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    River Plate

    Texto por João Pedro Silveira
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    Caixotes de madeira

    Durante a construção do novo Porto de Buenos Aires, capital argentina, um grupo de trabalhadores da Doca nº 3, resolveu aproveitar a pausa no trabalho para fazer uma partida de futebol. 

    Enquanto os trabalhadores corriam atrás de uma bola, para trás tinham ficado uns caixotes de madeira onde se podia ler «The River Plate». O que estava dentro dessas caixas, ninguém soube e o mistério ainda perdura nos nossos dias, mas Pedro Martínez, que observara a cena, ficou com o nome na memória, e quando se reuniu com Leopold Bard (o primeiro Presidente) e os outros fundadores do clube, propôs o nome River Plate para a nova coletividade. Assim ganhava nome o Club Atlético River Plate, nascido no bairro de Boca, Buenos Aires, Argentina, a 25 de maio de 1901, fruto da junção de jogadores e apoiantes de dois clubes locais: o Santa Rosa e o La Rosales.
    Primeira equipa do River Plate (1901). Da esquerda para a direita, em cima: Moltedo, Ratto, Cevallos; ao centro: Peralta, Carrega, Bard; em baixo: Kitzler, Martínez, Flores, Zanni e Messina
     
    A primeira «cancha» e a «banda roja»
     
    O primeiro campo, ou cancha, como os argentinos lhe chamam, surgiu no lado sul da Dársena Sud. Ali jogou o primeiro onze do River: Moltedo, Ratto, Cevallos, Peralta, Carrega, Bard, Kitzler, Martínez, Flores, Zanni e Messina, todos equipados de branco, pois a famosa lista vermelha que atravessa a camisola do River, só surgiu no fim de uma noite de carnaval, quando uma fita vermelha de seda que se soltava de um carro alegórico, foi agarrada por cinco miúdos que a roubaram com o objetivo de dar mais cor ao equipamento do seu clube.
     
    A famosa lista vermelha foi colocada a cruzar a camisola branca, presa por alfinetes, sendo imediatamente aceite por todos. A estreia do novo equipamento foi contra o Maldonado, um clube do bairro vizinho de Palermo. Não se sabe o resultado final, sabe-se apenas que o River Plate venceu e a sua mítica camisola começava a ganhar a aura de vencedora.
     
    «Superclásico» e as mudança rumo ao norte
     
    Em 1913, mais precisamente no dia 24 de agosto, o River Plate defronta pela primeira vez o Boca Juniors, com a vitória a sorrir aos riverplatenses por 2x1, no primeiro «Superclásico» da história. Certamente que os jogadores do River e do Boca, estariam longe de imaginar a repercursão futura da rivalidade entre os dois clubes...
     
    River Plate x Boca Juniors: o «Superclásico», o dérbi dos dérbis, considerado o jogo mais intenso do mundo.
    Enquanto o clube crescia e passava a disputar a primeira divisão, as «dores de crescimento» fizeram o River Plate mudar de casa uma e outra vez... Da fundação até 1923, entre pequenos e grandes saltos, mudanças necessárias ou impulsos, a verdade é que o clube foi se espraiando por Buenos Aires, descobrindo novas geografias da cidade. De Dársena Sur para Sarandí, de Sarandí para la Dársena, daí para o centro, depois para Caballito, voltando depois para Boca, mudando-se para Palermo...
     
    Após algumas mudanças, o River Plate abandona definitivamente o bairro de Boca, mudando-se para norte, para Belgrano, muito próximo de Nuñez, um dos bairros mais elegantes e elitistas da capital argentina. Começava a nascer a fama de clube rico, e é dessa época que provém o epíteto de «Milionários» que ajudou a sustentar a clivagem com até aí bom vizinho e agora cada vez mais rival Boca Juniors.
     
    A 27 de setembro de 1936, iniciava-se a construção do Estádio Monumental Antonio Vespucio Liberti, conhecido como Monumental de Nuñez, pois erroneamente muitos creem que o estádio se encontra nesse bairro, quando este foi edificado ainda dentro dos limites de Belgrano.
     
    Os Milionários: o profissionalismo
     
    Mas o crescimento do River Plate e a sua ascensão ao estatuto de grande, e de milionário, começou uns anos antes, com as primeiras conquistas e o advento do profissionalismo.
     
    Em 1920, após um duelo titânico com o Racing Avellaneda, por esses dias, o melhor clube portenho, o River Plate conquistou o seu primeiro campeonato da Primeira Divisão Argentina.
     
    Mudando-se entretanto para a Recoleta, onde inaugura o Estádio Alvear y Tagle, o River vai conquistando o amor dos locais, ganhando muitos adeptos e popularidade, durante um periodo em que a divisão do futebol argentino em duas ligas diferentes, impediu os confrontos River x Boca, sem contudo beliscar a rivalidade crescente...
     
    Com o advento do profissionalismo no futebol argentino em 1931, o River Plate encontrava-se um passo à frente dos outros, tornando-se então no maior clube do país, com um estádio de luxo, mais de 14 mil sócios e um porvir radiante...
     
    Campeão em 1932, Bicampeão em 1936-37, o clube dá um passo de gigante com a inauguração do Monumental, no dia do seu aniversário, a 25 de maio de 1938, numa enorme festa que terminou com a vitória por 3x1 sobre o Peñarol de Montevideu.
     
    Um ano depois pendurava as botas, Bernabé Ferreyra, que com 187 golos em 185 partidos, se tornara o primeiro grande ídolo da massa adepta riverplatense.
     
    «La Máquina»: os gloriosos anos 40
     
    Há mais de um ano que mundo se digladiava, a II Guerra Mundial, iniciada na Europa em 1939 já se expandira para África, Ásia e Oceânia e em breve chegaria também às Américas e ao Atlântico Sul. Contudo o «País das Pampas» permaneceria neutral, apesar das pressões norte-americanas e inglesas, e só entraria no conflito no último ano, para lutar ao lado dos aliados contra as forças do Eixo.
     
    Juan Carlos Muñoz, José Manuel "El Charro" Moreno, Adolfo Pedernera, Ángel Labruna e Félix Loustau, um quinteto de luxo que passou à história como «La Máquina».
    A Argentina vivia então um momento de recuperação económica e no futebol sopravam os ventos da modernidade. Novos estádios eram inaugurados e as equipas abraçavam lentamente o profissionalismo. O River Plate continuava como um farol no futebol argentino. Organizado, rico, popular, não admira que os títulos chegassem com regularidade.
     
    Campeão em 1941, 1942, 1945 e 1947, esta era ficou marcada por uma das melhores equipas da história não só do clube, como do próprio futebol argentino e mundial. Juan Carlos Muñoz, José Manuel "El Charro" Moreno, Adolfo Pedernera, Ángel Labruna e Félix Loustau, um quinteto de luxo que passou à história como «La Máquina».
     
    Toda a Argentina - que entrara então no primeiro período do Peronismo, com o General Peron como Presidente e Evita Duarte, como uma musa e líder espiritual - queria acompanhar de perto cada exibição de «La Máquina». Estádios cheios, grades derrubadas, viagens de comboio acompanhadas por fãs e simples curiosos, receções triunfantes em estações de comboio, os jogadores do River Plate, viviam como estrelas do cinema de Hollywood.
     
    Entre os novos atores principais da equipa, encontrava-se um jovem, de seu nome Alfredo Di Stéfano Laulhé, «La Saeta Rubia» [a Seta Loira], que em 1947 se tornou o melhor marcador do campeonato argentino, antes de abandonar o clube dois anos depois, durante uma greve dos futebolistas, que viu fugir para outros países sul-americanos, em particular a Colômbia, alguns dos grandes craques do futebol alviceleste. 
     
    O tricampeonato de 1955-57
     
    Mas se os anos 40 tinham sido inolvidáveis, que dizer dos anos 50, e dos cinco títulos conquistados em apenas seis anos? 1952, 1953, 1955, 1956 e 1957...
     
    Estádio Monumental Antonio Vespucio Liberti, conhecido como Monumental de Nuñez, palco de todos os sonhos dos fãs dos River.
    Com Vernazza, Eliseo Prado, o uruguaio Walter Gómez - que fora comprado por uns «chocantes» 750 mil pesos, Labruna e Loustau na frente, o River conquistou o bicampeonato de 1952 e 1953, depois de ter efetuado uma tour pela Europa, onde só perdeu um jogo e se tornou o primeiro clube argentino a vencer em Inglaterra, batendo o Manchester City por 3x4.
     
    Após um ano de interregno, regressa ao título em 1955, festejando a conquista com uma vitória sobre o rival Boca 1x2, precisamente na Bombonera. 
    Com os golos de Roberto Zárate, o River conquistou ainda os dois campeonatos seguintes, sempre com classe e vantagem descansada sobre os adversários.O River marcava a sua hegemonia e coroava-a com o primeiro tricampeonato. 
     
    Uma década desastrosa
     
    Os anos 60 até prometiam sucesso, pois logo em 1961, um tour pela Europa, onde bateram a Juventus de Itália e o Real Madrid de Di Stéfano. No ano seguinte, foi a vez do de Pelé visitar o Monumental e sair vergado ao peso da derrota.
     
    Mas a década revelou-se um longo caminho de penosas campanhas. Não obstante o elevado investimento na equipa que contou nesses anos com craques como Onega, Artime, Cubilla e Más, o clube nunca conseguiu conquistar um Campeonato, ficando oito vezes em segundo lugar num espaço de dez anos...
     
    Na Taça Libertadores chegou à primeira final, que perdeu para os uruguaios do Peñarol, (4x2) e esteve 12 anos sem vencer o Boca na Bombonera. Mas o momento mais negro teria lugar a 23 de junho de 1968, quando 71 pessoas morreram asfixiadas e outras 66 ficaram feridas, durante um «Superclásico» no Monumental.
     
    O regresso aos títulos
     
    Só em 1975 é que voltavam os títulos. Uma longa espera de 18 anos que desesperou os riverplatenses, que explodiram em euforia em Buenos Aires e por toda a Argentina, no dia em que terminou a «mala racha». 
     
    Entre 1975 e 1979, a conquista de três Campeonatos Metropolitanos e dois Campeonatos Nacionais, marcou o regresso do River em força. Eram os tempos do grande Daniel Passarella e do intransponível Fillol na baliza. 
     
    A nova década começou com mais dois títulos, e os reforços Ramon Angel Diaz, Mário Kempes, Olarticochea e Gallego, comandados por Di Stéfano, que regressou ao clube para se sentar no banco. 
     
    A despedida de Enzo Francescoli, a grande estrela riverplatense dos anos 80 e 90.
    Em 1984 chegou Enzo Francescoli, o príncipe uruguaio que marcou uma época no clube. Campeão da Primeira Divisão em 1985/86, o River Plate lança-se à conquista da América do Sul, vencendo a Taça Libertadores. Meses depois a coroação mundial, com a conquista da Taça Intercontinental em Tóquio, contra os romenos do Steaua.
     
    Anos 90: década vitoriosa
     
    No ano seguinte os «branco-e-vermelhos» sagraram-se Campeões da Copa Interamericana, competição entre os campeões da COMEBOL e CONCACAF, terminando o primeiro ciclo de conquista memorável do clube.
     
    Com Passarella como treinador os riverplatenses voltaram a dominar o futebol argentino, conquistando três Aperturas entre 1991 e 1994. Regressando primeiro Ramon Díaz e mais tarde Francescoli, as bancadas do Monumental vibravam com as exibições e resultados de uma equipa que ia lançando novas estrelas para o firmamento do futebol das pampas como Ortega, Gallego e mais tarde Hernán Crespo.
     
    Com Enzo «El Maestro» Francescoli em destaque, secundado por Crespo e Ortega, e com Ramon Díaz já sentado no banco, o River conquistou a sua segunda Libertadores em 1996. Um ano depois, já com o chileno Marcelo Salas em destaque, o River conquista mais três títulos, festejando a conquista de cinco troféus em dois anos. 
     
    A viragem do Milénio
     
    Francescolli abandonou em 1998, mas o River Plate mantinha uma capacidade improvável de gerar novas estrelas. Liderados desde o banco por Gallego, a nova geração de Sorín, Aimar e Saviola tornava-se um deleite para os aficcionados, que das bancadas, assistiam maravilhados às conquistas do Torneio de Apertura de 1999 e do de Clausura de 2000.
     
    Pablo Aimar e Javier Saviola, a última geração dourada do River Plate.
    Campeão do Torneio de Clausura de 2002, 2003, 2004, o River entrou num lento processo de declínio, apenas interrompido com conquista da Clausura em 2008. Contudo, essa vitória, à imagem da de Pirro, nada alterou no rumo que se adivinhava.
    Com Passarella a Presidente - eleito em 2009 - o clube de Nuñez esperava inverter a situação, mas a contínua sangria de estrelas para a Europa como o avançado colombiano Radamel Falcao e o fim da produção em grande número de craques nas escolas de formação, que durante anos e anos tinham alimentado a primeira equipa, transformaram o onze do clube, num onze mediano, a roçar o medíocre...
     
    Perto da falência, sem meios para inverter a história, os adeptos do River assistiram de «mãos atadas» à despromoção do clube a 26 de junho 2011, na data mais triste da centenária instituição, que descia após 110 anos entre os maiores do futebol argentino.
     
    Caídos na Segunda, os adeptos acordaram para um pesadelo de que aos poucos querem recuperar, sonhando recuperar os tempos e as equipas que contaram com Di Stéfano, Passarella, Kempes, Ramon Díaz, Francescolli, Aimar ou Falcao, só para citar alguns nomes...

    Os regressados Cavenaghi e Domínguez, a que se juntaram outros jogadores, como o franco-argentino Trezeguet, aceitaram defender as cores do River no segundo escalão. Com raça e amor à camisola, o River venceu o segundo escalão e pouco depois viu a sua equipa de juniores vencer a Libertadores sub-20, prenunciando um futuro risonho.
     
    Regressado ao primeiro escalão o River venceria o Campeonato Final em 2014, ganhando acesso à Taça Libertadores de 2015 que venceria com brilho. Nos anos seguintes, ao nível do campeonato argentino, o River esteve longe do regresso à glória e o melhor que conseguiu foi um 2º lugar em 2016/17 - embora tenha vencido a Taça argentina nessa época e a Supertaça na seguinte -, mas os Millonarios regressaram à ribalta do continente americano em 2017/18, época em que voltaram a levantar o troféu da infame Taça dos Libertadores, numa final onde derrotaram o seu eterno rival argentino, o Boca Juniors, por 3x5 no conjunto das duas mãos. Essa final ficou marcada pelo facto da 2ª mão ter sido jogada no Santiago Bernabéu, casa do Real Madrid, devido ao ataque da qual foi alvo o autocarro do Boca na 1ª mão.
     
    E se o campeonato argentino continuava a escapar ao River, a Libertadores teve o mesmo destino nas épocas mais recentes e sempre «por causa» de treinadores portugueses. Em 2018/19, o River Plate chegou à final da sua prova predileta novamente, mas acabou por perder frente ao Flamengo (1x2), numa altura em que o técnico do Mengão era Jorge Jesus. O «trauma» não teve tempo de sarar, até porque na temporada seguinte foi a vez de Abel Ferreira, que treinava o Palmeiras, deixar a turma comandada por Marcelo Gallardo pelo caminho (3x2 no conjunto das duas mãos), acabando mesmo por conquistar a prova na final, frente ao Santos.
     
    Esta é a história do River, do Inferno ao céu num ápice, ou como um campeão nunca se abate...

    Comentários

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    motivo:
    BE
    2bolas
    2013-11-11 15h19m por BetoAcosta1984
    Nada a ver mesmo, trocas-te tudo. O Benfica é uma espécie de Boca Juniors, pois o Boca é que é o clube do povo e das massas na Argentina, enquanto o River Plate é como o Sporting, é o clube das elites, e da burguesia na Argentina, e sendo clubes da mesma cidade, em que curiosamente os estádios até são próximos, esta rivalidade é mais comparável a Benfica e Sporting. Na Argentina um clube que pode ser equiparado ao Porto será talvez o Velez Sarsfield ou Estudiantes, que são clubes gra...ler comentário completo »
    CH
    River Plate
    2012-05-26 01h00m por chiguagua
    me distes tantas alegrias , tenemos que subir a 1 divicion mañana tenemos que ganar a rosario central
    CH
    river plate
    2012-05-26 00h58m por chiguagua
    Grande river , como tenemos historia mañana le tenemos que ganar a rosaro central para subir a primera
    MI
    oh 2bolas
    2012-05-25 12h09m por miendezz
    como é que chegas te a essa conclusao, posso saber?
    River Plate
    2012-05-25 09h25m por JoseSFortissimus
    Parabens a este enorme clube que tanto deu ao mundo do Futebol!
    EQUIPARAR
    2012-05-25 09h08m por -2bolasbemgrandes-
    boca juniores esta para porto
    river plate esta para benfica