas que, posteriormente, se sagraram campeãs europeias: Themistoklis Nikolaidis, Vassilios Lakis, Kostas Katsouranis, Vassilis Tsiartas. Theo Zagorakis, Michalis Kapsis e Traianos Dellas. No entanto, tal não foi suficiente para quebrar o domínio do rival Olympiacos. Para agravar a situação, a passagem do Presidente Makis Psomiadis (2001-2003) deixou o clube financeiramente enfraquecido.
Após um período de instabilidade, Demis Nikolaidis (2004-2008), antiga estrela do AEK, assumiu a presidência do clube, com a missão de o reabilitar. Com Fernando Santos no comando e um misto de jogadores jovens e experientes, os atenienses melhoraram as prestações europeias e domésticas. 2004 foi também o anos em que o Nikos Goumas foi demolido (estava danificado devido ao terramoto de 1999), obriando o AEK a mudar-se para o Estádio Olímpico de Atenas.
Ver o fundo e regressar à ‘piscina dos tubarões’
Os presidentes e treinadores foram-se sucedendo, mas os títulos teimavam em não aparecer, com exceção para a Taça da Grécia conquistada em 2010/11. Mavros (foi Presidente), Tsiartas ou Nestoridis foram algumas das glórias do AEK que passaram pelos quadros do clube, numa tentativa infrutífera de tentar devolver o clube aos seus tempos de glória.
Em 2012/13, após uma campanha desastrosa, que culminou com uma invasão de campo e tentativas de agressão aos jogadores, por parte dos adeptos, o AEK desceu ao Segundo Escalão pela primeira vez na sua história. Para agudizar ainda mais a situação, os problemas financeiros obrigaram os atenienses a passar para o amadorismo e participar na Terceira Divisão, em 2013/14.
Subida, subida e Campeão, após jejum de 24 anos
Em 2017/18, já com a equipa estabilizada, chegou o título mais ansiado: 24 anos depois, o AEK voltou a conquistar o cetro de campeão nacional. Para este feito contribuíram os portugueses André Simões, Hélder Lopes e Hugo Almeida.
Para 2021/22 está prevista a inauguração daquela que vai ser a nova casa do AEK: o Estádio Agia Sophia, construído no mesmo local onde outrora pontificava o Estádio Niko Goumas.