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    Borussia Dortmund

    Texto por João Pedro Silveira
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    Junto à Wambeler Strasse, um descampado era o palco ideal para os grandes jogos da rapaziada, que diariamente o invadia para dar chutos numa bola, correr e fazer ginástica. Ginástica, Atletismo e futebol seriam os três pilares do clube que fundaram a Jünglingssodalität «Dreifaltigkeit», em português a Associação juvenil «Trindade», um grupo católico de incentivo à prática desportiva.

    Dortmund, fica localizada no coração do Ruhr, região de grandes tradições mineiras e em termos religiosos, uma região profundamente protestante. Os emigrantes polacos que vinham trabalhar nas minas, assim como de outras regiões do sul da Alemanha, eram maioritariamente católicos, e foi assim que no coração da Alemanha protestante, nascia um clube de alma católica.

    A 19 de dezembro, um grupo de jovens descontentes e insatisfeitos com o comportamento do Padre Dewald, resolveram fundar um novo clube, para se libertarem do jugo "católico". Sete rapazes reuniram-se no bar Zum Wildschütz, dispostos a acabarem com os desmandos e despotismo do pároco. Este, tendo novas da reunião, acorreu apressadamente ao local para tentar pôr cobro à dissidência iminente. Contudo, seria impedido, com os jovens a barrarem a porta, impedindo assim o Padre de levar a sua avante...

    Franz e Paul Braun, Henry Cleve, Hans Debest, Paul Dziendzielle, Julius e Wilhelm Jacobi, Hans Kahn, Gustav Müller, Franz Risse, Fritz Schulte, Hans Siebold, August Tönnesmann, Heinrich e Robert Unger, Fritz Weber and Franz Wendt, foram os heróis que fundaram o novo clube, opondo-se à tirania de Dewald.

    O primeiro equipamento escolhido era azul e branco, com calções pretos e meias vermelhas. Por sua vez, o nome eleito seria Borussia, palavra que significa Prússia em latim. Contudo, não seria a toponímia latina da velha Prússia a responsável pelo batismo do novo clube. A escolha deve-se a um motivo mais prosaico... já que Borussia era o nome de uma famosa cerveja produzida em Dortmund, em instalações muito próximas do local onde se reuniam os rapazes nessa tarde. E como os jovens eram grandes apreciadores da cerveja, Borussia foi sugerido, agradou e assim ficou...

    Primeiros anos 

    Para se identificarem mais com a cidade, o clube passou a utilizar as cores do burgo, passando a equipar com as famosas listas em amarelo e preto que ainda hoje ostenta.

    Heinrich Unger foi o primeiro presidente, tendo desde a primeira hora, lutado para resolver o maior problema do jovem clube: a ausência de um campo onde jogar e treinar. Após muitos treinos e jogos com a casa às costas, conseguiram um acordo com a secção de atletismo do «Trindade» e com dois clubes vizinhos: o Rhenania e o Britannia. 

    A ascensão ao campeonato nacional - então jogado em molde de eliminatórias - deu-se em 1926. Época em que começou a histórica rivalidade com o Schalke 04, velho rival e vizinho, que na década de 30 e começo da década de 40 dominaria o futebol alemão. Ainda 1929, um investimento na profissionalização do clube provocou uma crise financeira avultada, que quase redundou na bancarrota, não fosse a intervenção de um comerciante local, que financiou a divida do clube.

    A subida ao poder dos nazis em 1933 provocou um enorme tumulto no clube, quando alguns dirigentes, entre eles o presidente, se recusaram a inscrever no Partido Nazi. As autoridades forçaram a demissão dos dirigentes e uma nova direcção surgiu. Contudo, alguns desses dirigentes acabariam por ser executados pela Gestapo já no fim da Guerra, acusados de terem produzido propaganda anti-nazi.

    Desportivamente, durante o consulado nazi, o Dortmund foi presença constante na Gauliga, mas à sombra do todo-poderoso Schalke 04. August Lenz seria o grande destaque dessa era, tornando-se no primeiro internacional da história do Borussia, vestindo a camisola da Mannschaft por 14 vezes entre 1935 e 1938.

    Renascer

    No fim da II Guerra Mundial, os aliados desmantelaram todas as associações alemãs, entre elas o Dortmund, procurando com isso expurgar qualquer réstia do nazismo. 

    Jogando na Oberliga West, o Borussia Dortmund chegou pela primeira vez à final do campeonato nacional em 1949 onde perdeu por 2x3 com o VfR Mannheim.

    O sucesso chegaria anos depois, em 1956, quando os amarelos bateram o Karlsruher por 4x2 no jogo decisivo e reclamaram para si o título de campeões da Alemanha. Um ano mais tarde, o Dortmund revalidou o título batendo o Hamburgo na final por 4x1. «Os três alfredos», Alfred Preißler, Alfred Kelbassa e Alfred Niepieklo, as referências da equipa bicampeã tornavam-se verdadeiras lendas vivas do Borussia.

    Os anos sessenta

    Campeão no último ano antes do começo da Bundesliga (1963), o Borussia Dortmund era uma das equipas mais fortes do país na década de sessenta, como o provam um vice-campeonato (1966), dois terceiros lugares (1965 e 1967) e um quarto lugar (1964). Além das boas prestações no campeonato, também brilhou na Europa...

    Em 1963/64, depois de eliminar os noruegueses do Lyn, o Borusia enfrentou o Benfica, somente bicampeão europeu. Depois de uma derrota em Lisboa por 2x1, os «amarelos» afundaram os campeões portugueses com um pesado e histórico 5x0 que deixou a Europa boquiaberta. Seguiu-se o Dukla de Praga, antes da derrota tangencial e eliminação com o Inter de Milão nas meias-finais, que seguiria em frente para bater o Real Madrid na final.

    Vencedor da Taça da Alemanha em 1965, o Borussia ganhou o direito de jogar a Taça dos Vencedores da Taças de 1965/6, prova em que chegou à grande final com os ingleses do Liverpool. Em Glasgow, o Dortmund do guarda-redes Tilkowski, e dos avançados Emmerich, Held e Libuda - todos internacionais alemães - , bateu os reds por 2x1 após prolongamento. Pela primeira vez um clube alemão ganhava uma competição europeia e o Borussia Dortmund era o autor da façanha!

    O declínio 

    Após anos no topo e a conquista de uma competição europeia, contra todas as expectativas, o Borussia começou a decair. Em 1972, para tristeza da sua falange de apoio, caiu para as profundezas do segundo escalão. 

    O regresso ao topo seria em 1976/77, mas o Dortmund não conseguiu voltar imediatamente ao nível anterior, mantendo-se como um clube de meio de tabela até aos anos 90.

    Gerd Niebaum, um prestigiado advogado da região, tomou as rédeas do clube em 1986, iniciando um processo de modernização que mudaria para sempre a face do clube. A primeira vitória do seu "reinado" chegou em 1989, com a Taça da Alemanha, a que se seguiu a Supertaça relativa à mesma época.

    A era dourada

    Em 1991, Ottmar Hitzfeld tomou o lugar de Hörst Koppel, revolucionando a equipa. Nos anos seguintes, a equipa foi-se reforçando com internacionais alemães como Jürgen Kohler, Karl-Heinz Riedle, Michael Rummenigge, Andreas Möller ou Stefan Reuter, aos quais se juntariam mais tarde craques como o central brasileiro Júlio César, o português Paulo Sousa, o dinamarquês Flemming Povlsen e o suíço Stéphane Chapuisat. 

    A equipa equilibrava-se em volta de Matthias Sammer, o «novo Beckenbauer» que comandava a equipa como uma orquestra. Lá atrás brilhava Stefan Klos na baliza, mais à frente não se pode esquecer a fiabilidade do escocês Lambert, do alemão Freund e a classe de Lars Ricken.

    Após o segundo lugar em 1992, o Dortmund tornou-se num candidato natural ao título. Na Europa, voltou a uma final, da Taça UEFA, em 1993, para ser trucidado pela Juventus (1x6 no conjunto das duas mãos).

    Os títulos nacionais chegariam em 1994/95 e 1995/96, abrindo caminho à candidatura à conquista da Champions League

    Em 1996/96, já com Paulo Sousa como Maestro, seguros com Sammer, Kree, Kolher e Reuter, apostando na técnica de Möller e na capacidade goleadora de Riedle e Chapuisat, o Dortmund foi avançando etapa a etapa até à grande final de Munique, onde pela frente, estava novamente a Juventus

    Desta feita, os alemães não deram hipóteses e vingaram 1993, vencendo por 3x1, com dois golos de Riedle e um «golaço» de Ricken. O Dortmund era campeão europeu! Seguiu-se a conquista da Taça Intercontinental, que colocou literalmente o Borussia Dortmund no topo do Mundo. 

     
    Alfred Preißler, Alfred Kelbassa and Alfred Niepieklo

    A crise

    Depois da conquista da Europa e do Mundo, o Dortmund batia recordes de sponsorização, tornava-se o primeiro e único clube alemão cotado na bolsa de Frankfurt, o seu estádio vendia bilhetes como nenhum outro no país. O céu parecia ser o limite da «esquadra amarela». Mas Niebaum saiu, Sammer pendurou as botas, Paulo Sousa voltou para Itália, Hitzfeld deu lugar a Nevio Scala. Os problemas até aí impensáveis surgiam de todos os lados e o clube afundava-se lentamente, tanto desportiva como financeiramente. Afinal o gigante parecia ter pés de barro...

    Mas Sammer voltou para comandar a equipa do banco e o Dortmund conquistou novamente o campeonato de 2002, chegando nessa época à final da Taça UEFA, perdida para o Feyenoord em Roterdão (3x2).

    Novas apostas erradas e o falhanço na Champions em 2003, conduziram a uma crise financeira de tal monta que levou o próprio rival Bayern de Munique a emprestar 2 milhões de euros ao Dortmund, para saldar a sua folha de pagamentos.

    Contudo a situação não melhorou e em 2005, o fantasma da insolvência voltou a pairar em Dortmund. As acções cairam a pique e o clube viu-se forçado a fazer um corte de 20% nos salários, assim como vender o nome do Westfalenstadion, que assim se tornou no Signal Iduna Park.

    Regresso ao topo

    2008 foi o ano em que após muitas épocas o Dortmund voltou a sentir-se ameaçado com a descida de divisão. O clube acabaria em 13º lugar e como finalista vencido da Taça - conseguindo por esse meio qualificação para a UEFA - mas a direção insatisfeita resolveu despedir o treinador Thomas Doll e contratar Jürgen Klopp.

    Logo na primeira época ao leme do clube, Klopp conduziu o clube ao 6º lugar. Na segunda época subiu um degrau na classificação, falhando por pouco a qualificação para a Champions. Na época seguinte, a equipa de Klopp liderou desde cedo a tabela, superiorizando-se aos rivais e conquistando o título que já escapava há nove anos. 

    Em 2011/12 renovou o título, demonstrando estar novamente no topo do futebol germânico e ameaçando a conquista de um histórico «tri». Contudo, o rival Bayern não estava pelos ajustes e na época 2012/13, voltou a conquistar a Bundesliga, antes de bater o Dortmund na final da Champions em Wembley.

    Seria sempre essa a barreira mais difícil de ultrapassar no BVB moderno: transformar essa capacidade de desafiar o Bayern numa capacidade de superá-lo consistentemente. Voltaria a vencer os bávaros na Supertaça alemã de 2013, mas a queda foi notória e acabou por terminar em quarto lugar na Bundesliga, numa temporada que ficou marcada pelas inúmeras lesões a jogadores importantes. Cairia na final da Taça para se vingar na Supertaça da época seguinte, mas tudo o resto correu mal e o Dortmund acabou por passar o ano a namorar com a zona de despromoção.

    Foi assim que, após sete anos à frente da equipa, Jurgen Klopp anunciou a sua saída do clube em abril de 2015. Ainda foi a tempo de deixar boa imagem, com  conquista da DFB-Pokal e uma impressionante subida até ao sétimo posto, que valeu qualificação para a Liga Europa.

    O pós-Klopp

    O Borussia Dortmund de Thomas Tuchel começou de forma impressionante, com uma goleada de 4x0 sobre o Borussia Monchengladbach a iniciar uma séria de bons resultados para o emblema do Ruhr em 2015/16. Seria, no entanto, um ano amargo com a equipa a bater o recorde de pontos de um vice-campeão da Bundesliga, no mesmo ano em que foi eliminado nos quartos de final da Liga Europa nos descontos, pelo Liverpool de... Jurgen Klopp.

    2017 também não foi melhor, com uma explosão próxima ao autocarro da equipa a tornar-se no momento mais marcante do ano. Esse incidente, que culminou numa lesão para o defesa espanhol Marc Bartra, foi também apontado como causa para a derrota e consequente eliminação da Champions às mãos do Monaco.

    Nesse ano ainda venceu a DFB-Pokal, na quinta vez que chegou à final em seis anos, mas seria esse o último jogo de Thomas Tuchel no comando de um BVB que desde aí nunca teve tanta sorte ou consistência no capítulo dos treinadores. Peter Bosz começou com sete jogos gloriosos que bateram recorde atrás de recorde, mas o início fulgurante deu lugar a 20 jogos sem vencer e o neerlandês acabou despedido. Seguiu-se Stoger, interino, e depois Lucien Favre.

    Com o suíço as coisas também correram bem, com o título a ser disputado com o Bayern até à última jornada. O título ficou à distância de dois pontos e favre renovou, com a promessa de investimento. Foi nessa época, na janela de janeiro, que o clube garantiu a contratação de um dos jogadores mais apetecíveis no mercado a nível mundial: Erling Haaland, o prodígio norueguês, assinou pelo Dortmund e com ele trouxe os golos que caracterizavam o seu jogo em Salzburgo.

    Ficariam novamente em segundo lugar, nessa época que foi interrompida pelo impacto do Covid-19, e Favre não conseguiu voltar a somar os bons resultados até aí conseguidos. O suíço foi despedido após a 11ª jornada de 2020/21 e Terzic assumiu o posto de técnico interino, vencendo a Taça com um 4x1 frente ao RB Leipzig, antes de Marco Rose assinar para comandar a equipa a partir de 2021/22.

    Comentários

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    motivo:
    GO
    dortmund
    2014-04-10 10h59m por gotzereus89-
    echte liebe
    AL
    ETERNO DORTMUND
    2013-12-20 19h42m por alex69sandro
    FUTEBOL TOTAL

    FUTEBOL MAIS LINDO DE SEMPRE

    JURGEN KLOPP FICA NA HISTORIA