Durante décadas o Olympique Lyonnais era tido como uma das mais respeitosas equipas de França, mas a míngua de títulos não o transformavam no poderoso clube que os seus fundadores e adeptos tinham sonhado.
Seria preciso esperar pelo século XXI para o OL se tornar numa referência dentro e fora de portas, reescrevendo a história do futebol francês e tornando-se um crónico candidato à vitória em todas as competições que participe.
No cruzamento da Europa
Lião está situada no que os franceses chamam de carrefour géographique, uma encruzilhada onde se encontram rotas que já existem desde o começo do povoamento humano na Europa. Habitada desde milénios foi capital dos gauleses e um das principais cidades romanas da Gália (Lugdunum). Situado em pleno vale do Ródano com o maciço central a ocidente e o maciço alpino a leste, a cidade de Lião ocupa uma posição estratégica na circulação norte-sul no continente.
O LOU ia dando cartas no râguebi e no futebol e seria pela mão de Félix Louot, que à época investiu a inacreditável soma de treze milhões de francos que o clube pôde inscrever-se na liga profissional em 1942, numa altura em que a França se encontrava debaixo da ocupação nazi. O país encontrava-se dividido entra a zona ocupada pelos alemães a norte e a suposta zona livre, o Governo de Vichy, a sul.
O LOU seria campeão da zona sul em 1945, o último ano da guerra, enfrentando o Rouen na final, que os rouennais venceram por 4x0. Terminada a Segunda Guerra Mundial o clube disputa a primeira edição da Division 1 do pós guerra, mas acabar por ser despromovido para a D2 no fim da época.
Durante os anos seguintes a divisão interna entre as secções de futebol e râguebi divide cada vez mais o clube. Os adeptos do râguebi que haviam ganho dois títulos nacionais para o clube na década de 30 exigiam que o clube apoiasse mais a secção, que era a com mais pergaminhos e resultados. A situação piorou em maio de 1950 quando a cisão se tornou inevitável. Os dirigentes do LOU resolveram apoiar mais a secção de râguebi e a ligação à Universidade. Félix Louot queria uma maior profissionalização e os dirigentes do râguebi defendiam a pureza do amadorismo.
Entre 19 e 23 de maio diversos membros do clube reuniram-se em bares e gelatarias da cidade com a ideia de fundarem um novo clube. A 23 de maio no Café Neuf ficou decidida a cisão. A 27 de maio o clube era inscrito com o nome de Olympique de Lyon et du Rhone (1). Desse grupo de fundadores além de Louot faziam parte Trillat, Groslevin, Vitalis, Marceau, Maillet, Carrel e Daurensan.
O LOU não se conformou com a cisão e refundou a secção de futebol do clube, mas os "futebolistas" levaram a melhor e a nova secção do LOU ficou impedida de se inscrever na FFF, sendo obrigada a esperar dois anos para se legalizar, estatuto que ainda hoje detém.
A era das Taças
O primeiro grande momento do Lyon chegou em 1963 com a primeira presença na final da Taça de França. Em Paris, no Parc des Princes, o Olympique perdeu com o Monaco após jogo de desempate (2x0), mas como os monegascos venceram também o campeonato, o Olympique ganhou o direito a estrear-se nas competições europeias.
Na edição da 1963/64 na Taça das Taças o clube ultrapassou o B1913 da Dinamarca, o Olympiacos e o Hamburgo, acabando por ser eliminado pelo Sporting nas meias-finais, mas só após jogo de desempate. Em 1964/65 seria outro clube português, o FC Porto, a eliminar o Lyon logo na primeira ronda.
Contudo a época de 1963/64 terminara com a conquista da Taça de França, batendo o Bordéus (2x0) na final jogada em Colombes. Lucien Jasseron montou a equipa baseando-se na segurança do capitão Aimé Mignot e do colega de defesa Jean Djorkaeff, pai do futuro campeão do Mundo Youri. Na frente brilhava Fleury Di Nallo e a dupla argentina Angel Rambert e Néstor Combin. Combin seria o autor dos dois golos da vitória que permitiram a Mignot levantar o primeiro grande troféu do palmarés do clube.
Em 1974 o Lyon chegou pela primeira vez ao pódio da Liga, terminando a época como vice-campeão, um ano mais tarde teria de se contentar com o terceiro lugar. Um 17.º lugar em 1976 foi o começo de um período com épocas em que o fantasma da despromoção rondou o Gerland.
Após algumas ameaças em épocas anteriores o Lyon acabou por ser despromovido no fim da época 1982/83, iniciando uma longa viagem pelo inferno da D2.
Le retour
Seria Jean-Michel Aulas que iria resgatar o Lyon e devolve-lo ao «clube dos grandes». Aulas comprou o clube no verão de 1987 com objetivo declarado de transformar o Lyon num clube com presença habitual na Ligue 1. O seu ambicioso plano recebeu o nome de OL- Europe e apontava bem alto, a presenças constantes nas competições europeias para a médio prazo o clube começar a lutar por títulos.
Raymond Domenech foi o primeiro treinador do projeto de Aulas. O futuro selecionador francês recebeu uma «carte blanche» da direção para contratar jogadores e a equipa foi cumprindo a primeira parte do que estava planeado até qualificar-se para a Taça UEFA em 1991/92 onde passou até à segunda eliminatória, sendo eliminado pelo Trabzonspor.
Novo regresso à UEFA seria em 1995/96, encontrando novamente um clube português, o Farense. O enguiço português foi quebrado com duas vitórias por uma bola a zero e o OL seguiu em frente para eliminar a Lazio antes de cair às mãos do Nottingham Forest.