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    Olympique Lyon

    Texto por João Pedro Silveira
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    Durante décadas o Olympique Lyonnais era tido como uma das mais respeitosas equipas de França, mas a míngua de títulos não o transformavam no poderoso clube que os seus fundadores e adeptos tinham sonhado.

    Seria preciso esperar pelo século XXI para o OL se tornar numa referência dentro e fora de portas, reescrevendo a história do futebol francês e tornando-se um crónico candidato à vitória em todas as competições que participe. 

    No cruzamento da Europa

    Lião está situada no que os franceses chamam de carrefour géographique, uma encruzilhada onde se encontram rotas que já existem desde o começo do povoamento humano na Europa. Habitada desde milénios foi capital dos gauleses e um das principais cidades romanas da Gália (Lugdunum). Situado em pleno vale do Ródano com o maciço central a ocidente e o maciço alpino a leste, a cidade de Lião ocupa uma posição estratégica na circulação norte-sul no continente.  

    Senhora de tal posição, Lião sempre esteve aberta a inovações que chegavam de longe, através de mercadores das mais diversas proveniências. Na segunda metade do século XIX eram os ingleses o veículo dessa modernidade.

    Entre as inovações que os britânicos introduziram em França (e no resto do Mundo) contavam-se os desportos que já há algum tempo se praticavam nos colégios e escolas da Velha Albion, como o râguebi e o futebol. O último dos quais foi conquistando o coração dos lioneses. 
     
    A cidade recebeu, muito provavelmente desconfiada a princípio, o jogo que os ingleses jogavam nos descampados junto ao Ródano. Mas rapidamente os franceses se juntaram aos grupos que perseguiam a bola e a chutavam.

    Do Racing ao LOU

    Seriam alguns desses pioneiros do «pontapé na bola» que em 1899 se juntaram ao Racing Club de Lyon, futuro Lyon Olympique Universitaire (LOU), um clube que nascera em 1896, fruto da fusão dos já existentes Racing Club de Vaise e Rugby Club de Lyon. 

    Já antes a cidade assistira a fundação de outros clubes que se dedicavam ao «beautiful game» como o FC Lyon, fundado em 1893, contudo o Racing seria o primeiro clube da região a qualificar-se para a fase final do Campeonato de França em 1906. Os lioneses encontraram o Olympique Marseille nos oitavos de final e empataram a duas bolas, recusando jogar um segundo jogo em Marselha, foram afastados da prova. 

    Durante as épocas seguintes seria o FC Lyon a vencer a prova regional e qualificar-se para a fase final do Campeonato, mas em 1910 o Racing volta a participar no Championnat, chegando aos quartos-de-final depois de eliminar o Besançon. 

    Em 1910 o Racing torna-se no LOU e é com essa denominação que evolui jogando no velho Stade des Iris, antes de se mudar para o novo Stade Gerland em 1926. 

    Amadores vs Profissionais

    O LOU ia dando cartas no râguebi e no futebol e seria pela mão de Félix Louot, que à época investiu a inacreditável soma de treze milhões de francos que o clube pôde inscrever-se na liga profissional em 1942, numa altura em que a França se encontrava debaixo da ocupação nazi. O país encontrava-se dividido entra a zona ocupada pelos alemães a norte e a suposta zona livre, o Governo de Vichy, a sul.

    O LOU seria campeão da zona sul em 1945, o último ano da guerra, enfrentando o Rouen na final, que os rouennais venceram por 4x0. Terminada a Segunda Guerra Mundial o clube disputa a primeira edição da Division 1 do pós guerra, mas acabar por ser despromovido para a D2 no fim da época.

    Durante os anos seguintes a divisão interna entre as secções de futebol e râguebi divide cada vez mais o clube. Os adeptos do râguebi que haviam ganho dois títulos nacionais para o clube na década de 30 exigiam que o clube apoiasse mais a secção, que era a com mais pergaminhos e resultados. A situação piorou em maio de 1950 quando a cisão se tornou inevitável. Os dirigentes do LOU resolveram apoiar mais a secção de râguebi e a ligação à Universidade. Félix Louot queria uma maior profissionalização e os dirigentes do râguebi defendiam a pureza do amadorismo.

    Entre 19 e 23 de maio diversos membros do clube reuniram-se em bares e gelatarias da cidade com a ideia de fundarem um novo clube. A 23 de maio no Café Neuf ficou decidida a cisão. A 27 de maio o clube era inscrito com o nome de Olympique de Lyon et du Rhone (1). Desse grupo de fundadores além de Louot faziam parte Trillat, Groslevin, Vitalis, Marceau, Maillet, Carrel e Daurensan.

    O LOU não se conformou com a cisão e refundou a secção de futebol do clube, mas os "futebolistas" levaram a melhor e a nova secção do LOU ficou impedida de se inscrever na FFF, sendo obrigada a esperar dois anos para se legalizar, estatuto que ainda hoje detém. 

    A era das Taças

    Oscar Heisserer foi o primeiro treinador do clube e o primeiro jogo seria contra o CA Paris-Charenton, com uma vitória clara por 3x0. A subida ao primeiro escalão chegou em 1951. Excluindo uma passagem pelo segundo escalão em 1953/54, o Championnat seria a casa do Olympique. 

    O primeiro grande momento do Lyon chegou em 1963 com a primeira presença na final da Taça de França. Em Paris, no Parc des Princes, o Olympique perdeu com o Monaco após jogo de desempate (2x0), mas como os monegascos venceram também o campeonato, o Olympique ganhou o direito a estrear-se nas competições europeias.

    Na edição da 1963/64 na Taça das Taças o clube ultrapassou o B1913 da Dinamarca, o Olympiacos e o Hamburgo, acabando por ser eliminado pelo Sporting nas meias-finais, mas só após jogo de desempate. Em 1964/65 seria outro clube português, o FC Porto, a eliminar o Lyon logo na primeira ronda.

    Contudo a época de 1963/64  terminara com a conquista da Taça de França, batendo o Bordéus (2x0) na final jogada em Colombes. Lucien Jasseron montou a equipa baseando-se na segurança do capitão Aimé Mignot e do colega de defesa Jean Djorkaeff, pai do futuro campeão do Mundo Youri. Na frente brilhava Fleury Di Nallo e a dupla argentina Angel Rambert e Néstor Combin. Combin seria o autor dos dois golos da vitória que permitiram a Mignot levantar o primeiro grande troféu do palmarés do clube. 

    Louis Hon seria o senhor que se seguiu  no Gerland e que guiaria a equipa à conquista da segunda Coupe de France em 1967, batendo o Sochaux na final por 3x1. 
     
    Depois de abandonar a carreira de futebolista Mignot avançou para o banco do seu clube de sempre e conduziu o Lyon à terceira taça em 1973, fechando assim uma década de resultados de destaque. 

    Em 1974 o Lyon chegou pela primeira vez ao pódio da Liga, terminando a época como vice-campeão, um ano mais tarde teria de se contentar com o terceiro lugar. Um 17.º lugar em 1976 foi o começo de um período com épocas em que o fantasma da despromoção rondou o Gerland. 

    Após algumas ameaças em épocas anteriores o Lyon acabou por ser despromovido no fim da época 1982/83, iniciando uma longa viagem pelo inferno da D2. 

    Le retour

    Seria Jean-Michel Aulas que iria resgatar o Lyon e devolve-lo ao «clube dos grandes». Aulas comprou o clube no verão de 1987 com objetivo declarado de transformar o Lyon num clube com presença habitual na Ligue 1. O seu ambicioso plano recebeu o nome de OL- Europe e apontava bem alto, a presenças constantes nas competições europeias para a médio prazo o clube começar a lutar por títulos.

    Raymond Domenech foi o primeiro treinador do projeto de Aulas. O futuro selecionador francês recebeu uma «carte blanche» da direção para contratar jogadores e a equipa foi cumprindo a primeira parte do que estava planeado até qualificar-se para a Taça UEFA em 1991/92 onde passou até à segunda eliminatória, sendo eliminado pelo Trabzonspor.

    Novo regresso à UEFA seria em 1995/96, encontrando novamente um clube português, o Farense. O enguiço português foi quebrado com duas vitórias por uma bola a zero e o OL seguiu em frente para eliminar a Lazio antes de cair às mãos do Nottingham Forest. 

    Jean Tigana substítuiu Domenech e o clube apostou ainda mais nas camadas jovens. O objetivo de tornar o Lyon num dos grandes de França aproximava-se. 
     
    Nos anos seguintes a lista de jogadores criados ou no Gerland tornou-se impressionante: Essien, Malouda, Govou, Juninho Pernambucano, cris, Éric Abidal, Mahamadou Diarra, Patrick Müller, Karim Benzema...
     
    A era do super Lyon
     
    O novo milénio trouxe um novo Lyon. Após anos de preparação, o assalto à liderança do futebol gaulês foi rápido e certeiro. Les Gones, os miúdos no dialeto local, tomaram de assalto a Liga Francesa na primeira década do novo milénio. 

    2001/02 termina com a conquista do primeiro título de campeão da sua história. Iniciando-se um período sem paralelo na história do futebol francês. Durante sete épocas o OL bateu a concorrência conquistando um até então inimaginável heptacampeonato. 

    Durante a década o clube conquistou duas Taças de França, uma Taça da Liga, seis Trophée des Champions (supertaça), além de seis presenças na Champions, com presenças destacadas na prova, chegando à meia-final da prova em 2009/10.

    Nunca como antes na sua história a Place des Terreaux fora palco de tanto festejo e com uma periodicidade exemplar. Ano após ano, legiões de gones enchiam a praça para celebrar mais uma conquista.
     
    ... e o fim da era
     
    Mas contudo, a era de grandes sucessos tinha que chegar ao fim, ou ser interrompida, como esperam os adeptos do OL. 2008/09 seria o ano em que o Lyon voltou a ser ultrapassado pela concorrência, perdendo o campeonato para o Bordeaux, ficando inclusive no terceiro lugar, atrás do outro Olympique, o de Marselha. 

    Curiosamente sem um OL forte a liga francesa parecia estar órfã de uma grande equipa. O Lyon seria segundo atrás do Marseille, depois ficaria em terceiro no ano em que o Lille ganhou o campeonato e em quinto quando o troféu foi para Montpellier.
     
    Chegou então o novo PSG com dinheiro do Qatar, lançando um novo domínio na competição o que obrigou o Lyon a repensar o investimento e a preparar-se para tentar recuperar a hegemonia de outros tempos, com a formação como base. Esta ascensão dos parisienses refletiu-se em apenas dois títulos dos gones: uma Taça de França (2011/12) e uma Supertaça francesa (2012).

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    (1) Rhône - Ródano. 

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    Estádio
    Stade de Gerland
    Lotação42000
    Medidas112x65
    Inauguração1920