Ser futebolista profissional, fazer o que mais se gosta, ganhar muito dinheiro e ter fama. Um sonho que muitos tentam e poucos conseguem. Mesmo assim, entre os que conseguem, nem todos ficarão ricos: uns porque ganham pouco, outros porque gastam muito. Têm dificuldade em gerir a carreira, a fama, as finanças, as companhias e os investimentos.
Ao longo dos anos, todos fomos conhecendo casos de craques que nunca chegaram a ser tudo o que podiam ou a ter tudo o que lhes prometeram. Lembramo-nos facilmente de alguns craques que vimos jogar e que se tornam notícia pelos piores motivos. A maioria, após uns momentos de fama e algum dinheiro, cai no esquecimento e na dura realidade da vida de um cidadão comum: “O futebol é uma bolha e, saindo dessa bolha, as coisas não são iguais”.
A frase é de um futebolista português consciente de que este problema está por todo o lado e destrói vidas. Tarantini, futebolista com mais de 400 jogos como profissional, atualmente um dos capitães do Rio Ave, continua em grande nível dentro de campo, como um dos jogadores mais influentes da equipa, e também fora dele: não satisfeito com duas Licenciaturas, completou no ano passado um Mestrado em Ciências do Desporto. Fruto da sua experiência fora de campo, tornou este problema numa causa.
Tal como todos os futebolistas, treina quase todos os dias, tem viagens, estágios e jogos. Além disto, a família. Mas mesmo assim, não deixou passar isto em claro e tem um objetivo: despertar uma geração de desportistas.
Para que a sua causa se suporte em dados concretos, impulsionou um estudo cujas conclusões devem fazer pensar todos os que seguem o seu sonho de forma obsessiva, desmedida e descontextualizada. Estes dados têm sido partilhados na imprensa e em palestras junto de escolas e clubes:
Apesar de tudo isto, e ao contrário do que se possa pensar, Tarantini não defende que os jovens devem abdicar do sonho de serem jogadores de futebol. Pelo contrário, menciona a palavra “acreditar” é vezes sem conta com um sentido positivo, mas realista: “Acreditem, mas tenham um plano B”.
A probabilidade de um jovem futebolista tornar-se profissional é reduzida e, mesmo que se concretize, irá durar pouco e dificilmente lhe permitirá ficar independente financeiramente para o resto da vida. Aos 31 anos, quando a maioria das pessoas está no início da sua vida profissional, um futebolista já está a terminar a sua. E depois, o que se segue? Como irá viver os 40 anos seguintes?
Conhecendo a sua causa, convidei-o recentemente para partilhar a sua experiência numa sessão com uma equipa de futebol de formação, onde abordasse o seu percurso, as dificuldades que superou, as lições que foi aprendendo e a causa que defende.
Desde o início se mostrou disponível e de fácil trato. Treinou de manhã e deu uma outra palestra à tarde. Mesmo assim, chegou pontualmente e com um sorriso. Foi claro na mensagem, respondeu a todas as perguntas, disponibilizou-se para as fotografias e deixou bem vincadas algumas ideias:
Sonhar com os pés no chão, mudar mentalidades e criar uma cultura de compatibilização escola-desporto são tarefas demasiado grandes para um homem só. Por isso, todos nós, os que direta ou indiretamente fazemos do futebol uma parte importante da nossa vida, temos essa responsabilidade repartida, porque nem todos os jovens futebolistas serão profissionais mas todos serão adultos, homens e mulheres parte da sociedade.
Tarantini conseguiu deixar uma semente em todos os que o escutaram. O que cada um fará com essa semente só os próprios saberão, mas despertar uma geração de desportistas é também uma boa causa para todos nós.