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    Rui Costa: O Maestro

    Texto por João Pedro Silveira
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    Três dos quatro evangelhos que completam o Novo Testamento, contam o episódio onde os fariseus perguntam a Jesus se seria lícito para um judeu pagar impostos a César. Jesus, olhando uma moeda com a esfinge do imperador romano, proferiu a famosa sentença: «Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus... »
     
    O Benfica que pode dizer que já teve um Jesus e um Espírito Santo nos seus quadros, e que a esmagadora maioria dos benfiquistas pode jurar que já teve um Deus do futebol encarnado, de seu nome Eusébio da Silva Ferreira, também pode afirmar que teve o seu César, a quem todos os devotos da causa da águia devem muito mais que uma simples moeda com a sua esfinge. Falamos de um César, de seu nome completo Rui Manuel César Costa, lisboeta de nascimento, símbolo maior das águias, «o camisola dez», o «Maestro».
     
     
    Olhando para as 178 vezes que vestiu a camisola do Benfica, os 29 golos apontados de águia ao peito e os dois troféus conquistados na Luz, talvez poucos consigam perceber a dimensão 
    Lealdade ao clube
     
    Os números talvez não consigam explicar o amor mútuo entre o Benfica - e os benfiquistas - e o médio. Olhando para as 178 vezes que vestiu a camisola do clube, os 29 golos que apontou de águia ao peito e aos dois troféus conquistados na Luz, talvez poucos consigam perceber a dimensão que o «camisola dez» tem na história recente do clube e o lugar de que é dono e senhor no coração dos adeptos. 
     
    Mas essa história de amor começou muito antes, quando Rui Costa deu uma nega a Sousa Cintra, que entretanto levara Pacheco e Paulo Sousa, e quase João Vieira Pinto para Alvalade. O Benfica vivia momentos complicados, com o consulado de Jorge de Brito a revelar uma crise para os lados da Luz sem precedentes na sua história. 
     
    A resistência de Rui Costa - e o regresso de João Vieira Pinto, após abortada a transferência - deram alento ao Benfica para uma época, em que a glória ficou reservada para uma tarde de chuva no velhinho José Alvalade
     
    João Vieira Pinto pagou com juros as ofensas que Cintra proferira e o Benfica conquistou o título, estando longe de imaginar que começava aí o mais longo jejum da sua história.
    Três dos quatro evangelhos que completam o Novo Testamento contam o episódio onde os fariseus perguntam a Jesus se seria lícito para um judeu pagar impostos a César. Jesus, olhando para uma moeda com a esfinge do imperador romano, proferiu a famosa sentença: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus... »
     
    O Benfica pode dizer que já teve um Jesus e um Espírito Santo nos seus quadros e a esmagadora maioria dos benfiquistas pode jurar que já teve um Deus do futebol encarnado, de seu nome Eusébio da Silva Ferreira. O emblema da Luz também pode afirmar que teve o seu César, a quem todos os devotos da causa da águia devem muito mais que uma simples moeda com a sua esfinge.
     
    Falamos de um César, de seu nome completo Rui Manuel César Costa, lisboeta de nascimento, símbolo maior das águias, «o camisola dez», o «Maestro».
     
    Lealdade ao clube
     
    Os números talvez não consigam explicar o amor mútuo entre o Benfica - e os benfiquistas - e o médio. Olhando para as 178 vezes que vestiu a camisola do clube, os 29 golos que apontou de águia ao peito e aos dois troféus conquistados na Luz, talvez poucos consigam perceber a dimensão que o «camisola dez» tem na história recente do clube e o lugar de que é dono e senhor no coração dos adeptos. 
     
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    Mas essa história de amor começou muito antes, quando Rui Costa deu uma «nega» a Sousa Cintra, que entretanto levara Pacheco e Paulo Sousa, e quase João Vieira Pinto para Alvalade. O Benfica vivia momentos complicados, com o consulado de Jorge de Brito a revelar uma crise para os lados da Luz sem precedentes na sua história. 
     
    A resistência de Rui Costa e o 'regresso' de João Vieira Pinto, após uma transferência abortada, deram alento ao Benfica para uma época, em que a glória ficou reservada para uma tarde de chuva no velhinho José Alvalade
    João Vieira Pinto pagou com juros as ofensas que Sousa Cintra proferira e o Benfica conquistou o título, estando longe de imaginar que começava aí o mais longo jejum da sua história.

    Amor desmedido

    Rui Costa não foi utilizado por Toni, nesse célebre 3x6, mas fez parte da primeira levada de emigrantes de luxo portugueses que rumaram a Itália nesse verão. Mesmo sem Portugal estar presente no Mundial dos Estados Unidos, era a «geração dourada» que conquistara Riade e Lisboa que avançava para o Calcio.

    Portugueses e brasileiros aguardam a «lotaria dos penáltis» na final de Lisboa em 1991.
    Rui Costa, mas também Paulo Sousa e Fernando Couto, deram início a uma transformação no futebol português, que até aí, sempre tivera grandes dificuldades em exportar os seus melhores valores.

    Entre o Mundial de 1994 e o Euro 96, onde Portugal já marcou presença, outros se juntaram ao trio, com óbvio destaque para Luís Figo e Vítor Baía. 

    Príncipe em Florença

    Entretanto, na «Cidade dos Médici», Rui Costa formava uma parceria de sucesso com o argentino Gabriel Batistuta. Mas se é verdade que o encontro dessa dupla estava certamente escrito nas estrelas, não deixa de ser verdade que o destino mais provável de Rui Costa, era o FC Barcelona, de Johan Cruyff.

    Na Cidade dos Médici, Rui Costa


    Os dirigentes do Benfica, já com Manuel Damásio na presidência, convenceram Rui Costa a aceitar a proposta da Fiorentina, mais vantajosa para os cofres «encarnados». Para trás ficava o sonho blaugrana do médio, contudo nas margens do Arno, Rui Costa encontraria um segundo amor.

    Na Toscânia, o seu futebol perfumado e as assistências para Batigol, tornaram-no no novo Príncipe do clube e da cidade, numa homenagem a fazer recordar o «monumento» de Nicolau Maquiavel, escrito e publicado na mesma cidade. Adorado pelos viola tornou-se um herói do clube e das suas gentes.

    Sete anos a encantar as bancadas do Artemio Franchi com a camisola viola e, de permeio, uma visita a Lisboa que selou definitivamente o amor com a massa associativa benfiquista. Num jogo de apresentação da nova época, marcou um golo à sua equipa e desfez-se em lágrimas. O seu choro correu mundo e calou fundo na alma benfiquista. Rui Costa era o filho pródigo que um dia era preciso fazer voltar a casa...

    Maestro em Milão

    Com a crise a chegar a Florença, Rui Costa aproveitou para «fugir» para o AC Milan. Há anos que o clube milanês namorava o médio, mas o internacional português fora fiel ao clube viola, mesmo ciente que as limitações do clube o impediam de atingir voos mais altos e as tão desejadas conquistas.

    O amor à Fiorentina falou sempre mais alto, até que os dirigentes florentinos perceberam que não podiam impedir que a sua estrela se juntasse aos rossoneri.

    Em Milão, em mais uma noite de dérbi.
    Duas Taças e uma supertaça era o pecúlio que contava quando chegou a San Siro. No clube de Berlusconi, jogando ao lado de Paolo Maldini, Andrea Pirlo, Andriy Shevchenko, Filippo Inzaghi e Clarence Seedorf, ganhou cinco troféus, o mais importante deles uma Liga dos Campeões. 

    «Il maestro» vestiu a camisola «dez» de um clube mítico. Reverenciado pelos adeptos e elogiado pela crítica, estava finalmente a jogar num clube que lhe permitia conquistar qualquer troféu. 

    O Desejado 

    Em Lisboa, há muito que se suspirava pelo regresso do filho pródigo. As constantes passagens por Portugal, para defender a camisola das quinas, as entrevistas na imprensa em que fazia juras de amor ao clube da Luz, tudo ajudava a reforçar a ideia de que o regresso era desejado por ambas as partes.

    A oportunidade de resgata-lo a Itália estava na cabeça e no discurso dos diversos presidentes que passaram pela Luz: Manuel Damásio, que o vendeu, e Vale e Azevedo, que o acenou como bandeira de campanha, mas também Manuel Vilarinho e, por fim, Luís Filipe Vieira, o que finalmente encontrou uma janela de oportunidade, quando se tornou óbvio que Rui Costa perdera o papel no Milan, que então se rendia ao génio de Kaká.

    Insatisfeito, o «Maestro» aceitou o repto dos encarnados e uma redução do salário para vestir a sua camisola de sempre. O regresso a casa confirmava-se, os títulos contudo voltaram a escapar...

    De Lisboa a Berlim

    Ao longo da sua carreira teve muitos momentos de destaque na seleção, começando novo a brilhar com a camisola das quinas, ainda nos escalões mais jovens, pela mão do «Projeto Queiroz». Apesar de ter falhado a presença no Mundial de Sub-17 na Escócia (1989), já era uma peça fundamental na equipa lusa no Mundial de 1991 de Sub-20, que se disputou em Portugal.

    Nas meias-finais, na Luz, apontou um golo de outro Mundo, que eliminou a Austrália. Na final, novamente na Luz, marcou a grande penalidade decisiva que deu o bicampeonato aos portugueses. Pouco depois, já jogava na equipa A, onde se estreou pela mão de Carlos Queiroz, num jogo contra a Suíça, a contar para a qualificação para Mundial de 1994.

    O regresso à Luz para o final da carreira, o cumprir do sonho.
    Com António Oliveira tornou-se incontornável, marcando o primeiro golo na Irlanda do Norte, na campanha que culminou com a qualificação nacional para o Euro 96, a primeira de Portugal em 10 anos. Seria também ele a abrir o marcador no último jogo da qualificação, novamente na Luz, o estádio talismã, com um pontapé portentoso que correu mundo e deitou abaixo a resistência irlandesa.

    Em Inglaterra, Portugal foi eliminado por culpa do chapéu de Karel Poborsky, as expectativas caíram por terra, mas a «Geração d´Ouro» prometeu voltar a uma grande competição em breve. A qualificação para o Mundial de França, em 1998, acabou por marcar o momento mais negro da carreira de Rui Costa. Em Berlim, frente à Alemanha, Portugal vencia por 0x1 com um golo de Pedro Barbosa e dava um passo decisivo rumo ao Mundial, quando Artur Jorge resolve substituir Rui Costa. Este caminha lentamente para ser substituído e o francês Marc Batta puxa do cartão amarelo, o segundo para o médio português, que assim é expulso e, incrédulo, sai do campo em lágrimas, enquanto assiste ao empate de Ulf Kirsten e ao fim do sonho lusitano...

    Holanda e Coreia

    Recuperados da desilusão, os portugueses qualificaram-se para o Euro 2000, onde Rui Costa foi, juntamente com Nuno Gomes, Figo e João Vieira Pinto, um dos grandes destaques da prova. Portugal venceu o «grupo da morte» só com vitórias e vingou-se da Alemanha com um claro 3x0.

    A tristeza chegaria com a eliminação nas meias-finais, culpa da mão de Abel Xavier e da superior conversão de Zinedine Zidane. Seguiu-se o Mundial da Coreia e Japão, onde Portugal chegou como um dos favoritos, caíndo com estrondo num grupo com Estados Unidos, Coreia do Sul e Polónia. 

    Rui Costa foi suplente e não se coibiu de protestar contra a titularidade do amigo João Vieira Pinto. Oliveira manteve a aposta no «Menino d´Ouro» e o ambiente azedou na Seleção. Portugal voltou para casa cedo e Rui Costa marcara um golo, na goleada sobre os polacos.

    A chegada de Deco

    Tal como no Milan, também na Seleção a estrela de Rui Costa começava a empalidecer. Aos poucoss, Luiz Filipe Scolari apostava no portista Deco e Rui Costa começava a ver o seu lugar posto em causa na seleção. 

    Euro 2004: Festeja o segundo golo contra os ingleses nos quartos-de-final.
    No jogo de abertura do Euro 2004, no Dragão, Rui Costa ainda foi titular, mas a derrota com os gregos e a pressão de adeptos e imprensa levou Scolari a apostar no «20». 

    O então milanês nunca mais voltaria a ser titular na Seleção. Entrou no jogo contra a Rússia e marcou o segundo golo. Foi fundamental no jogo com os ingleses, entrando perto do fim, mas ainda a tempo de apontar o segundo golo, já no prolongamento. Um golo capaz de levantar um Estádio, novamente na Luz. Portugal venceu nos penáltis, já sem as luvas de Ricardo e a festa continuou nas meias-finais em Alvalade.

    A 4 de Julho, a «tragédia grega»

    Na véspera da grande final, Rui Costa, que não jogara contra a Espanha e a Holanda, temendo a possibilidade de não jogar a grande final, deixa cair a bomba numa conferência de imprensa, anunciando que abandonava a Seleção depois da final, deixando Scolari com a «batata quente» na mão. 

    O «Sargentão» não cede e a titularidade vai para Deco. Portugal volta a não se dar com o jogo dos gregos e sofre um golo aos 57 minutos. Rui Costa sai logo do banco para o lugar de Costinha, mas Portugal não marca e perde a final em casa. A Luz talismã, transformava-se no palco do maior pesadelo da historia do futebol nacional, Rui Costa abandonava a seleção com uma medalha de prata ao peito...

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    Comentários

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    motivo:
    UL
    Rui Costa
    2016-03-08 17h02m por ultras_gens
    A par de Eusébio, o melhor jogador a vestir a 10 da seleção e a 10 do melhor clube português, o SL Benfica.
    Qual Deco qual quê. . . o melhor médio ofensivo de sempre a jogar na seleção é o "maestro" Rui Costa.
    amor á camisola
    2015-02-07 10h40m por chicomax
    Apesar da qualidade geral poder descer, o campeonato devia ter um limite de estrangeiros, e um limite minimo para jogadores formados no clubes, é nessesário criar de novo "O AMOR Á CAMISOLA". um jogador a jogar pelo seu clube de coração ou formação tem qualquer coisa de especial. . . . . . .
    tirando o Maxi Pereira, mais um ou outro, são poucos os que jogam com coração. como o Rui Costa há poucos.
    KI
    Ruizão!!!
    2015-01-27 19h00m por KikoKikes
    nmrp, concordo contigo mas penso que superou o Zidade! :)
    ES
    Um senhor
    2014-08-20 02h27m por esponja
    Grande jogador. Um gosto vê-lo jogar.
    Que falta fazes. . .
    NM
    10 rui costa
    2014-03-29 19h46m por nmrp
    Parabéns maestro e obrigado por tudo que deste (e das) ao slb e à seleção nacional.

    Um dos melhores 10 da sua geração apenas superado por zidane.
    RM
    Parabéns Rui!
    2014-03-29 18h02m por RM7_PT
    Comunidade portuguesa de futebol:

    www. contra-ataque . com/forum