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    Joseph Szabo: O Vanguardista Magiar

    Texto por João Pedro Silveira
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    As origens nas margens do Danúbio

    Joseph Szabo nasceu a 11 de maio de 1896 em Gönyü, uma pequena aldeia de pescadores nas margens do Danúbio, no noroeste da atual Hungria, mas que na altura pertencia ao Império Austro-Húngaro. Com quatro anos, mudou-se para a cidade industrial de Gyor, onde, ainda rapaz, se tornou torneiro mecânico, ao mesmo tempo que começava a jogar futebol na equipa da terra.
     
    Em 1914, iniciara-se a I Guerra Mundial e Szabo, como muitos jovens de então, corria o risco de ser chamado para combater nas trincheiras. Felizmente para o jovem, a contribuição de Szabo para o esforço de guerra foi trabalhar num fábrica de munições, em Budapeste, para onde se tinha mudado com 20 anos.
     
    Ao mesmo tempo que trabalhava, passou a defender as cores do Ferencvaros, um dos maiores clubes da capital magiar. Rapidamente, os seus dotes como médio chamaram a atenção dos olheiros da Federação, que o convocaram para defender as cores da seleção nacional da Hungria, um dos diversos países que tinham surgido dos "escombros" resultantes do fim da união dinástica entre a Áustria e a Hungria.
     
    No FC Porto, com passagem pela Madeira
     
    Já depois dos 30 anos, emigrou para a Ilha da Madeira, onde representou primeiro o Nacional e depois o Marítimo. A sua fama chegou ao continente e em 1930 foi contratado pelo FC Porto a troco de 500 escudos por mês para o papel de treinador-jogador, com quem conquistou a primeira edição da Liga Portuguesa.
     
    Os ecos dos seus feitos e do seu «toque de midas» chegaram a Lisboa e os dirigentes do FC Porto, alarmados com tal facto, não deixaram o treinador acompanhar a equipa nas viagens ao sul.
     
    Sempre à frente do seu tempo, efetuou um estágio com o Arsenal em Londres, mas as novidades metodológicas não foram bem recebidas pelos jogadores, que não gostavam muito da ideia de trabalhar a vertente física.
     
    Mudou-se para o Sporting... de Braga, onde a história o "acusa" de ser o responsável pela mudança de equipamento que levou os braguistas a passar a equipar como o Arsenal de Londres.
     
    Workaholic viciado em vitórias
     
    A seguir ao periodo na Cidade dos Arcebispos, transferiu-se para Lisboa, ajudando o Sporting a conquistar o seu primeiro Campeonato Nacional (1940/41). Seguiu-se uma Taça de Portugal e mais um Campeonato em 1943/44. Foi o primeiro treinador do clube a reivindicar prémios de jogo e durante o seu longo consulado de oito épocas conquistou seis Campeonatos de Lisboa, dois Campeonatos Nacionais, um Campeonato de Portugal e uma Taça de Portugal.
     
    A sua aura de homem muito exigente devia-se ao seu caráter disciplinador e extremamente rigoroso, hoje em dia por certo seria considerado um workaholic, viciado no trabalho
    A sua aura de homem muito exigente devia-se ao seu caráter disciplinador e extremamente rigoroso, hoje em dia por certo seria considerado um workaholic, viciado no trabalho. A verdade é que, com os seus métodos vanguardistas, conseguia quase sempre retirar o melhor dos seus pupilos, que gostavam muito dele, mesmo depois de Szabo ter instituindo a norma dos «dez por cento», uma multa destinada a quem chegava atrasado aos treinos.
     
    Implacável, não perdoava a quem traía a sua confiança e mantinha os jogadores constantemente debaixo de olho, restringindo o consumo de álcool, tabaco e a prática sexual. Dizia a todos que o queriam ouvir: "No futebol, o sucesso faz-se com 10 por cento de génio e 90 por cento de transpiração."
     
    O seu génio irascível causava incómodo entre os dirigentes leoninos e acabou por voltar a ser despedido, seguindo-se um período em que treinou de norte a sul, passando novamente pelo FC Porto e SC Braga, mas também por Faro, Viana, Olhão, Espinho, Famalicão, voltando a Lisboa para treinar o Oriental e o Atlético.
     
    José Coração de leão
     
    O amor ao país de adoção levou-o a finalmente pedir a naturalização, passando a assinar com o nome de José. Em 1953/54, voltou ao Lumiar para conduzir o seu Sporting ao tetracampeonato. Nos anos seguintes, treinou as camadas jovens dos leões e ainda fez parte da equipa técnica na época de 1964/65, nunca dizendo não ao clube de que tanto gostava. Acabou a carreira como selecionador de Angola em 1966.
     
    Seria precisamente na então colonia portuguesa que, durante a guerra colonial, um filho seu perderia a vida. Já anos antes, Szabo vira o seu outro rapaz ficar para sempre condenado a uma cadeira de rodas, depois de um brutal acidente de viação. 
     
    Ficou a viver no Lar do Sporting em Alvalade, vivendo os últimos dias perto do amor da sua vida, no estádio de futebol do clube do seu coração.
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    Fotografias(2)

    Joseph Szabo
    Joseph Szabo (HUN)

    Comentários

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    motivo:
    Szabo no Infesta
    2021-03-20 11h43m por jfilipefdias
    Segundo informações que estou a recolher no clube que represento e que fazem menção nas actas, Szabo treinava as equipas de honra (atualmente seniores) e reservas do FC Infesta, às quartas-feiras, desde outubro de 1935 até ao final da época, para melhor preparação dos atletas, num acordo entre o Infesta e o FC Porto. Não sei se querem mencionar isso na história, até porque foi assim que o Infesta alcançou o seu primeiro troféu oficial, o campeonato de Matosinhos em 1936/37.
    Szabo
    2014-06-02 18h24m por ricardosantospinto
    Só uma rectificação: ele saiu do FC do Porto na primeira metade da época 1935/36 e não em 1937. E saiu porque os jogadores se recusaram a cumprir as suas ordens de irem correr para a estrada. Não conheço qualquer menção relativa a uma suposta agressão a um dirigente.
    Em 1937, o treinador do FC do Porto era Janos Biri, antigo guarda-redes do Boavista que mais tarde veio a ser treinador do Benfica durante vários anos. Biri já não dirigiu a referida Final contra o Belenenses, pois cer...ler comentário completo »
    Agradecimento
    hm por zerozero.pt
    Muito obrigado pelas indicações. Embora haja informações contraditórias em diversas fontes, Szabo terá saído do FC Porto em fevereiro de 1936. Existe uma fonte que refere um episódio de uma agressão a um dirigente do clube, mas a data deste evento referida nessa fonte não é verosímil, o que descredibiliza a informação.
    Quanto a Janos Biri, temos muito pouca informação relativamente à sua passagem pelo FC Porto: apenas uma fonte consultada o refere e tanto o ´Almanaque do FC Porto´, como ´O século do Dragão´, como ainda a ´Bíblia do FC Porto´ o omitem.
    Em todo o caso procedemos às alterações necessárias no texto e reforçamos os nossos agradecimentos.
    MA
    Interessante. . .
    2013-05-11 13h43m por MaxMartins
    Faltou indicar no seu currículo, a passagem pelo Caldas Sport Clube na década de 50 do séc. 20. . .
    Ao tempo eu estudava nas Caldas da Rainha e o Caldas militava na 1ª divisão. . .

    Os treinos eram interessantes e a linguagem usada pelo "velho" Szabo era muito vernaculizada. . .

    Ao que se dizia, na sua aprendizagem do português os "malandros" dos jogadores ensinaram toda a espécie de palavrões ao Szabo. . .

    Um dos mais vulgares na sua ling...ler comentário completo »
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