Gus Mears, viu na centralidade do bairro uma excelente oportunidade de negócio, mas teve de esperar pelo falecimento do proprietário em 1904, para poder finalmente adquirir o recinto. Juntou a Stamford Bridge o pequeno Market Garden, com a intenção de construir o melhor estádio de futebol do país, capaz de receber jogos da liga e seleção. Contudo, os irmãos Mears falharam na tentativa de convencer o presidente do Fulham FC, Henry Norris, a abandonar Craven Cottage e mudar-se para o novo estádio.
A recusa do Fulham deixou «Gus» Mears com um estádio nas mãos vazio e sem um clube para o utilizar. Em vão, tentou convencer outros clubes, mas nenhum se mostrou interessado. Descrente, resolveu vender o terreno à Great Western Railway Company, grande empresa dos caminhos-de-ferro que estava a construir uma nova linha que iria ligar a capital ao oeste do país, necessitando de um terreno para ali edificar um depósito de carvão, fundamental para servir de apoio à nova linha.
Entrou então em cena, Fred Parker, um colega de Mears, que há muito o tentava dissuadir de vender o terreno à
Great Western Railway Company, argumentando que seria possível criar um clube de raiz para tornar o recinto rentável. Mears, intransigente recusava qualquer argumento, até que um banal incidente mudou a história, como Parker recordou um dia mais tarde:
«Triste, sabendo que o estádio deixaria de existir, eu caminhava lentamente a seu lado (Mears), quando vindo de trás, inesperadamente surgiu o seu cão, que me mordeu com tanta força através das minhas meias de ciclismo, que o sangue escorreu abundantemente. Zangado, virei-me para ele (Mears) e disse "O raio do seu cão mordeu-me, olhe!", mostrando-lhe o sangue. Em vez de mostrar algum tipo de preocupação, ele limitou-se a comentar, "Os scotch terrier, mordem sempre antes de falar."
O absurdo da declaração foi de tal maneira , que apesar de estar ao «pé coxinho» com o sangue a cair-merpela perna, não contive uma gargalhada, tal a graça do que acabara de ouvir. Acrescentando que ele era por certo o sacana mais frio que jamais conhecera. Um minuto mais tarde, Mears surpreendeu-me com uma palmada no ombro, acrescentando, "Tu aguentaste aquela mordidela como poucos, a maioria dos homens não se calava com lamúrias depois de ser mordido. Olha, vamos fazer o que tu querias. Estou contigo, vamos esquecer a proposta dos outros. Vai à farmácia e trata-me essa mordida, que amanhã quero-te aqui às nove da noite para meter as mãos à obra.»
Num instante, por capricho, Mears mudou a sua opinião e decidiu aceitar a ideia de Parker para se fundar um clube para ocupar Stamford Bridge. Esse momento teve lugar no vizinho
The Rising Sun, um pub onde habitualmente se reuniam os fundadores do clube. A 10 de março de 1905, depois de terem ponderado nomes como Kensington FC, Stamford Bridge FC e London FC, acabaram por escolher
Chelsea FC, em honra do bairro limítrofe. Assim os
blues tornavam-se
posh por proximidade, representavam
Chelsea, mas ficavam radicados em Fulham.
Chelsea pensioners
Elegendo o azul como cor e o leão rampante como escudo, o
Chelsea cedo foi admitido na Liga, começando a competir imediatamente na II Divisão. Após duas épocas subiu e iniciou um longo período de subidas e descidas, que lhe valeram a alcunha de «yo-yo de
Chelsea».
Mears faleceu em 1912, sem o seu clube conhecer o sucesso que ele sonhava para a sua equipa. Já depois de falecer, um dos seus sonhos realizou-se, com Stamford Bridge a tornar-se o local da final da Taça de Inglaterra entre 1920 e 1922. A família Mears continuou na frente do clube até aos anos oitenta, altura em que acabou a última ligação entre o fundador e o
Chelsea.
Desde os primeiros anos, que o clube se associou aos pensionistas do
Royal Hospital Chelsea, um lar para antigos membros do exército britânico localizado em
Chelsea. Os
Chelsea Pensioners, como eram (são) conhecidos, tinham o direito de presenciar todos os jogos do clube em Stamford Bridge, um privilégio que ainda detêm, passados todos estes anos.
Durante décadas os
pensioners viveram bem longe dos resultados dos outros grandes de
Londres. A
II Guerra Mundial deixou o futebol inglês em
stand by, dos diversos jogadores da equipa, apenas dois não foram chamados a participar no conflito.
No pós-guerra, os blues apostaram forte no crescimento, adquirindo Tommy Lawton, Len Goulden e Tommy Walker, um trio de renome que deixou marca no futebol inglês.
O campeonato
O antigo treinador do
Arsenal, Ted Drake, tornou-se o manager em 1952, começando a modernização de um clube que parecia parado no tempo. Alterou o emblema do clube, deixando cair o
Chelsea Pensioner do escudo, substituindo por letras estilizadas e passando a destacar-se o azul carregado, que valeu a alcunha de «blues».
Investiu nas camadas jovens e alterou os métodos de treino, reconstruindo a equipa com jovens promissores de divisões inferiores, e inclusive alguns amadores, que para surpresa de muitos, foram fundamentais na conquista da liga de 1954-55, o primeiro troféu da história do clube.
Na época seguinte, o
Chelsea foi aconselhado pela Federação Inglesa, a não participar na Taça dos Campeões Europeus, a nova competição que acabara de surgir. O
Chelsea acedeu, estando longe de imaginar que só voltaria a qualificar-se para competição nos anos noventa...
Longa travessia do deserto
Depois da conquista do título, o clube não conseguiu estar à altura das expectativas geradas, passando o resto da década a meio da tabela, para nos primeiros anos dos loucos anos sessenta, voltar a cair temporariamente na segunda divisão. Ainda em 1969, apesar da crise, acabou por conquistar pela primeira vez a
FA Cup.
Depois de um novo regresso ao topo, acabou por cair para a segunda divisão nos anos setenta, onde se arrastava longe do topo, ameaçando inclusivamente cair para o terceiro escalão, quando Ken Bates adquiriu o clube por somente uma libra, impedindo o seu mais que provável fim...
Os anos oitenta seriam um novo começo, com o
Chelsea a voltar ao primeiro escalão, com uma curta passagem pela segunda divisão em 1989.
Bates reorganizou o clube e lentamente foi subindo na classificação, encurtando distâncias para o topo. Em 1996, o holandês
Ruud Gullit tornou-se jogador-treinador, e foi com ele no comando que os
blues conquistaram a
FA Cup.
Vialli sucedeu a Gullit, guiando o
Chelsea à conquista da Taça das Taças, além de uma Taça da Liga. Para substituir o italiano, viria outro italiano, Claudio Ranieri, que foi o responsável para a primeira qualificação dos azuis para a
Champions.
Era Abramovich
Em junho de 2003, Bates vendeu o
Chelsea ao bilionário russo Roman Abramovich por 140 milhões de libras. Mais cem milhões seriam gastos em novos jogadores, contudo Ranieri seria incapaz de conquistar algum troféu, acabando por ser substituído por José Mourinho.
Com o
Special One, o
Chelsea quebrou um longo jejum, festejando o campeonato e tornou-se o quinto clube depois da guerra a festejar um bicampeonato. Em 2007, apesar dos sucessos do português, Mourinho seria substituído por Avram Grant, que conduziu os blues à sua primeira final da
Champions, perdida nos penáltis para o
Manchester United.
Na voragem do sucesso, Abramovich foi trocando de treinador como quem troca de camisa. Filipe Scolari, Guus Hiddink, Carlo Ancelotti, sucederam-se, perdendo o lugar, apesar das conquistas das ligas e das taças, com o russo a demonstrar-se sempre insatisfeito por não conquistar a Champions.
André
Villas-Boas seria o segundo português a estar à frente do esquadrão de Stamford Bridge, mas também ele fracassou, acabando substituído pelo interino Roberto di Matteo, responsável pela surpreendente conquista da Liga dos Campeões em 2012 ,ganha ao
Bayern de Munique, no seu estádio, após desempate através de grandes penalidades.
Contudo desenganem-se aqueles que acham que a conquista da tão almejada
Champions iria acalmar o bilionário, que acabou por despedir o italiano depois do fraco começo na época seguinte, trocando-o pelo espanhol Rafa Benítez, que segundo as más línguas, desde a primeira hora viu o seu destino traçado...
No final da época, e apesar de há muito saber que não continuaria no clube, Benítez conduziu os blues à conquista da Liga Europa, batendo o
Benfica por 2x1 em Amesterdão. Surpreendentemente ou não, José Mourinho foi o eleito para comandar a nau de Stamford Bridge, escolhido para voltar a conduzir o
Chelsea à glória.
Muitos treinadores foram passando e muitos craques foram entrando e saindo da constelação londrina, mas na memória dos mais devotos fãs dos blues, estão os incontornáveis Frank Lampard e John Terry, símbolos maiores da alma do
Chelsea, que juntamente com Didier Drogba e Petr Čech, marcaram uma era sem paralelo no clube e até no próprio futebol inglês.
Equipa de topo
Sob a liderança de Abramovic o
Chelsea tornou-se uma equipa de topo a nível mundial, mas nem sempre o foi da forma mais consistente. Chegou a ganhar a Liga dos Campeões, que disputou durante muitos anos consecutivos, mas nem todos os anos era candidato ao título em Inglaterra, e quando não chegava perto do título ouvia-se de imediato o som do chicote, que marcava o despedimento de mais um treinador.
A seguir à segunda passagem de Mourinho pelo clube veio Antonio Conte, treinador italiano que se tornou o quarto técnico na história da
Premier League a ser campeão em ano de estreia, depois de implementar um sistema de 3x4x3 que dominou o futebol inglês em 2016/17. A segunda temporada, no entanto, não foi de tanto sucesso. O
Chelsea caiu nos oitavos da
Champions e não foi além do quinto lugar na Liga, por isso Conte não ficou para viver o seu terceiro ano de contrato.
Para o substituir veio outro italiano: Maurizio Sarri. Com fama de treinador que coloca as equipas a jogar bom futebol, Sarri chegou a Inglaterra com muita expectativa, mas sem nenhum troféu no palmarés. Trouxe o seu amuleto Jorginho e resgatou Kepa ao Athletic por 80 milhões de euros (guarda-redes mais caro da história do futebol, nessa altura), mas acabaria por se desentender com o espanhol, que se recusou a ser substituído em jogo da
FA Cup.
Sarri começou a caminhada em Inglaterra com uma série invencível de 18 jogos, mas acabou por perder gás e terminar em 3º na
Premier League, assegurando a qualificação para a
Champions que viria de qualquer das formas pela conquista de um troféu europeu: O
Chelsea conquistou a Liga Europa em Baku, com um expressivo 4x1 frente ao rival londrino
Arsenal, num jogo que serviu também de despedida para Eden Hazard, que rumava a
Madrid como ícone dos
blues.
Apesar de ter conquistado o seu primeiro troféu como treinador, Sarri não ficou no clube. O italiano rumou à
Juventus e o
Chelsea apostou no regresso de uma lenda: Frank Lampard era então o novo treinador!
Inexperiente, mas conhecedor da grandeza do clube como ninguém, Lampard agarrou numa equipa impedida de contratar pela UEFA e construiu uma espinha jovem para preparar o futuro, com Mason Mount, Abraham, Tomori, Reece James e muitos outros a integrar pela primeira vez o plantel principal, mas mesmo assim o técnico surpreendeu ao alcançar o quarto lugar e a qualificação para a
Champions, numa época que ficaria ainda marcada pelo início da pandemia Covid-19.
Para compensar pela proibição anterior, o mercado que precedeu 2020/21 foi muito ativo para o
Chelsea, que investiu muito para contratar jogadores como Havertz, Werner, Ziyech, Chilwell e Thiago Silva, mas enquanto a defesa continuava suspeita, o ataque que destacou Lampard deixou de ser tão perigoso e o técnico acabou por abandonar o clube. Para o seu lugar foi contratado Thomas Tuchel.