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    Euro 1996
    À volta do jogo

    Jogar, casar e jogar: Os dias loucos de Smicer

    Texto por João Pedro Silveira
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    A história de uma grande surpresa

    Presente pela primeira vez como nação independente numa fase final de uma grande competição, a República Checa, fruto da partição da Checoslováquia, chegara a Inglaterra (Europeu 1996) como patinho feio da prova, colocada no grupo C com alemães, italianos e russos. Aos checos augurava-se uma curta estadia em terras de Sua Majestade...
     
    Haveria, entre os checos, muitos que acreditavam naquela equipa repleta de jovens promissores como Pavel Nedvěd, Patrik Berger ou Karel Poborský, mas Vladimir Smicer não seria por certo o mais otimista, já que marcara a data do seu casamento para sexta-feira - 28 de junho -, apenas dois dias antes da grande final de Wembley.
     
    Herói e culpado...
     
    A verdade é que Smicer teve um papel fundamental no desenlace da história ao apontar o golo que deu o 3x3 contra a Rússia, a dois minutos do fim da partida, que garantiu o duelo frente a Portugal, em Birmingham, evitando assim um regresso prematuro a casa...
     
    Vladimir e Pavlina dando o nó em Praga a 28 de junho de 1996
    O jogador terá abordado Pavlina com o tato possível, tentando saber se ainda seria possível adiar o casamento por uns dias. Pavlina apresentou a Smicer a possibilidade de adiar o casamento para sempre...
     
    Os trabalhos de Smicer
     
    A verdade é que Smicer tinha passado as passas do Algarve - ou do seu equivalente checo - para conseguir convencer o seu sogro, Ladislav Vizek, a ultrapassar as reservas que tinha em relação ao casamento da sua adorada Pavlina com Vladimir.
     
    Vizek, ex-campeão pelo Dukla de Praga, internacional checoslovaco e campeão olímpico nos Jogos de Moscovo (1980), exigia que Smicer, para ter a honra de ser seu genro, jogasse pela seleção do país - o que aconteceu pela primeira vez em 1993 - e que fosse campeão nacional, o que também aconteceu em 1996 com a camisola do Slavia de Praga. Uma vez cumpridos os requisitos, os dois pombinhos podiam casar-se e foi com a data marcada para o «nó» que Smicer partiu com os colegas para Inglaterra, enquanto Pavlina ultimava os detalhes do grande dia...
     
    Smicer em "maus-lençóis"
     
    Nos quartos, as culpas foram todas para Poborský que, com um chapéu a Baía, colocou os portugueses fora da prova e marcou encontro com a favorita França nas meias-finais.
     
    Smicer, anos mais tarde, já com a camisola do Liverpool
    Smicer começou a ver a sua vida a andar para trás e perguntou ao treinador Dusan Uhrin se teria autorização para se deslocar a Praga e casar-se caso a República Checa eliminasse a França. O treinador foi claro: «Se vocês passarem à final podem fazer tudo o que quiserem».
     
    Tocam os sinos...
     
    Dito e feito. Na quarta-feira seguinte, em Old Trafford, Manchester, a França caiu após desempate por grandes penalidades e Smicer foi a correr fazer as malas. No dia seguinte voou para Praga e sexta estava a casar-se na Praça Central da cidade imortalizada por Kafka, de onde, após a festa, partiu com a sua esposa Pavlina em direção a Londres
     
    Não há pormenores da noite de núpcias, mas o certo é que Smicer treinou no sábado bem cedo e participou no grande jogo, saindo do banco perto do final do tempo regulamentar, algo que se revelou insuficiente para vencer a Alemanha que se tornou Campeã da Europa com o primeiro golo dourado da história da autoria de Oliver Bierhoff.
     
    Mas esse já é um capítulo de uma outra história... Para a nossa história ficou o final feliz entre Pavlina e Vladimir e a prova que o amor tem lugar no futebol.

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