Dérbis! Virtudes, defeitos, qualidades – tudo posto a nu. Pitons no ar, sangue nas caneleiras, cheiro a bifanas misturado com pólvora vinda dos irredutíveis tiffosi! Jornada de futebol em estado puro, basculação gourmet com redução de contragolpe entrelinhas! Isto é bola!
Soltem a emoção! No primeiro dérbi da jornada, o Vitória defrontou o vizinho Moreirense num jogo que ainda não contou com Ary Papel. Fica o lamento. Fica também a menção da derrota dos cónegos e também uma palavrinha: karma. Obrigado. #freearypapel
No Bessa, duelo da Invicta modo vintage. Soares pinta a pantera de azul; Talocha evoca o espírito errante de Petit, Litos e Ávalos em doce momento de carícia axadrezada nas extremidades adversárias. Eternamente presas no purgatório, as almas desta santíssima Trindade do cacete sorriem de coração cheio, perante Espírito Santo a procurar aplicar os cinco mandamentos na testa de uma ex-divindade das balizas.
António Coimbra da Mota, Estoril, distrito de Lisboa. Dérbi de dinâmica metropolitana, qualidade técnica de cariz rural. Após vitória leonina, salta à vista a reunião de Kléber e Licá no mesmo plantel. Problemas no balneário? A História ensina-nos que, por norma, grandes egos colidem e tornam ambientes saudáveis em atmosferas tóxicas e irrespiráveis. Vide Lennon vs McCartney, Batatinha vs Companhia ou D. Afonso Henriques vs Mãe. Por algum motivo a editora discográfica Espacial (beijo, Ágata! #comunhaodebens) nunca tentou reunir Nel Monteiro e Toy numa super-banda. A verdade é que o Estoril-Praia leva magros 5 (CINCO) pontos nos últimos 11 (ONZE) jogos. Coincidências? Nah.
A vinte quilómetros de distância, o Sport Lisboa e Benfica “empurrou” mais um problema pelas Kostas e deitou as ambições do Desportivo de Chaves ao tapete verde. Os valentes trasmontanos lutaram com galhardia, mas sofreram com as ausências de N’Tsunda, Toniño e Vítor Vieira. Melhores dias virão.
Em busca de melhores dias andam também os bracarenses, que viajaram até Setúbal para testemunhar o duelo entre Alan e Edinho. Os dois idosos foram munidos de um par de mantinhas quentes e um transístor de pilhas. Uma vez confortavelmente instalados nas suas cadeiras desdobráveis, disputaram uma acesa suecada enquanto comparavam mazelas e se revezavam na afirmação de que “antigamente é que havia respeito”. Edinho chegou mesmo a manifestar repetidamente a necessidade de um Salazar em cada esquina.
A suecada terminou pelas cinco da tarde, após Alan ter adormecido pela quarta vez e Edinho ter decidido que já se fazia tarde, rumando então a casa para jantar uma sopinha quente.
Maurides, por outro lado, é um gajo que não gosta de sopinhas quentes. Ele gosta é de baldes de água fria, que foi o que despejou sem apelo nem agravo nas carecas dos infelizes sentados na bancada do Municipal de Arouca. E na do Prof. Neca também. Não esquecer o Prof Neca.
Para finalizar, uma parcimoniosa notinha: tudo somado, as equipas de Rio Ave, Paços, Nacional e Feirense disputaram 360 minutos de futebol, tendo utilizado para o propósito 56 futebolistas. O saldo foi assim ligeiramente para o parco: zero golitos. * #zerozero *
Assalta-me, portanto, uma questão: se uma alma abençoada decidisse juntar 56 quadros do menino da lágrima, os dividisse em igual número por dois campos de futebol, atirasse uma bola para dentro de cada um e deixasse passar 90 minutos… o resultado teria sido diferente? Ou será que um menino da lágrima (ou até mesmo o vento) teria arranjado forma de enfiar o esférico na baliza? Outra dúvida: será que é sequer possível reunir 56 quadros do menino da lágrima?! Caso seja, de que raio estamos à espera?
Tantas questões e tão pouco tempo.