Já aqui escrevi sobre a pressão e a emoção, pois são dois fatores facilitadores ou inibidores, de acordo com a forma como cada um a perceciona em função do contexto, isto é, num determinado momento, perante um certo adversário e que culmina na obtenção de um resultado. Ou seja, contextos e resultados, como se lida com eles.
Os contextos vencedores, assentes nos valores humanos e desportivos que levam à superação, são muito difíceis de criar, demoram anos a consolidar, a serem reconhecidos e a dar resultados. Exigem tempo e, algo que hoje pouco existe, paciência. No futebol, ainda mais.
Procuram-se atalhos para obter resultados e, só depois, criar contextos. O Prof. Manuel Sérgio, com o seu olhar atento, sintetiza o que se passa: “Ninguém ganha porque tem valor, tem valor porque ganha.”
Fazem-se balanços a meio da época e reuniões após os jogos. Quando não se ganha, há que encontrar os responsáveis e os motivos. Se dispensam os responsáveis, não aprofundam os motivos. Mantendo-se os responsáveis, investigam-se os motivos. Mas rápido, não há tempo a perder. Olha-se então para os resultados e não percebem o que Saramago refere no Ensaio sobre a Cegueira: “Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara.” Normalmente, faz-se aquilo a que se costuma chamar “dar uma vista de olhos”.
A Psicologia chama a este processo Atribuição Causal, isto é, a interpretação das pessoas para justificar os acontecimentos e encontrar as suas causas. Este processo, pode ter três grandes prismas:
Locus de domínio – Pode ser interno ou externo, existindo uma tentação para associar-se os sucessos a fatores internos como a motivação ou a experiência, e os insucessos a fatores externos como a arbitragem ou a competência do adversário.
Estabilidade – Refere-se à probabilidade de se manterem ou perdurarem os fatores de sucesso ou insucesso. Conhecendo-se algumas das causas, procura-se perceber se elas se irão manter, como por exemplo o nível exigido numa nova competição, ou alterar, como sejam as condições atmosféricas.
Controlabilidade – Diz respeito à possibilidade de serem previstas e confirmadas algumas alterações, pela mão dos próprios, sejam elas internas ou externas, estáveis ou momentâneas. Por exemplo, é controlável o nível de agressividade face a um árbitro mais rigoroso, mas é difícil controlar a possibilidade de uma lesão muscular.
Olhar para os resultados e ver além dos números, saber encontrar nos factos os comportamentos que o causaram, é da maior dificuldade. Requer conhecimento, experiência e sentido crítico. São poucos os agentes desportivos que se debruçam profundamente para analisar os resultados, encontrar responsáveis e motivos, estando dispostos a reformular contextos.
Em Portugal, despedem-se treinadores e criticam-se árbitros. Muito se olha, pouco se repara. Quem ganha com sorte diz que foi eficaz. Uma "pontinha" de sorte, a chamada "estrelinha" ou o "estofo de campeão". Quem perde, diz que foi azar. Ou infelicidade, para ser mais subtil...
Ninguém gosta de encarar a cebola que está a descascar.