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    Espanha 1982
    Grandes jogos

    Itália x RFA: Uma tarde italiana

    Texto por João Pedro Silveira
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    Madrid, 11 de julho de 1982. Passavam 19 minutos e alguns segundos das 20 horas quando a bola saiu do pé esquerdo do número 14 da Itália para o fundo das redes do alemão Harald Schumacher.

    O Estádio Santiago Bernabéu explodia com o segundo golo italiano. No campo, Marco Tardelli, autor do golo, viu as redes abanar e entrou em êxtase. Começou a correr, gritando «golo!» com os punhos cerrados. Correu, correu, como se fosse correr para sempre. Perseguido pelos colegas, Tardelli não parou e, com os punhos levantados, berrava, num estado de euforia tal que o mundo nunca mais esqueceu a sua corrida, a sua celebração.

    A final de 1982 é a final do golo de Tardelli, a final em que aquele italiano com o número 14 correu até não poder mais para festejar o fim de um jejum de 44 anos. A Itália era novamente Campeã do Mundo. A Squadra Azzurra chegava finalmente ao tão esperado tri...

    Dia histórico

    O rei Juan Carlos e a rainha Sofia eram os anfitriões da grande final da 12.ª edição do Campeonato do Mundo de futebol. Ao lado, na tribuna do Santiago Bernabéu, estavam o chanceler alemão Helmut Schmidt e o presidente italiano, Sandro Pertini.

    Nas bancadas, 90 mil espetadores in loco e, pela televisão, milhares de milhões atentos. Itália e Alemanha lutavam pela terceira estrela de campeão. Italianos e alemães estavam a um passo de fazer história e de igualar o Brasil, até então o único tricampeão mundial.

    Antecedentes

    A Itália chegava em crescendo, com vitórias consecutivas sobre Argentina, Brasil e Polónia, depois de uma primeira fase só com empates. Paolo Rossi, com cinco golos, lutava pela Bota de Ouro com o alemão Karl-Heinz Rummenigge, estrela maior da equipa que chegara à grande final depois de ultrapassar o grupo inicial - apesar da derrota contra a Argélia - e o segundo grupo onde empatara com ingleses e vencera os anfitriões.

    Na meia-final eliminara a França nas grandes penalidades, num jogo com polémica e emoção em que os alemães tiveram que recuperar de uma desvantagem de dois golos já no prolongamento.

    Em Madrid, Itália e Alemanha Federal encontravam-se mais uma vez no clássico do futebol europeu. «O Jogo» como alguns lhe chamam ou «Euro dérbi» para outros. O favoritismo pendia para a Itália que batera os campeões do mundo em título (Argentina) e a melhor equipa do globo (Brasil), mas a Alemanha era um adversário temível. Havia-se tornado dona e senhora do mundo oito anos antes...

    Piano, piano...

    «Chi va piano va sano e va lontano» é um dos mais famosos provérbios italianos, idêntico no sentido ao nosso «devagar se vai ao longe», perfeito para designar tanto a campanha dos transalpinos durante a Copa como o jogo italiano na primeira parte da final.

    Sem pressas, mas decididos, os italianos começaram a tentar controlar a partida desde o apito inicial, mas o primeiro sinal de perigo pertenceu ao alemão Pierre Littbarski. Paul Breitner, com espaço na esquerda, colocou a bola em Rummenigge, que esteve perto de bater Zoff.

    No banco, Bearzot, preocupado, mandava a equipa subir no terreno. Tardelli pegou na bola, deixou na esquerda para Cabrini, este para Altobelli que cruzou em arco para o segundo poste onde Briegel derrubou Bruno Conti. O brasileiro Arnaldo Cezar Coelho não hesitou e apontou para a marca de onze metros enquanto corria para o lado esquerdo da área, fugindo aos alemães que contestavam. 

    Cabrini pegou na bola, Stielike voltou atrás para falar com Schumacher e perturbar o italiano e um foguete caiu no centro da área. A tensão era imensa. Até esse jogo, apenas dois penáltis tinham sido marcados em finais de campeonatos do mundo, precisamente no mesmo jogo: um para a Holanda e outro para a Alemanha em 1974. Cabrini partiu para a bola - o fumo do foguete ainda pairava junto ao esférico -, mas rematou sem convicção ao lado...

    Até ao intervalo, os ataques alternaram-se, mas a Itália parecia nervosa, acusando a pressão do penálti falhado. 

    Risorgimento (1)

    A conversa no balneário terá sido decisiva. Os jogadores italianos voltaram para o segundo tempo, decididos a resolver a questão e conquistar um troféu que escapava à Squadra Azzurra desde 1938...

    O relógio marcava 56 minutos quando Karl-Heinz Rummenigge derrubou Oriali. Tardelli pegou na bola e marcou rapidamente o livre. Apanhou a defesa alemã descompensada, passou para Gentile e o número 6 cruzou para o centro da área onde Paolo Rossi apareceu para marcar pelo terceiro jogo consecutivo, tornando-se no melhor marcador do torneio com seis golos.

    Os alemães acusaram e muito o golo sofrido. Doze minutos depois, o momento que todos recordam: Rossi roubou a bola a Breitner, Scirea ganhou na dobra e avançou para o meio campo adversário, numa jogada de três para três deixou a bola em Conti que ganhou terreno em passada larga, aproximando-se da área alemã.

    Fletiu para a esquerda, fez uma finta, Rossi tirou-lhe a bola e, depois de dois passos, colocou na esquerda em Scirea. Este, já dentro de área, jogou para trás para Bergomi que devolveu de pronto. Alguns alemães pediram fora-de-jogo, a jogada pareceu perder o efeito surpresa, mas Scirea jogou para a entrada da área onde Tardelli falhou o domínio com o pé direito, emendando de seguida com um remate de esquerda, apanhando Schumacher pregado ao chão e apenas capaz de olhar a bola entrar junto ao poste.

    Tardelli festejou para a história. A Itália estava um passo do tricampeonato. A confirmação apareceu aos 81', quando Conti avançou pela direita e passou para Altobeli que só teve que evitar Schumacher com uma finta para fazer o 3x0.

    Paul Breitner apontava o ponto de honra na jogada seguinte, mas era tarde demais... A Itália era Campeã do Mundo pela terceira vez, igualando o feito do Brasil em 1970. Os alemães teriam que esperar mais oito anos (pelo meio perderiam mais uma final) para conquistarem o tri - ironia do destino - conquistado em Itália...

     

     

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    (1) Il Risorgimento (em português: O Ressurgimento) é o movimento que ao século XIX permitiu a unificaçao dos pequenos estados soberanos da Península Itálica e regiões sob domínio estrangeiro, para formar o Reino de Itália.

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    jogos históricos
    U Domingo, 11 Julho 1982 - 19:00
    Santiago Bernabéu
    Arnaldo Cezar Coelho
    3-1
    Paolo Rossi 57'
    Marco Tardelli 69'
    Alessandro Altobelli 81'
    Paul Breitner 83'
    Estádio
    Santiago Bernabéu
    Lotação81044
    Medidas105x68
    Inauguração1947