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    Galatasaray

    Texto por Pedro Marques Silveira
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    O Galatasaray, o gigante amarelo e vermelho da Turquia, nasceu em Istambul em 1905, cidade que então se chamava Constantinopla e era a capital do Império Otomano.

    Fundado por estudantes do Liceu de Galatasaray, o clube nasceu, nas palavras do seu fundador, «com o objetivo de jogar tão bem como os ingleses, de ter uma cor e um nome, e para bater as equipas não turcas».

    Ao longo da sua história os Sari Kirmizililar (amarelo e vermelhos) cresceram para se tornar no principal clube do país. Conquistaram Campeonatos e Taças e ainda troféus internacionais, mostrando ao mundo uma lista de craques de onde se destacam obviamente Sukur, Hagi e Oktay.

    A lenda

    Se perguntar a um adepto do Galatasaray quando nasceu o seu clube, não estranhe se este lhe contar a história de Gül Baba e Bayezid II. O primeiro era um dervixe, poeta sufi, um dos mais afamados sábios do país, enquanto Bayezid era o sultão. 

    Os dois encontraram-se um dia nas margens do Bósforo e o sábio ofereceu duas rosas (uma amarela e uma vermelha) ao Sultão. Este, emocionado com o gesto, prometeu-lhe conceder qualquer desejo. Gül Baba apontou para o outro lado Bósforo (Gálata) e pediu que ali fosse construída uma escola. Ali nasceria a Escola do Palácio de Gálata, ou em turco, Galatasaray, o ano era 1481. 

    As origens

    Não se consegue compreender a história do Galatasaray, e do próprio futebol turco, sem se perceber a história da Turquia moderna, aquela que começou a ser desenhada na segunda metade do século XIX. 

    Seria no decadente Império Otomano, que há muito entrara num processo de lento declínio, que o futebol chegou com uma promessa de modernidade, para romper com as tradições que há muito "atrasavam" a passada do gigante otomano.

    Em Setembro de 1868, o Galatasaray Lisesi, cujas raízes remontam a 1481 e à lenda do encontro entre Gül Baba e o Sultão, seria alvo de uma profunda transformação, sendo refundado segundo o modelo dos Lycée franceses. Assim nascia o Lycée Impérial Ottoman de Galata-Sérai  [Galatasaray Mekteb-i Sultanisi] .

    O francês era a língua de instrução e a maioria dos professores vieram de França e de outros países europeus. O objetivo era dotar as futuras gerações de um ensino ao nível do que melhor se fazia no resto da Europa. Os novos alunos chegaram de todo o Império, incluindo as mais diversas etnias e religiões que coabitavam na «Sublime Porta».

    O novo projeto tentava contagiar as futuras gerações com a ideia de progresso e modernidade, para sacudir a letargia da sociedade e assim impedir o declínio do «Homem Doente da Europa», como o Império era jocosamente conhecido nas chancelarias da Europa.  

    O nome 

    O Liceu introduziu a prática de desportos, algo pouco comum na sociedade turca de então. A ginástica fazia parte do currículo provocando interesse nos alunos que em 1899 tiveram o primeiro contacto com uma bola de futebol, que segundo os relatos, foi simplesmente chutada por um aluno no recreio, perante o desinteresse dos outros. 

    A paixão pelo jogo só surgiria mais tarde, quando alguns alunos presenciaram partidas de futebol praticadas por ingleses. Em 1905, durante uma aula de Literatura e História

    Ali Sami Yen foi o principal impulsionador da criação do clube, convencendo os colegas e amigos. O primeiro jogo seria disputado contra a escola Kadıköy Faure School e a equipa ainda sem nome venceu por 2x0.

    Gloria (vitória) e Audace (coragem) eram os nomes preferidos pelos fundadores, mas o clube acabou por ficar conhecido por Galatasaray, pois num dos amigáveis que disputou, os espetadores começaram a aplaudir os Galata Sarayı efendileri, em português os «Cavalheiros do Palácio de Gálata», e o nome pegou: Galata Sarayı, ou seja, Palácio de Gálata. 

    As primeiras cores do país foram o vermelho e branco, cores nacionais da Turquia, associados aos movimentos revolucionários, o que deixou as autoridades de sobreaviso. Talvez por isso, Ali Sami Yen resolveu sugerir um novo equipamento, amarelo e vermelho.

    A história fala de uma homenagem às rosas de Gül Baba, mas a razão da mudança terá sido mais prosaica. Após procurar em diversas lojas, Sami Yen visitou a Şişman Yanko’s na Bahçeka, onde se "apaixonou" pela combinação de dois tecidos: um vermelho escuro cereja e um amarelo dourado. A combinação das cores fazia lembrar as chamas, que os sócios rapidamente associaram às chamas da vitória.

    Gálata

    Gálata (Karaköy) era um subúrbio da capital, situado na parte europeia da cidade, a norte do Corno de Ouro, em turco Haliç, o braço de água que divide a parte norte da cidade e que separa o Bósforo do Mar da Mármara.

    Uma das muitas pontes que atravessa o Corno do Ouro é a Ponte de Gálata, que se situa precisamente em frente da cidadela medieval de Gálata, onde se ergue a Torre de Gálata que os genoveses erigiram em 1348, e que ainda hoje é um ponto incontornável na silhueta da cidade.  

    O começo

    As leis otomanas de então não previam a formação de Associações desportivas e o Galatasaray só seria inscrito depois da alteração da lei em 1912. A Federação Turca só seria fundada em 1923.
     
    A Istanbul Lig, originalmente conhecida como a Constantinople FA League e mais tarde «Liga de Domingo» foi fundada por dois expatriados ingleses, James La Fontaine e Henry Pears.
     
    O pontapé de saída foi dado na época 1904/05, inicialmente com quatro equipas. O Galatasaray só participaria pela primeira vez em 1906/07, mas duas épocas mais tarde conquistava pela primeira vez o troféu, iniciando uma promissora sequência de títulos, interrompida pelo rival Fenerbahçe em 1911/12.

    Ao longo do tempo a prova mudou de nome por diversas vezes, mas duraria 55 épocas, sendo a primeira competição futebolística do país. O Galatasaray conquistaria por 15 vezes o troféu, tantas quanto o Fenerbahçe. A última vitória do Gala seria em 1957/58, mas entre 1932 e 1949 o clube atravessara o pior jejum de conquistas da sua história. 

    Ainda em 1911 o Galatasaray conseguiu a maior vitória de sempre no Kıtalar Arası Derbi, batendo o Fenerbahçe por 7-0. A vitória teve ainda mais significado porque a equipa tinha apenas sete jogadores em campo. Durante os primeiros sete dérbies, o Galatasaray venceu sempre, conseguindo um impressionante score de 23x0, lançando as bases para a intensa rivalidade com o clube da margem sul. 
     
    Rivalidades
     
    A primeira edição do Campeonato Profissional de futebol da Turquia realizou-se em 1959 com o Fenerbahçe a ser o primeiro campeão, batendo o Gala na final a duas mãos. O Galatasaray teria de esperar pela quarta época para imitar os dois rivais que já haviam celebrado a conquista da Liga: Fenerbahçe e Besiktas.
     
    Estes três clubes, conhecidos como os «três grandes» dividem as paixões no país e na cidade. O Besiktas sendo o mais antigo, fundado por decreto real, está ligado à velha burguesia da cidade e ao bairro onde lhe foi buscar o nome, situado um pouco para leste do Corno do Ouro, não muito longe de Gálata.
     
    Do outro lado do Bósforo, na cidade asiática vive o terceiro pilar do futebol turco: o Fenerbahçe, que desde a primeira era rivalizou em conquistas e adeptos com o Galatasaray. 
     
    «A terceira e a quarta dinastias»
     
    Com o advento da Türkiye Profesyonel 1. Ligi em 1959, o Galatasaray começou a competir com clubes de outras partes do país. Metin Oktay era o goleador da equipa e a estrela maior, sagrando-se Gol Krali (melhor marcador) em 1959, 1960 e 1961.  Oktay chegara de Esmirna, onde nascera e jogara no Izmirspor. No Galatasaray seria (e é) sinónimo de golo, sagrando-se por seis vezes o melhor marcador da Liga, a última das quais em 1969. 

    Em 1960 Gündüz Kiliç tornou-se o novo manager da equipa e revolucionou o jogo da equipa, ajudando o clube a chegar ao bicampeonato 62/63, batendo um recorde (105) de golos na segunda conquista. 
     
    Este período vencedor ficou conhecido como a «Terceira Dinastia» sucedendo às históricas dinastias que a haviam precedido: 1908-1916 e 1921-1931. A «Quarta Dinastia» chegou em 1969 (durou até 1973) após cinco épocas sem a conquista do título. Após um oitavo lugar em 1970, já sem Oktay, que pousara as chuteiras em 1969, o Gala arrancou para um histórico «tri», o primeiro da história da Liga.

    Os anos 80 e a era Terim
     
    Vencedores da Taça em 1976, 1982 e 1985, os adeptos do Galatasaray só puderam festejar um título de campeão em 1986/87, quatorze anos depois da conquista do tricampeonato.

    Conquistado o bicampeonato em 1988, só na década seguinte é que o Galatasaray se assumiu como a principal força dominante do país, aproveitando um período de menos fulgor do Fenerbahçe, que entre as conquistas do título em 1989 e 2001, só festejou em 1996.
     
    De 1990 a 2000, a luta era entre os dois grandes da margem norte, Galatasaray e o Besiktas, com o Gala a conquistar seis ligas e o rival quatro. Entre 1996 e 2000, FatihTerim liderou o clube a um histórico "tetra", com uma equipa onde brilhavam nomes como o do avançado Hakan Sükür, do capitão Bülent Korkmaz, dos internacionais turcos Hakan Ünsal, Hasan Sas e Ümit Davala, além das vedetas estrangeiras, como o brasileiro Cláudio Taffarel e os romenos Gheorghe Popescu e Gheorge Hagi.
     
    A coroa de glória do clube foi conquistada a 17 de maio de 2000, em Copenhaga, na Dinamarca, com a vitória (no desempate por grandes penalidades) sobre o Arsenal de Londres na final da Taça UEFA.
     
    Meses depois, novo feito, com o Galatasaray a surpreender o Real Madrid na Supertaça Europeia no Mónaco, 2x1 após prolongamento, com dois golos do brasileiro Jardel, que chegara ao clube proveniente do FC Porto.

    Novo milénio
     
    Terim acabou por abandonar o clube para rumar a Itália depois de ganhar a UEFA, sendo sucedido pelo romeno Mircea Lucescu que dois anos depois rumava ao rival Besiktas. Para o seu lugar voltaria Terim.
     
    O clube enfrentava o regresso do Fenerbahçe que conquistou quatro títulos na primeira década do novo milénio, contra três do Gala, dois do Besiktas e um do esterante Bursaspor.

    O Bursaspor quebrou a hegemonia dos «três grandes» em 2010, tornando-se o segundo clube de fora da grande metrópole do Bósforo a conquistar a Liga turca. O primeiro havia sido o Trabzonspor que conquistara seis campeonatos em oito épocas (1976-84) e depois voltara a deixar os títulos para os "três do costume".
     
    Novamente campeão em 2012 e 2013, o Galatasaray viu a sua política de grandes investimentos dar frutos, com a aquisição de alguns jogadores de renome como Drogba e Sneijder, orientados pelo menos célebre Mancini. Em 2014/15, sob o comando de Cesare Prandelli e, posteriormente, Hamza Hamzaoglu, os homens de Istambul fizeram o triplete interno (Liga, Taça e Supertaça), numa equipa onde atuavam Alex Telles e Bruma. 
     
    Na temporada 2017/18, depois do bi do Besiktas, o Gala resgatou o título, com a ajuda de Maicon, Fernando (ex-FC Porto) e Bafétimbi Gomis, artilheiro do campeonato, com 29 golos. O bom momento interno do Galatasaray continuou na época seguinte, conseguindo chegar ao bicampeonato, ao terminar em 1º lugar, com mais dois pontos que o Basaksehir. Além disso, bateu o Akhisar por 1x3 na final da Taça turca e juntou ainda a Supertaça da Turquia já no arranque de 2019/20.
     
    Apesar dessa conquista no início da época, 2019/20 não foi como o Galatasaray esperava e depois de um bicampeonato seguiu-se um 6º lugar no campeonato e uma queda nos quartos de final da Taça. Em 2020/21, Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas ofereceram um campeonato ruco como pouco se viu na história, com os três clubes a lutarem pelo título até à última jornada. No final, o Besiktas acabou por se sagrar campeão, terminando com os mesmos 84 pontos que o Galatasaray, que lhe viu o título negado apenas pela diferença de golos.

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