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Aston Villa

Texto por João Pedro Silveira com Andy Packett e Denise Freitas
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As origens do Aston Villa perdem-se nas brumas do tempo. Não há nenhum documento ou testemunho da época, que faça referência ao dia da fundação do clube. O que está historicamente comprovado, é que nos começos de 1874 há notícias de um um encontro entre quatro membros do clube de críquete da Capela Wesleyana.

Era uma fria noite de inverno e os quatro encontraram-se à luz de um candeeiro a gás, na Heathfield Road, em Birchfield, Birmingham. Os jovens queriam descobrir uma forma de manterem a atividade desportiva durante os meses de inverno, pois a equipa de críquete da Capela Wesleyana, conhecida como Villa Cross, não competia até ao começo da primavera. 

Jack Hughes, Frederick Matthews, Walter Price e William Scattergood, que tinham passado a tarde a assistir a uma caótica partida de futebol num descampado ali perto, resolveram então fundar um novo clube, que teria o futebol como modalidade principal.

Price foi escolhido para ser o primeiro capitão, e quinze dias depois o clube já contava com o número necessário de jogadores para formar uma equipa de futebol, ou de râguebi. Só faltava um adversário...

Primeiro jogo

Apesar da paixão pelo jogo estar a conquistar cada vez mais novos adeptos e jogadores para o association, o primeiro jogo dos villains seria disputado apenas em março de 1875, data em que o Aston Brook st. Mary´s Rugby Club aceitou defrontar o Villa, com a condição que a primeira parte seria jogada de acordo com as regras de Rugby - com quinze  jogadores e bola oval, entre outras particularidades - e que na segunda parte jogariam de acordo com as regras de Sheffield, passando a jogar com uma bola esférica, mantendo contudo os quinze jogadores de cada lado. A vitória sorriu aos villains, com um golo apontado na segunda parte por Jack Hughes.

Durante mais de um ano, este seria o único golo apontado pelos villains, porque durante todo esse período, o Aston Villa não conseguiu encontrar em Birmingham, um adversário que pudesse defrontar.

Em Birmingham imperavam os clubes que gostavam de jogar de acordo com as regras de Rugby, mas no Aston Villa, os desportistas preferiam o association jogado com o código de Cambridge e Sheffield. Restava aos villains treinar e esperar por um melhor dia.

A chegada do escocês

1876 é o ano que marca a mudança na história do Villa. Numa fria noite de inverno, os rapazes treinavam para manter a forma, quando se acercou deles um rapaz que nunca tinham visto. Apresentou-se como George B. Ramsay e com o seu sotaque escocês pediu para jogar. Os rapazes acederam e pouco depois estavam rendidos à técnica do escorreito escocês, que dominava a bola com mestria, como ninguém em Birmingham presenciara até então. 

Não só lhe pediram para entrar na equipa, como o elegeram capitão. Ramsay aceitou e rapidamente se tornou no líder e ícone da modesta equipa. Com o seu boné de polo e as calças compridas, Ramsay encantava as multidões que enchiam o pequeno campo de Perry Barr, que Ramsay havia encontrado em Wellington Road. 

Seria ele a liderar o clube na sua primeira conquista, a Birmingham Senior Cup em 1880, tornando-se depois dirigente e secretário do clube, tendo papel fulcral na aquisição dos Aston Lower Grounds (1896), onde se localiza o Villa Park, atual casa do clube.

Uma potência vitoriana

Em 1887, capitaneado por Archie Hunter, o Villa conquistou a sua primeira FA Cup (Taça de Inglaterra), começando a assumir-se como uma das grandes equipas do país e tornando-se no principal emblema da cidade, como tão bem demonstrou a chegada a Birmingham nessa mesma noite, quando mais de cinco mil pessoas esperavam a equipa, festejando euforicamente a vitória sobre o vizinho e rival West Bromwich Albion

O Aston Villa esteve entre os doze clubes que fundaram a Football League em 1888, assumindo-se nas épocas seguintes como a maior potência futebolista inglesa, conquistando cinco ligas e três Taças de Inglaterra, até ao fim do reinado da Rainha Vitória, que faleceria em 1901.

Dez anos passados da primeira conquista da FA Cup, o Aston Villa conseguia o double, ou «dobradinha» em português, conquistando na mesma histórica época a Liga e a Taça. 

O «canto do cisne»

Ao apontar os dois golos da partida, Harry Hampton foi o herói que liderou os villains à conquista da FA Cup em 1905, a quarta do clube, conquistada frente ao Newcastle United, perante 101 mil pessoas no Crystal Palace em Londres

Cinco anos mais tarde o Aston Villa conquistou o seu sexto título, juntando mais uma Taça à lista em 1913. Com o espoletar da Primeira Guerra Mundial (1914-18) o futebol parou em Inglaterra em 1915 e só seria retomado depois do fim do conflito, na época de 1919/20.

Seria precisamente o Aston Villa o primeiro clube a conquistar a celebrada Taça de Inglaterra em 1920, batendo o Huddersfield Town por uma bola a zero, tendo sido o único golo da final apontado por Billy Kirton, já no prolongamento. 

No momento do festejo, habituados que estavam às vitórias, nenhum dos adeptos do Villa estaria perto de imaginar quanto tempo demoraria o clube a conquistar nova Taça...

A queda

Mesmo sem conquistar nenhum título durante o resto dos anos vinte, e metade da década de trinta, o Aston Villa era reconhecido como uma das equipas mais famosas do Mundo. Presentes no primeiro escalão desde a primeira edição da prova, eram ainda o clube com mais vitórias tanto na Liga, como na FA Cup, justamente reconhecidos como o maior clube do norte do país.

Mas em 1936 o clube sofreria o mais duro revês da sua história até então. Pela primeira vez o Aston Villa descia de divisão, sofrendo inacreditáveis 110 golos em 42 jogos, sete deles apontados por Ted Drake, na humilhante goleada sofrida em Villa Park às mãos do Arsenal (1x7).

Ressurgimento

A Segunda Guerra Mundial (1939-45) provocou nova interrupção nas competições desportivas inglesas. A «normalidade» voltou na segunda metade da década. O Villa, como os restantes clubes ingleses perdera alguns dos jogadores, vítimas do conflito e demorou algum tempo a renascer, impulsionado pelo ex-jogador Alex Massie.

O primeiro jogo depois do fim da guerra seria jogado em Villa Park, contra o Middlesbrough, que bateu os anfitriões por 0x1, perante 50 mil espetadores. 

Durante o resto dos anos quarenta e na primeira metade dos anos cinquenta, Massie continuou a apostar em jogadores jovens, que ajudavam a equipa a manter-se a meio da tabela. Uma das melhores contratações de Massie, seria Danny Blanchflower - que mais tarde brilhou no Tottenham - por 15 mil libras em 1951. 

Com a chegada de Eric Houghton ao banco, o clube foi cimentando a sua posição no primeiro escalão e voltaria a conquistar a FA Cup em 1957, derrotando a famosa equipa do Manchester United conhecida como os Busby Babes em Wembley por 2x1. 37 anos depois, os villains voltavam a levantar um troféu. 

Nova queda

Depois da bonança, a tempestade. Duas épocas passadas o Villa voltava a cair nas profundezas do segundo escalão, para só regressarem em 1960, liderados por Joe Mercer, que no ano seguinte, levou a equipa à primeira conquista na Taça da Liga.

Apesar do relativo sucesso, Mercer abandonaria o barco em 1964, iniciando-se nova era conturbada em Villa Park, que presenciou nova despromoção em 1967. A crise instalou-se no clube e depois da habitual saída do treinador seguiu-se a própria direção. 

Patt Matthews, um magnata londrino com ligações à City, comprou o clube e empossou Doug Elis como chairman, mas nem a injeção de capital impediu o clube de sofrer nova despromoção, desta feita ao terceiro escalão em 1969/70.

Regresso ao topo

O retorno ao segundo escalão deu-se duas épocas mais tarde, com Vic Crowe ao leme da equipa. Em 1974, Ron Saunders sucedeu a Crowe e no fim da época 1974/75 o Aston Villa estava de regresso à First Division e conquistava a Taça da Liga novamente. 

Seis anos depois da conquista da Taça da Liga, o Aston Villa surpreendeu a concorrência, ficando quatro pontos à frente do Ipswich Town de Bobby Robson e do Liverpool, que era então a força dominante no futebol inglês e europeu, para assim conquistar o título pela sétima vez na sua história, 71 anos volvidos da última conquista. A festa em Birmingham foi sem precedentes, com os adeptos villains eufóricos a festejarem o regresso à ribalta.

Para surpresa dos fãs, Saunders abandonaria o clube no decorrer da época seguinte, substítuido pelo seu adjunto Tony Barton, treinador que qualificaria o clube para a final da Taça dos Campeões Europeus em Roterdão, onde os ingleses se impuseram aos alemães do Bayern de Munique, graças ao golo de Peter White.

Seguiu-se a conquista da Supertaça Europeia, com vitória por 3x1 sobre o Barcelona no conjunto das duas mãos. Já na Taça Intercontinental, a sorte sorriria aos uruguaios do Peñarol, que levaram a melhor (0x2) na noite fria de Tóquio...

Do céu ao inferno

Do céu ao inferno distaram apenas cinco anos. Se a vitória na Supertaça Europeia ainda ajudara a disfarçar o péssimo 11º lugar atingido na época em que defendia o título, as classificações nos anos seguintes já deviam ter feito soar as campainhas do alarme em Villa Park.

Mas dirigentes e adeptos pareceram não ligar muito, acordando para o pesadelo no fim da época de 1986/87, quando o Aston Villa caiu com estrondo, terminando em último lugar na prova e caindo novamente para segunda divisão, somente uma mão cheia de anos depois da glória europeia...

Com Graham Taylor, o Villa regressou logo ao topo, para ficar em segundo lugar - atrás do Liverpool - na segunda época depois do regresso. Em 1992, o Aston Villa foi um dum dos fundadores da Premier League, onde voltou a terminar em segundo lugar, atrás do Manchester United, que punha fim a um longo jejum de títulos. 

As duas vitórias na Taça da Liga e a constante presença entre os seis melhores da Premier League, valeram ao Aston Villa um estatuto de primeira e qualificações recorrentes para as competições europeias.

Novo Milénio

Na Europa, os villains voltaram a deixar uma marca em 1997/98 eliminando Bordéus, Athletic Bilbau e Steaua, antes de cairem nos quartos-de-final, eliminados pelo Atlético de Madrid. Já dois anos antes, o Villa surpreendera a Europa eliminando o todo-poderoso Inter de Milão.

Em 2000 o clube voltou a chegar à final da Taça, perdida para o Chelsea, enquanto conseguia novo sexto lugar na Premier League, que só voltaria a ser repetido, já com Martin O´Neill à frente da equipa.

Com o norte irlandês, o Villa conquistaria três sextos lugares consecutivos, chegando a nova fina da Taça da Liga, perdida para o Manchester United. A ideia do ressurgimento do clube encantava os adeptos, mas nova crise levou à demissão do treinador antes de começar a época de 2010/11. 

Sem Martin O´Neill o clube voltou a afastar-se do topo, não conseguindo nenhuma posição de destaque sob a lideração de MacDonald, Gérard Houllier, Alex McLeish ou Paul Lambert. Esta estagnação acabou por terminar (da pior maneira) em 2015/16, com um 20º e último lugar na Premier League a valer a despromoção ao Championship. Depois de um tombo consentido, o regresso ao escalão máximo foi conseguido, via play-off, à segunda tentativa, em 2018/19.

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Estádio
Villa Park
Villa Park
Inglaterra
Birmingham
Lotação43300
Medidas105x69
Inauguração0