Chame-se-lhe destino, chame-se-lhe intervenção divina ou chame-se-lhe o que entender, mas a verdade é que o Euro 2000 foi a
chance de uma vida para Francesco Toldo. O guarda-redes da Fiorentina, no momento da convocatória de
Dino Zoff, sabia estar destinado a ser o suplente de Gigi Buffon para a «porta azul», uma hierarquia há muito definida e também justificada pelo desempenho desempenho do guardião do Parma à época.
A 3 de junho, no último amigável pré-europeu, contra a Noruega, em Oslo, os deuses resolveram entrar em acção... Buffon fraturou uma mão e a porta ficou aberta para Toldo. A defesa italiana era então, quiçá a mais forte do mundo, contando com jogadores como Nesta e Cannavaro, ambos no pico da carreira, e talvez por isso ninguém ligou muito à mudança na baliza, não imaginando o quão decisiva teria sido a inoportuna lesão de Buffon em Oslo.
Embate com a Laranja
A Nazionale avançou na prova derrotando os adversários, um após o outro. Depois de já ter eliminado uma equipa da casa, a Bélgica, nas meias-finais, os azzurri encontravam pela frente o outro país anfitrião: a Holanda.
A temível Laranja Mecânica chegara à meia-final após uma exibição avassaladora e um jogo memorável em que a pobre Jugoslávia pagou a fatura da inspiração holandesa com um pesado 6x1, resultado que deixava os italianos um tudo nada amedrontados.
Saltos até ao céu
O jogo começou com a máquina holandesa em cima dos italianos. A Squadra Azzurra como que se viu obrigada a conseguir a quadratura do círculo, defender a melhor máquina do mundo, controlar o jogo e calar um estádio pintado de laranja. Pela primeira vez na competição, a habitual dominadora Itália tinha que se defender e abdicar de dominar o jogo.
O alemão Wolfgang Stark, uma escolha que a Itália encarara como caseira, começou por castigar Zambrotta com um excessivo segundo cartão amarelo para de seguida decretar uma duvidosa grande penalidade a castigar uma falta de Nesta sobre Kluivert. Da marca dos onze metros, Frank De Boer, uma máquina de marcação de penáltis, olhou nos olhos de Francesco Toldo, fazendo lembrar um duelo num filme de Sergio Leone. O golo seria a morte da Itália e Toldo bem sabia...
A colher de Totti
O guarda-redes vira como o holandês apontara a sua última grande penalidade e, em vez de se atirar para o mesmo lado, resolveu ir para esquerda e fazer um verdadeiro milagre, chegando a uma bola que alguns juram que só se chegaria com asas. De braços bem abertos e apontados ao infinito e com saltos que pareciam chegar ao céu - pelo menos subiam mais alto que o travessão da baliza -, Toldo festejava a defesa da sua carreira. Com ou sem asas, este seria a primeiro de três grandes penalidades defendidas por ele nessa tarde.
Para selar um desafio épico houve ainda o momento decisivo no desempate por grandes penalidades. Toldo já defendera duas grandes penalidades e a vitória estava ali à mão de semear, mas Francesco Totti, capitão da Roma, avisara os colegas que se o jogo fosse para o desempate através de remates da marca de onze metros ele iria fazer um remate em colher, mais conhecido internacionalmente como uma 'Panenka', uma grande penalidade apontada em arco com a qual o jogador checoslovaco derrotara a Alemanha na final do Euro '76.
Totti olhou para Van Der Sar com olhar doce e o holandês não imaginava o que lhe iria acontecer. Os italianos fecharam os olhos, ouviu-se o impacto do pontapé na bola, seguiu-se um breve silêncio e depois uma pequena parte do estádio desatou a gritar «Golo!». Com um olhar doce e um instinto de um assassino, a Itália deitava a grande favorita pela borda fora e chegava à grande final.
As fitas azuis e epílogo amargo
Três dias passados, em Roterdão, na celebrada
Banheira, a grande final contra a França. Noventa minutos em que apenas compareceu a Itália. Só houve a
Squadra Azzurra em campo. A França, Campeã Mundial, estava em parte incerta.
Zidane, Henry, Trezeguet e companhia não davam sinais de vida.
Marco Delvecchio dera a vantagem aos azzurri aos 55 minutos.
Roger Lemerre já não sabe mais o que pode fazer, manda sair Lizarazu e avança para o terreno Robert Pirès,no mesmo 86º minuto em que
Dino Zoff mandava sairDelvecchio para o merecido aplauso da vitória.
Anders Frisk dá quatro minutos de compensação, a UEFA coroa Francesco Totti como «Homem do Jogo», a Taça começa a ser enfeitada com as fitas azuis da Itália e eis que Sylvain Wiltord consegue o milagre de empatar o jogo no último segundo da compesação.
Marco Delvecchio deu a vantagem aos azzurri aos 55 minutos. Apesar das oportunidades perdidas, apesar de Toldo ter estado a sangrar, a Itália finalmente parecia controlar o destino da partida, preparando-se para conquistar uma competição que só por uma vez ganhara, em casa, no distante ano de 1968.
Roger Lemerre, que já lançara Sylvain Wiltord e David Trezeguet, não sabia mais o que fazer e, num último ato de desespero, mandou sair Lizarazu e avançar Robert Pirès no terreno no mesmo 86º minuto em que
Dino Zoff mandava sair Delvecchio para receber o merecido aplauso.
Anders Frisk, o rigoroso árbitro sueco, deu mais quatro minutos de compensação; a UEFA coroava, entretanto, Francesco Totti como «Homem do Jogo», enquanto a Taça começava a ser enfeitada com as fitas azuis da Itália... E eis que Wiltord consegue o milagre de empatar o jogo no último segundo da compensação!
As fitas foram rapidamente removidas do troféu Henri Delaunay, a Itália ficou de olhos na Taça que parecia fugir e, a alguns minutos de terminar a primeira parte do prolongamento, Pirès cruzou para Trezeguet fazer o 2x1. Golo dourado, as fitas já eram as francesas, a Itália, incrédula, via o destino roubar-lhe a glória. No centro do relvado, Lemerre olhou o céu. Todas as suas substituições foram decisivas na mudança de resultado. O destino roubara a glória à Itália quando esta pensava que já a tinha na mão...