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    Visão de jogo
    Pedro Silva
    2017/04/03
    E2
    Espaço de análise da actualidade desportiva, onde o comportamento, a emoção e a razão têm lugar privilegiado. Uma visão diferente sobre o jogo, para que o jogo seja diferente.

    Muito se esperou pelo clássico, um jogo de grande expectativa e interesse mediático em todos os meios de comunicação. Semanas antes faziam-se contas a lesionados que poderiam regressar. Dias antes, antecipavam-se disponíveis, convocados e titulares. No dia, com diretos e horas a fio de emissão, no hotel e na caminhada, na chegada das equipas e das claques. Os habituais problemas, as bolas de golfe, as garrafas, as agressões e os atrasos. Infelizmente, tudo normal.

    O jogo gerou nos clubes a habitual agitação. Afinal de contas, é um clássico! Há relações tensas entre os clubes, ou seja, entre os seus dirigentes e, além disso, uma espécie de "guerra" latente entre as áreas de comunicação dos clubes. Um comunicado aqui e uma declaração ali, uma notícia de edição interna agora e uma entrevista cirúrgica no canal do clube depois.

    Apesar de tudo isto, acredito que os principais intervenientes no jogo, os jogadores, os treinadores e a equipa de arbitragem, passaram ao lado de grande parte deste ruído. As conferências de imprensa de antevisão foram um bom prenúncio, porque apesar de terem dito o que se esperava, o tom de ambos foi tranquilo e positivo. Os jogadores entraram na medida da expectativa, sentindo o peso do jogo sem se deixar constringir pelo ambiente que os rodeava, disputando cada bola com a importância devida.

    Não foi um jogo de mão cheia mas pelos dedos de uma mão se contam os cinco fatores decisivos que empataram o jogo:

    Entrada das equipas no jogo - vantagem imediata para o Benfica. Entrou claramente por cima, criou mais perigo, ganhou mais primeiras e segundas bolas, verticalizou bem o jogo e o penálti conquistado perto dos cinco minutos confirmou este domínio. O que restou de primeira parte foi do FC Porto, a tentar correr atrás do prejuízo, sem ser muito acutilante. Mas terminou melhor do que começou. Na segunda parte, o inverso: entra claramente melhor o FC Porto e consuma esse domínio em golo, após insistências. Com o golo, a equipa melhora os índices de confiança e tem nos pés de Soares, aos 59 minutos, uma oportunidade de ouro que é desperdiçada. O Benfica acalmou o ritmo do jogo, guardou a bola, atacou e terminou melhor do que começou. Empate.

    Surpresas táticas - havia dúvidas sobre a escolha do FC Porto, nomeadamente no que dizia respeito à escolha por apenas um ou dois avançados. Foi apenas um, Soares, com André Silva no banco e uma troca entre ambos na segunda parte. Em função disto, três jogadores no meio-campo. Mais segurança no meio para dar mais liberdade às incursões de Bahimi e explorar a profundidade com Soares. No Benfica, a estrutura habitual com a meia-surpresa de Rafa jogar de início. Partindo desta base, em particular na primeira parte, a produção ofensiva do Benfica deveu-se à capacidade de Jonas, Salvio e Rafa aparecerem entre a linha defensiva e a linha média do FC Porto, recebendo e virando-se, de forma rápida e perigosa, criando situações de superioridade e finalização. Na segunda parte, o jogo foi menos tático e técnico, assumindo-se mais a dimensão física - com alguns jogadores a quebrarem de ambos os lados - e emocional, perante o triplo cenário de qualquer um, ou nenhum dos dois, poder ganhar. O meio-campo do FC Porto foi ganhando mais bolas, procurando largura e isso ajudou a equilibrar. Empate.

    Bolas paradas - algumas oportunidades para ambos os lados mas sem proveito. Ainda na primeira parte, Luisão e Brahimi tiveram oportunidades e na segunda Mitroglou teve nos pés a possibilidade de pôr a equipa da casa em vantagem, como tão bem sabe fazer e como tão importante isso tem sido para o Benfica. A falta de eficácia de que falava Rui Vitória, assenta em parte nas bolas paradas, uma vez que as teve, mas não conseguiu concretizar. Do lado do FC Porto, faltou criar perigo suficiente que levasse o Benfica a fazer faltas em zonas perigosas. Foram poucas. Empate.

    Guarda-redes - grande classe, nível elevadíssimo da parte de Ederson e de Casillas, duas exibições muito consistentes. Cada um procurou a vitória no que lhe competia. Ederson teve o seu momento alto na saída perfeita aos pés de Soares; Casillas segurou o jogo para o FC Porto nas intervenções a Jonas e Mitroglou; Ambos aumentaram o interesse do jogo e diminuíram os números do resultado. Empate.

    Homens do golo - Outro dos interesses do jogo, face ao impacto que o momento de confiança e inspiração dos avançados representa nestes jogos, que ficou aquém da expectativa. Jonas cumpriu no penálti e esteve pouco focado no golo, preferindo outros fait-divers. Mitroglou esteve igual a si mesmo mas falhou uma oportunidade claríssima. Soares esteve sempre apagado e não conseguiu marcar na única ocasião de que dispôs. André Silva entrou mal no jogo e numa fase ascendente do Benfica. Clássico pobre no que diz respeito a matadores. Empate, portanto.

    Foi uma mão cheia de nada que deixou tudo na mesma. O empate serve ambos: O Benfica porque mantém a liderança e o FC Porto porque continua confortável. Agora, olham ambos para o que falta e fazem contas à vida. É certo que o Benfica depende só de si, e também é certo que o FC Porto depende de si, do Benfica e do Sporting. 



    Comentários

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    motivo:
    nada
    2017-04-03 16h31m por Ma3str0
    Este artigo é uma mão cheia de nada.
    . . .
    2017-04-03 14h30m por antoniocarvalho
    Dizer que o FCP depende de si, do Benfica e do Sporting é dar importância a mais ao Sporting; é dar um nome a algo que é inominável; pode argumentar que é a equipa que teoricamente tem mais condições de impedir os 3 pontos do Benfica nos jogos até final, mas não deixa de ser claramente subestimar as restantes equipas que vão jogar contra o Benfica até ao final do campeonato. Não sei se é sportinguista ou não, mas se o for, não se dê a essa importância, porque não a tem.

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