A pergunta podia ter sido feita, como foi, mas também teríamos passado bem sem ela. «O Benfica pode ser campeão europeu este ano?» Rui Vitória, coitado, lá se deu à resposta e enumerou uma lista de aspetos que, na sua visão, são fundamentais para se chegar lá: sorte, grandeza do clube e capacidade financeira. Três pilares em torno dos quais gravitam outros tantos vértices fulcrais.
A pergunta e a resposta existiram, logicamente, antes do jogo de Dortmund. O Benfica até estava em vantagem na eliminatória e a tamanha felicidade que lhe assistiu no encontro de Lisboa terá levado alguns a embriagar-se de otimismo. «Benfica campeão europeu... Será?». Não, não será; e não será esta época, porque saiu da Alemanha eliminado, nem a médio - longo? - prazo.
O que resulta da eliminatória com o Borussia Dortmund é, infelizmente, uma constatação dolorosa, mas real: a melhor equipa portuguesa da atualidade (porque é tricampeã e lidera o campeonato) não é mais do que um intérprete de terceiro nível no panorama internacional. A supremacia evidente do Borussia Dortmund confirmou o que já tinha sido claro frente ao Nápoles: o Benfica não tem «pedalada» para a segunda linha europeia.
Posto isto, ousar falar em Benfica campeão europeu (ou FC Porto, que cabe tanto aqui como as águias) num prazo de tempo mais ou menos imediato é, desculpem-me o termo, uma anedota; é a construção de uma realidade que não existe, porque não há um mas sim dois mundos de diferença entre aquilo que o futebol português vale em comparação com a elite europeia.
Recuando ao discurso de Rui Vitória, destaco duas ideias: «É preciso manter os melhores jogadores durante algum tempo» e «a visão o Benfica tem-na.» Pois bem, não creio que tenha, sinceramente. Se a tivesse, mantinha, de facto, os jogadores mais tempo, e nem estou a falar dos melhores, estou a falar daqueles que forma. Se tivesse essa visão não vendia à primeira investida os diamantes do futuro.
Bernardo Silva, Renato Sanches ou Gonçalo Guedes; João Cancelo e André Gomes. Nenhum está na Luz, mas podiam estar. Saíram, todos eles, embriões promissores antes de florescerem completamente de águia ao peito. O Benfica não conseguiu ou não quis apostar na vertente desportiva, optando por vendas milionárias. É uma estratégia - uma necessidade, compreendo. Mas que depois não se fale em visão europeia...