A Madeira aprende a jogar foot-ball
Muitos historiadores defendem que foi na Madeira, e mais propriamente na Camacha que se realizou a primeira partida de futebol em
Portugal. As opiniões dividem-se, o certo e o que a historiografia confirma, é que foi através dos marinheiros ingleses que desembarcavam regularmente no Funchal, que os madeirenses tomaram contacto com o
beautiful game.
Cedo, os ilhéus apaixonaram-se com o jogo, e já no início do novo século existiam partidas entre grupos populares como a equipa do «Meliça» ou a equipa do «Bife». Em Agosto de 1910, realizaram-se na cidade jogos disputados entre o Club Português de Sport Marítimo e o Club Sport Inglês, formado por ingleses que trabalhavam na Western Telegraph Company.
Não obstante a falta de documentação, admite-se que o Club Português de Sport Marítimo foi fundado por Cândido Fernandes de Gouveia na cidade do Funchal no dia 20 de Setembro de 1910, e como tal, é essa a data do nascimento do histórico clube do Funchal.
Após alguns treinos realizados no Campo de Almirante Reis com as «balizas às costas», as cores eleitas para o equipamento foram o verde-e-rubro republicano por oposição ao azul-e-branco monárquico do Club Sport Madeira, que por esses tempos era o principal clube da ilha.
Sopravam novos ventos em
Portugal e entretanto em Lisboa era instaurada a República a 5 de outubro de 1910... Na madeira o verde-e-rubro dos marítimistas ganhava ainda mais preponderância.
Nos meses seguintes, o clube rapidamente reuniu um conjunto de jovens marinheiros e pescadores para formar a primeira equipa, que na década de 1910 tornar-se-ia na melhor da Ilha, superiorizando-se aos rivais do Sport Madeira.
Em 1912 os verde-rubros deslocaram-se ao continente pela primeira vez, para jogarem em Lisboa. Nos anos seguintes, várias viagens foram feitas ao continente e as vizinhas Ilhas Canárias. Foram anos de franco crescimento do desporto insular, até que o futebol madeirense entrou num período de estagnação durante a I Guerra Mundial. Entre 1916 e 1921 o futebol insular ficou literalmente parado e o Marítimo não foi excepção.
Nos anos vinte o clube voltou a competir regularmente e participar nas competições regionais e nacionais. Em 1926, depois de vencer o Campeonato da Madeira, conseguiu o feito de conquistar o Campeonato de
Portugal, batendo o
Belenenses por 2x0 na final disputada na cidade invicta. Quatro dias depois, a equipa era recebida em euforia no porto do Funchal por centenas de adeptos, que celebravam o primeiro grande feito do clube.
Durante os anos 30, os marítimistas continuaram a competir, tanto no Campeonato da Madeira, como no Campeonato de
Portugal – antecessor da Taça de
Portugal, mas uma nova crise acabou por abalar o futebol madeirense e o Marítimo, quando em 1942 em plena
II Guerra Mundial, a Federação Portuguesa de Futebol, sediada em Lisboa, advogando o risco de ataque de submarinos alemães e as dificuldades de transporte das equipas, aceitou uma «sugestão» do governo e suspendeu a participação das equipas madeirenses na Taça de
Portugal. Os insulares não calaram a indignação, mas os protestos foram rapidamente abafados pelas autoridades locais, e de Lisboa sugeriam o fim dos protestos, o que durante o Estado Novo, significava o fim de qualquer contestação pública.
A partir de 1945, terminada a
II Guerra Mundial, o Marítimo voltou a assumir o domínio do futebol local e a participação regular na Taça de
Portugal, continuando contudo a não participar nos campeonatos nacionais, para inconfessada desilusão dos seus dirigentes e adeptos.
Entrada nos campeonatos nacionais
Só em 1973, já depois da morte de Salazar, e quando a «Primavera Marcelista» já desiludira por completo as esperanças do povo, o Marítimo - e os restantes clubes de Madeira e Açores - puderam participar nos campeonatos nacionais, numa vã tentativa do governo, através das autoridades desportivas, alterar o estatuto das então ilhas adjacentes. O Marítimo pode assim participar na II Divisão, zona sul.
Rapidamente, os «verde-e-rubros» tornaram-se fortes candidatos à vitória na zona sul, e em 1976/77, sem surpresa, conquistaram a tão sonhada subida à I Divisão nacional.
O fim dos anos 70 e a década seguinte foram anos em que o Marítimo alternou presenças na primeira e segunda divisão, lutando com dificuldade para permanecer entre os grandes, desgastando-se num exasperante «sobe-e-desce».
Em 1986, o Marítimo sobe de divisão novamente e inicia um novo ciclo na sua história e na do futebol português, sendo a seguir aos três grandes e ao SC Braga, o clube português que está há mais anos seguidos no primeiro escalão, conquistando assim um estatuto ímpar no panorama desportivo nacional.
Em 1991/92, chega ao clube o jovem treinador brasileiro Paulo Autuori, que já deixara boa imagem em Guimarães. A equipa conquista um 6º lugar que a deixa à porta da Europa. Nas duas épocas seguintes conquista o 5º lugar e estreia-se nas competições europeias, sendo o primeiro clube insular a fazê-lo. Em 1993/94, foi eliminado na 1ª eliminatória pelo Antuérpia da Bélgica, enquanto no segundo ano, depois de vencer os suíços do Aarau, teve a possibilidade de defrontar a
Juventus, naquele que terá sido o jogo mais mediático da história do Estádio dos Barreiros.
Finais da Taça e SAD
Outro marco histórico foi atingido em 1994/95, quando os leões da Almirante Reis chegaram à grande final do Jamor. Uma exibição de outro mundo de Everton não impediu os dois golos de Iordanov e a vitória do
Sporting.
Seis anos mais tarde os verde-rubros voltaram ao grande jogo, desta vez para defrontar o
FC Porto. A euforia era grande e mais de 5000 madeirenses deslocaram-se a Lisboa para assistir à final, provocando a maior ponte área de sempre entre o arquipélago e o continente. Mas nova derrota por 2x0 deitou por terra o sonho de igualar a façanha de 1926.
As boas classificações no campeonato e presenças na Europa tiveram custos no orçamento do clube. As finanças entraram no vermelho e na última década do século passado o governo regional propôs a fusão dos três grandes clubes madeirenses com vista a formar um grande clube. Ao contrário dos sócios do Nacional e do União, os maritimistas votaram contra a fusão, chegando a vaiar no Estádio dos Barreiros durante um jogo do Marítimo o Presidente do governo regional, Alberto João Jardim, vincando assim o espírito do clube e o amor da sua massa associativa.
O clube seria «castigado» pelo executivo regional, mas com uma nova direcção, as boas relações entre a Almirante Reis e a Quinta Vigia voltaram, e em 1999 foi fundada a SAD, com o clube a ficar com 40%, o governo regional outros 40% e os restantes 20% dispersos por vários accionistas
Ao longo da sua história centenária o Marítimo ganhou o estatuto de maior clube madeirense, um dos históricos do futebol nacional, com presenças regulares na Europa e com um dos estádios mais difíceis de visitar do país, que o digam
FC Porto,
Sporting e
Benfica, que tantas vezes já caíram nos Barreiros...