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Dynamo Moscovo

Texto por Sérgio Oliveira
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As raízes do Dynamo remontam a 1887, ano em que nasceu o Morozovtsi Orekhovo-Zuyevo Moskva, um clube que como tantos outros na história do futebol russo, nasceu no seio de uma empresa. No caso, uma fábrica do ramo têxtil, com sede em Orekhovo-Zuyevo, uma pequena cidade do Oblast de Moscovo, situada a cerca de 85 quilómetros da atual capital russa.

Tal ancestralidade permite ao Dynamo orgulhosamente assumir-se como o mais velho clube russo, e juntamente com o Dynamo de Kiev, ser o único clube que nunca foi despromovido durante o Campeonato da União Soviética. Feito que continuo no Campeonato da Rússia que se realiza no pós-URSS.
 
A Rússia da passagem do século XIX para o século XX era um país de grandes transformações políticas e sociais. O autocrático regime czarista, sediado em São Petersburgo, estava no seu estertor. No meio de tantas vicissitudes o jovem clube sofreu constantes transformações, tornando-se no OKS Moskva em 1906.
 
Seria debaixo dessa denominação que venceria a Liga regional de Moscovo entre 1910 e 1914, ano em que com o começo da Primeira Guerra Mundial, o futebol passou para segundo plano entre as prioridades dos russos.
 
O Dínamo
 
Em 1917 chegou a Revolução Bolchevique e com o novo regime, a organização associativa do país seria reconstruída pelas novas autoridades. Cinco anos mais tarde, a Rússia deixava de existir como nação independente para integrar a União Soviética. Temendo o ambiente revolucionário da capital e a proximidade com as fronteiras externas, o executivo mudou a capital para Moscovo, tornando-se o Kremlin o novo centro do poder soviético.
 
Nos anos seguintes, durante a reorganização associativa, os principais clubes desportivos ficaram ligados aos grandes departamentos do Estado. O Ministério do ##Interior tornou-se o "dono" do clube que passou a chamar-se de Dynamo, um composto de duas palavras: do grego δύναμις [dynamis - poder] e do latim motio [movimento], para criar o conceito de «poder em movimento».

O Dínamo surgira na primeira metade do século XIX, em 1832, obra do francês Hyppolite Pixii, baseado nos princípios de eletromagnetismo que o francês Michael Faraday apresentara. Durante o século XIX e o começo do século XX, com o progresso tecnológico, o dínamo tornou-se sinónimo de tecnologia e evolução.
 
Ligação ao KGB
 
A denominação Dynamo seria usada pelo clube nas suas diversas secções desportivas, entre elas a campeoníssima de hóquei em gelo. Mas com o tempo seria uma denominação comum para clubes da União Soviética, como os clubes de Kiev, Riga, Bacu, Samarcanda, Brest, Minsk ou Tbilissi, mas depois da Segunda Guerra Mundial, seria também comum por toda a Europa de leste, como tão bem exemplificam os diferentes Dynamos em Sófia (Bulgária), Bucareste (Roménia), Zagreb (então Jugoslávia, hoje Croácia), Berlim e Dresden (na RDA, hoje Alemanha).

Seria por iniciativa de Felix Dzerzhinsky, diretor da infame Cheka, a polícia secreta que mais tarde se tornaria no KGB, que o clube Dynamo nasceu oficialmente a 18 de Abril de 1923. 

A ligação ao Ministério do ##Interior e às polícias secretas como o KGB, a NKVD e a MVD tornaram o Dynamo num clube "mal amado" pelos adversários. A ligação ao lado mais sombrio do regime soviético só acabaria com o fim da União Soviética em 1991.

As primeiras conquistas e a guerra

Seria nos anos 30 que o Dynamo assumiu o seu papel como um dos grandes do futebol soviético. Ao título de Campeão Russo da Primavera em 1936, seguiu-se a conquista da Liga Soviética e da Taça da URSS no ano seguinte, e de nova Liga Soviética em 1940.

Na época seguinte ao Dynamo liderava destacado a Liga, quando a 24 de junho as autoridades cancelaram a prova. Dois dias antes, a Alemanha atacara a União Soviética sem direito a uma prévia declaração de Guerra. Durante os próximos três anos o solo soviético, em particular a Ucrânia, a Bielorrússia e a Rússia, mas também partes do Cáucaso, os países do Báltico e a atual Moldávia, seriam palco de uma guerra sem tréguas, que os russos ainda hoje recordam como a Grande Guerra Patriótica, universalmente conhecida como Segunda Guerra Mundial.

A tour ao Reino Unido
 
Com o fim do conflito o Dynamo tornou-se o primeiro campeão do pós-guerra, título que lhe valeu um convite para visitar o Reino Unido, numa manobra política que as autoridades soviéticas apoiaram. 
 
Num gesto de boa-vontade os ingleses convidaram os aliados soviéticos a visita-los e o clube moscovita agendou diversos encontros em Inglaterra, País de Gales e na Escócia. 
 
Bateu o Arsenal numa tarde de nevoeiro em White Hart Lane (1), casa do Tottenham,  por 4x3, depois de estar a perder 1x3, batendo uma equipa gunner que se reforçara com Stanley Matthews, Stan Mortensen e Joe Bacuzzi. Seguiu-se um empate a três bolas com o Chelsea, uma goleada expressiva em Cardiff, sobre o City local (1x10), antes de viajar para norte onde empatou a duas bolas em Ibrox com o Glasgow Rangers. 
 
No regresso para sul, os moscovitas deviam enfrentar o Aston Villa em Birmingham e ainda havia planos para um último embate com um combinado inglês em Londres, mas os russos abandonaram o país sem dar explicações, parando na Suécia para bater o Norrköping. 
 
A Aranha Negra
 
Em 1950 estreou-se na baliza do clube o jovem Lev Yashin, considerado como um dos melhores guarda-redes de todos os tempos. Entre 1949 e 1959 o Dynamo venceu cinco campeonatos da União Soviética, quatro desses títulos já com a "Aranha Negra" na baliza.
 
O último título de campeão com Yashin na baliza seria em 1963. O guarda-redes ainda jogou até 1970, mas o Dynamo não conquistou mais nenhuma liga nesse período, conquistando apenas a taça em 1967 e 1970.
 
Seria em 1976 que o clube conquistou o seu último título de campeão soviético, o que fez do colosso "moscovita" o terceiro emblema com mais títulos (11) de campeão no futebol soviético, apenas superado pelo Dynamo Kiev (13) e Spartak Moscovo (12).
 
Na Europa o grande feito do Dynamo chegaria em 1972, quando o Dynamo perdeu a final da Taça das Taças contra o Rangers (32) jogada no estádio de Nou Camp, na Cidade Condal.
 
O declínio e uma curta era lusa
 
As década de 70 e de 80 foram de lento declínio do histórico clube da capital russa. Com o fim da União Soviética em 1991, e o advento do capitalismo, diversos clubes russos passaram a ser controlados por milionários e o Dynamo não foi exceção. Durante épocas recebeu grandes injeções de capital, adquirindo diversos jogadores de renome em clubes ocidentais, todavia, o Dynamo nunca mais voltou a regressar aos sucessos da década de 50 e 60.
 
O século XXI foi palco para a continuidade na queda do clube. A equipa da capital continuou a ter expectativa associada ao seu nome, mas deixou de cumpri-la e lentamente afastou-se do selo de um dos melhores clubes do país e até mesmo de Moscovo. 
 
Chegou a viver uma curta era em que português foi a língua secundária no clube, com Nuno Espírito Santo, Maniche, Costinha, Frechaut, Jorge Ribeiro e Luís Loureiro a integrarem um plantel que chegou a contar também com nomes como Cícero, Derlei e Thiago Silva. Era conhecida, então, como a equipa mais portuguesa do Mundo.
 
A maior parte destes nomes saiu rapidamente e já não estavam no clube em 2008. Nesse ano, em que o clube fez a melhor campanha da década (terceiro lugar...), os portugueses eram apenas Custódio e Danny. No ano seguinte, Danny tornar-se-ia na maior venda da história do clube, quando assinou pelo Zenit a troco de 30 milhões de euros. Maniche e Costinha também figuram no top-10.
 
O Dynamo continuou a lutar apenas pelos lugares de qualificação para as provas europeias, com sucesso ocasional nesse objetivo, até que em 2015/16 terminou em 15º e foi despromovido ao segundo escalão. Um golpe representativo da mediocridade, que ainda assim permitiu o regresso imediato do clube ao Premier League Russa. Com um sexto lugar em 2019/20, o Dynamo voltou a conquistar um lugar europeu, mas caiu perante os georgianos do Dinamo Tbilisi ainda na fase de qualificação. 
 
No ano seguinte não houve a mesma sorte, com um sétimo lugar, mas Sandro Schwartz continuou à frente da equipa e conseguiu levá-la a um importante segundo posto em 2021/22.
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(1) Highbury Park ainda estava ocupado pelo Ministério da Defesa, pois havia sido utilizado durante a guerra como um centro de prevenção contra os raids aéreos da luftwaffe
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