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    Crvena zvezda

    Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
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    Nasceu com o nome de Crvena zvezda, mas ficou mais conhecido como Estrela Vermelha, uma tradução, por motivos óbvios.

    Com uma história rica em sucessos, o maior emblema da Sérvia destacou-se principalmente no ano de 1991, em que se sagrou campeão da Europa e do Mundo com a sua geração dourada, ainda que não seja esse o único capítulo deste conto. 

    Nascido na guerra, criado no sucesso

    Fundado a 4 de Março de 1945, o Crvena zvezda nasceu com base nas ideias dos membros da Associação Unida da Juventude Anti-Fascista da Sérvia, depois de a guerra ter encerrado todos os clubes que existiam no país. O nome, que se traduz para «Estrela Vermelha» foi o favorito entre várias opções, que contemplavam também Estrela Azul, Estrela do Povo, Prolétio e até mesmo Stalin ou Lenin.

    Chegaria ao topo do Mundo @Crvena zvezda
    O primeiro jogo foi contra o Primeiro Batalhão da Segunda Brigada do KNOJ (Corpo de Defesa Popular da Jugoslávia) e o Crvena zvezda ganhou o jogo por 3x0, com Kosta Tomašević a marcar o primeiro golo da história do clube. Durante este primeiro ano de fundação, a equipa jogou um total de 36 jogos e ganhou 30 deles. Fora os cinco empates, a única derrota deste novo clube foi em Timisoara, contra a Roménia.

    Um início a todo o gás, mas numa altura em que não disputava ainda competições oficiais. Isso mudaria eventualmente e em 1948, no terceiro ano clube, foi conquistado primeiro troféu. A primeira Taça da história do clube foi conquistada com um 3x0 na final frente ao Partizan, a equipa que, por ser também baseada em Belgrado, se tornaria no grande rival do Crvena zvezda até aos dias de hoje.

    Num futebol jugoslavo que era extremamente competitivo, os sérvios estavam motivados a levantar mais do que apenas uma Taça. Chegaram rapidamente às três, mas o título de campeão chegou em estilo no ano de 1951. O Dinamo Zagreb era o favorito à conquista do título e, a três jornadas do fim, levava cinco pontos de vantagem (numa altura em que as vitórias valiam dois pontos, recorde-se). Ainda assim, os últimos três jogos viram o Estrela Vermelha alcançar os croatas de forma espetacular e os festejos que se seguiram foram bem ao estilo sérvio - jornais a arder no estádio e, mais tarde, os heróis do título carregados em ombros pela cidade.

    Uma estrela pela Europa

    Nas décadas vindouras, o Crvena zvezda cresce e transforma-se num gigante de classe mundial, com um estilo de jogo reconhecidamente rápido e eficiente. O domínio doméstico era demasiado evidente e, depois de vários troféus da Liga e Taça, bem como um Troféu do Danúbio, o emblema sérvio teve a sua primeira grande campanha Europeia, que terminou nas meias finais da Taça dos Campeões Europeus de 1956/57.

    No ano seguinte, fruto de terem sido novamente campeões, seguiu-se uma nova participação na maior prova continental de clubes. Dessa vez foi derrotado por 5x4 no agregado pelo campeão inglês Manchester United, nos quartos-de-final. O Manchester United, dirigido por Matt Busby derrotou o Red Star por 2x1 na primeira mão em Inglaterra antes de empatar 3x3 na Jugoslávia, naquela que seria a última partida jogada pelos Busby Babes: no voo de regresso a Inglaterra no dia seguinte, o avião despenhou-se em Munique, resultando na morte de 23 pessoas, incluindo oito jogadores do Manchester United. [ver «O Acidente de Munique»]

    Depois desse trágico incidente, o Crvena zvezda manteve-se uma presença habitual nas provas europeias. Sob a liderança de Miljan Miljanic, os sérvios eliminaram o Liverpool na segunda fase da Taça dos Campeões Europeus de 1973-74 e no ano seguinte ultrapassaram o Real Madrid nos quartos-de-final da Taça das Taças, mas foi já com Branko Stankovic no comando que chegaram pela primeira vez a uma final.

    Adeptos são uma referência a nível Mundial @Getty / Srdjan Stevanovic
    Foi na Taça UEFA de 1979, frente a um Borussia de Moenchengladbach que tinha estado em cinco finais europeias nos últimos sete anos, mas não conseguiram o troféu. Um golo de Miloš Šestić deu ares triunfantes, mas o auto-golo de Ivan Jurišić deu aos alemães uma vantagem psicológica antes da desforra. Este jogo foi jogado no Rheinstadion em Düsseldorf, onde o árbitro italiano Alberto Michelotti assinalou uma grande penalidade controversa que Allan Simonsen converteu para selar o destino do Estrela Vermelha.

    Glória máxima, por fim

    A coroa de sucesso chegou finalmente ao Estádio Marakana de Belgrado em 1991, quando a geração de ouro do clube sérvio venceu a Taça dos Campeões Europeus e Taça Intercontinental. 

    Uma equipa que já era boa e passou as primeiras rondas com facilidade viu-se, em janeiro, reforçada com o impressionante talento de Sinisa Mihajlovic. Ultrapassaram Grasshoppers, Rangers, Dyamo Dresden e por fim o Bayern Munchen, para chegar à cidade italiana de Bari onde, na grande final, defrontaram um poderoso Marseille.

    A glória europeia @Crvena zvezda

    Ljupko Petrović, então treinador, leva a equipa paraa Itália uma semana antes da final para que se possa preparar com calma. O Crvena zvezda tinha marcado 18 golos em 8 jogos até esse momento; o campeão francês tinha marcado 20, pelo que a final foi anunciada como um espetáculo ofensivo. Ainda assim, para surpresa de muitos, o lado defensivo do jogo destacou-se e o nulo manteve-se após 120 minutos de futebol, o que levou o duelo a grandes penalidades. Darko Pancev, vencedor da Bota de Ouro nesse ano, marcou o penálti mais importante da história do Crvena zvezda, que saiu triunfante (0x0, 5x3 g.p.)

    O ano de 1991 já era o mais belo da história deste clube, mas só ficou melhor depois da viagem a Tóquio para defrontar o Colo Colo, campeão sul-americano, para a Taça Intercontinental. Uma vitória por 3x0 frente aos chilenos concluiu um ano inolvidável, que dificilmente será repetido por uma equipa de um país como a Sérvia. Ainda assim, diga-se, também não parecia provável na altura.

    O rápido esfumar da estrela

    Infelizmente, uma geração de jogadores jovens e extremamente talentosos não pôde permanecer junta devido à guerra civil na ex-Jugoslávia. Um êxodo das maiores estrelas, aliado a uma situação social precária que motivou a ausência jugoslava das competições europeias, ditou o final dos anos de ouro do clube.

    Os troféus domésticos continuaram a surgir, na Jugoslávia e posteriormente na Sérvia, num clube que seguiu dominante e manteve a sua ligação ao povo. A aposta na juventude continuou a fazer parte da identidade, mesmo com os rivais (Partizan) a revelar melhor capacidade de formação.

    Um novo capítulo na história do clube mais decorado da Sérvia foi aberto em Maio de 2012, quando as primeiras eleições, históricas e diretas, foram realizadas para escolher a nova direção do clube. Todos os sócios tinham direito de voto, mas Vladan Lukic foi o único candidato e por consequência eleito Presidente para iniciar o seu segundo mandato.

    Lukic não conseguiu ser a fonte da estabilidade que o clube precisava e o Crvena zvezda enfrentou grandes dificuldades financeiras, com fracos resultados a acompanhar dentro das quatro linhas. Muita turbulência e dois treinadores depois, Lukic demitiu-se, originando novas eleições que elegeram Dragan Dzajic - um dos mais icónicos ex-jogadores do clube e país -, mais uma vez candidato único.

    Regressariam à Champions @Getty / Srdjan Stevanovic
    Em 2013/14 foram novamente campeões da Sérvia, depois de seis anos sem vencer um título, mas a situação financeira piorou tanto que foram impedidos de participar na Liga dos Campeões. Uma dívida de quase dois milhões de euros a jogadores e staff, alguns deles que não eram pagos há meses, foi o principal motivo.

    Em 2017/18, após uma década de espera, o Crvena zvezda voltou a chegar à fase de grupos da Liga Europa, iniciando um novo ciclo no futebol continental pois, nas duas épocas seguintes, esteve sempre presente na fase de grupos da Liga dos Campeões, onde venceu o Liverpool para se tornar na primeira equipa sérvia a vencer na Champions, antes de regressar à segunda maior prova da UEFA em 2021/22.

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