Quando Cristóvão Colombo viajou para as Américas pela segunda vez, à primeira ilha que aportou chamou La Deseada, por finalmente ter encontrado terra firme após tantos dias no mar. A Desejada tornar-se-ia com tempo em La Désirade, uma ilha pertencente a Guadalupe, um domínio francês nas Antilhas. Seria lá, nessas terras de praias de areia fina e mares de um azul translúcido, que em 1798 que nasceria o mais famoso de todos os seus filhos: Tybalt Rosembraise.
Filho de um francês fugido aos excessos da Revolução francesa e de uma escrava africana com sangue de índio, Tybalt era um aventureiro, um trotamundos que atravessou a sua era como um convicto diletante: revolucionário na Argentina, camponês nas Pampas, soldado no Uruguai, estudante em Coimbra, um dandy em Paris, pirata no Mediterrâneo ao serviço dos estados berberescos do Norte de África, pescador na Sibéria, contrabandista na China, viveu uma vida de liberdade incontida, sem prestar contas a ninguém nem à razão, para desaparecer em França nos idos de 1839...
Um príncipe no Mónaco, um Rei em Londres
Quase duzentos anos depois, Antoine, um natural da mesma La Désirade, casou-se com Marise também ela antilhana de nascimento, mas da Martinica e os dois tiveram um filho que nasceu em Les Ulis, um pequeno subúrbio no sudoeste de Paris, no dia 17 de agosto de 1977. Esse menino levaria no coração La Désirade pelos quatro cantos do mundo...
Após passar por diversas equipas de formação, tornou-se um príncipe no Mónaco, pela mão de Arsène Wenger, o seu mentor, seguiu por Itália, onde não se adaptou à Juventus, saltando para a velha Inglaterra, onde pela mão de Wenger se tornou Rei do Arsenal, com direito a estátua e tudo. Apostou então mudar-se para Barcelona, onde cedeu o papel principal a Messi, Xavi e Iniesta, feliz por ajudar o clube a conquistar o mundo, podendo finalmente chamar a si os troféus que a longa presença no Arsenal lhe havia negado...
Seguiu-se a passagem para o outro lado do mar, a reluzente América, vestindo a camisola dos New York Red Bulls, onde pode gozar o aproximar do fim da carreira. Com mais tempo e seguramente muitos mais dólares na carteira, Henry encantou a «Grande Maçã», ao mesmo tempo que podia acompanhar in loco a NBA, talvez a sua maior paixão...
A glória francesa
Aimé Jacquet, impressionado com a qualidade do jovem avançado, chamou-o para ser um dos 22 eleitos que participaram no mundial. Na estreia, em Marselha, apontou o terceiro e último golo da vitória por 3x0 sobre os sul-africanos. Seguiram-se dois golos contra os sauditas, jogo em que também foi titular. Voltaria a participar em mais quatro jogos, tanto como titular como suplente utilizado.
Lamentavelmente, só não seria utilizado na final, quando a expulsão de Desailly obrigou Jacquet a reequilibrar a equipa e a queimar a última substituição. Henry não jogou a grande final mas foi campeão do Mundo, sendo agraciado com o grau de cavaleiro da Légion d'honneur, pelo Presidente Jacques Chirac.
London calling
Há um antes e um depois de Londres na carreira de Henry. Se no principado do Mónaco tinha amadurecido as suas características, a passagem por Turim tinha-lhe deixado o amargo de boca, de não conseguir estar à altura das expectativas em sim depositadas.
Eleito para o onze da UEFA por cinco vezes entre 2001 e 2006 (só falhou 2005), Bota d'Ouro em 2003/04 e 2004/05, cinco vezes eleito o melhor jogador francês do ano, escolhido por Pelé para integrar o FIFA 100, a lista exclusiva dos 100 melhores jogadores de sempre no centenário da FIFA em 2004.
Coletivamente, conquistou o Euro 2000, onde marcou três golos, marcando presença em mais cinco grandes competições, voltando a brilhar em 2006, com três golos que ajudaram a França a chegar à final, perdida para a Itália nas grandes penalidades. Coincidência ou não, a verdade é que sempre que Henry apontou três golos numa grande competição internacional, a França chegou sempre à final...
Das Ramblas à 5ª Avenida
Após os oito anos passados em Highbury, que o transformaram num mito vivo do Arsenal, Henry surpreendeu o mundo quando foi anunciada a sua transferência para Barcelona em 2007. Abandonou Londres entre lágrimas e juras de amor eterno aos gunners,
Em 2014, encerrou a carreira, iniciando uma nova carreira - a de treinador. Em 2018, foi adjunto da Seleção da Bélgica que brilhou no Mundial da Rússia, atingindo a sua melhor classificação de sempre (3.º lugar) e pouco depois do torneio foi apresentado como novo treinador do clube onde emergiu futebolisticamente, o Mónaco.